Loredano levantou-se cedo no domingo em que todos aqueles acontecimentos se desenvolveram. Ele aguardou Bento Simões e Rui Soeiro, seus dois comparsas, na mata. Logo que os dois chegaram começaram a caminhar... O italiano ia à frente silenciosamente... Não demorou e os dois se sentiram incomodados.
Soeiro e Simões quiseram saber para onde estavam sendo levados e com qual finalidade... Como não obtinham resposta do chefe se resignaram, mas em determinado momento pararam e demonstraram interesse em desistir de acompanhá-lo... O italiano se irritou e disse que também ele poderia retornar, mas para apresentar denúncia contra eles. Essa conversa resultou em agressão, pois Rui Soeiro fez referência ao punhal que carregava como instrumento eficiente para silenciá-lo. Bento Simões concordou que também poderia se dispor a assassinar o lacônico italiano ali mesmo.
Mas Loredano sorriu de modo enigmático. Disse que os dois não teriam o que ganhar ao matá-lo. Contou que tinha um segredo, e que havia tomado providências para colocá-los em má situação... Soeiro e Simões quiseram ouvi-lo antes que cometessem uma desgraça (que podia ser contra eles mesmos)... O italiano deixou claro que, mesmo morto, traria muitos problemas para eles, que estavam envolvidos em sua trama até os ossos.
Ele explicou que havia deixado o seu testamento com d. Mariz. O documento só deveria ser aberto e lido após a sua morte. Contou que no papel estavam apresentadas as relações entre ele e os dois aventureiros. Deixou claro que a sua morte ou sumiço traria transtornos imediatos para Soeiro e Simões... Soeiro não acreditou no que ouviu, mas curvou-se ante os desafios de Loredano, que o incentivou a “colocar à prova” o que duvidava. Foi para “tranquilizá-los” que o italiano jurou dizer toda a verdade...
O papel que Loredano havia passado para d. Mariz continha a “maquinação infernal” que ele tramou contra o patrão e sua família. O plano consistia no assassinato de d. Antônio e de dona Lauriana, além do incêndio à casa e outros intentos que envolviam a pequena Cecília, que há muito ele desejava... A pobre Isabel, de acordo com o diabólico plano, seria sorteada entre os dois comparsas. O papel não era qualquer coisa de improvisado... Tratava-se de documento selado com cera preta pelo mestre Garcia Ferreira (que a nota esclarece ter sido oficial tabelião no Rio de Janeiro a partir de 15 de fevereiro de 1588).

Loredano deu a entender que já fazia algum tempo que não visitava o lugar, mesmo assim depositou a mão certeira em um buraco de antigo e abandonado formigueiro... Dali retirou uma botija de vinho... Isso reanimou seus comparsas, que se animaram com a surpresa etílica. Enquanto se refestelavam com a bebida, Loredano procurava provar que tinha razão em levá-los à inusitada condição... Atraiu-os com a conversa de que ficariam muito ricos e, assim, principiou a tratar de negócios.
É claro que os dois aventureiros tinham interesse na conclusão daquele assunto. Loredano disse que havia algo escondido ali. Mas antes de revelar do que se tratava, contou a respeito de Robério Dias, que havia oferecido a Felipe II, primeiro rei espanhol da União Ibérica, “o segredo de uma região de várias minas de prata, descoberta por ele nos sertões de Jacobina, província da Bahia”... O italiano revelou que Robério Dias queria em troca o título de marquês, mas não foi atendido em sua proposta... A notícia dessas minas correu por toda a colônia, despertando a cobiça de aventureiros como o italiano, mas muitos se desanimavam porque Robério Dias morreu “pobre e desgraçado” sem nunca ter revelado os seus segredos...
Na próxima postagem veremos o que Loredano tinha a revelar aos dois aventureiros.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-soeiro-e.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto