quinta-feira, 22 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Peri explica as lutas de seu povo contra os colonos portugueses e trata da imagem da “senhora dos brancos” que avistou na “casa da cruz” da vila que os goitacá destruíram; torna-se fiel seguidor e escravo de Nossa Senhora; d. Mariz salvou a mãe de Peri de complicada situação em situação anterior, que envolvia aventureiros portugueses; o índio entendia que Cecília era a “senhora” de suas visões; recebe uma clavina de d. Mariz; os dois se tornam amigos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-o-descanso.html antes de ler esta postagem:

O guerreiro, porém, não correspondeu a nenhuma das adulações de seu povo... Contou a d. Antônio que na “casa da cruz” (referia-se à capela da vila dos colonos) havia visto a “senhora dos brancos”, “alva como a filha da lua”, “bela como a garça do rio”. Evidentemente referia-se a uma imagem de Nossa Senhora... E prosseguiu dizendo que à noite a “senhora dos brancos” apareceu-lhe em sonho... Disse que ela parecia triste e que teria lhe dito que entre os guerreiros ele era livre, mas era um escravo dela e que, assim sendo, deveria segui-la “por toda a parte como a estrela grande segue o dia”...
As aparições da “senhora dos brancos” continuaram para Peri por muito tempo ainda... Ele revelou para d. Mariz que a via sobre uma nuvem que não tocava a terra... Disse que se entristecia porque não conseguia chegar até ela... Sua angústia aumentou porque, com o passar dos dias, a imagem deixou de visitá-lo.
Mas Peri não se esquecia da visão... Em sua narrativa, a passagem do tempo é “traduzida” por expressões do tipo “era o tempo das árvores de ouro”; “a lua tinha voltado ao seu arco vermelho”; ”o cajueiro quando perde a sua folha...”; “as árvores ficaram verdes”; “os passarinhos fizeram seus ninhos”; “o sabiá cantou”...
Foi assim que chegou novo tempo de guerras contra os brancos... Os guerreiros goitacá chegaram ao “grande rio” e ali apanharam peixes... Peri permanecia encantado e tudo lhe dizia respeito à “senhora dos brancos”: O gavião que voava; o vento que soprava; a sombra... Imaginava que tudo isso teria condições de se aproximar da senhora para contemplá-la...
Certo dia a mãe de Peri disse-lhe que um guerreiro branco acompanhado da virgem “senhora dos brancos” a havia salvado... Então Peri decidiu partir para se tornar amigo do guerreiro branco e, em retribuição, se tornaria escravo da filha da senhora... Ele explicou que, tendo tomado essa decisão, aproximou-se da grande casa, viu que a virgem branca estava ali, e não mais flutuava na nuvem... Em sua ingenuidade acreditava que Cecília fosse a “senhora que desceu do céu”... Ele entendia que a lua era a mãe dela. A lua deveria ter permitido sua descida à terra firme.
Peri explicou que ele, sendo filho do sol, a acompanharia desde então... Explicou que não podia deixar de vigiá-la e zelar por sua segurança... Isso explica a sua solícita intervenção no episódio da pedra que quase a vitimou... Ele esclareceu que se a senhora fosse atingida, ficaria triste e retornaria para o céu...
Ele reconhecia que sua mãe ainda estava viva porque “sua senhora” a havia salvado... Como vemos, o índio é apresentado como se fosse dotado da mais pueril infantilidade... Durante sua narrativa manifestou alguns arroubos de orgulho selvagem pela força e coragem descritas... Isso “dava certa nobreza ao seu gesto”... Alencar destaca que, “embora ignorante, filho das florestas”, Peri tratava-se de “um rei” que tinha a “realeza da força”... Depois que terminou de falar voltou a se postar manso e humilde perante o senhor branco.
D. Mariz o ouviu atentamente ao mesmo tempo em que procurava traduzir para Cecília o “discurso”... Ela entendeu que a índia que o pai havia salvado das mãos de aventureiros (e que ela mesma “enchera de presentes e de velórios azuis e escarlates”) era, na verdade, a mãe de Peri.
(...)
Então a conjunção dos acontecimentos levou Peri a venerar a filha de d. Mariz, a quem considerava celestial... E para quem ele deveria devotar a própria vida...
D. Antônio explicou que estava tão agradecido que devia convidar o amigo para a ceia... Peri aceitou e recebeu do anfitrião a clavina em que se verificava o brasão do fidalgo. Ele aceitou de bom grado porque entendeu que aquele fosse o desejo da pequena Cecília... Depois, à mesa, “não tocou em um só manjar”, embora d. Antônio prosseguisse tecendo elogios ao convidado que havia demonstrado heroísmo e dedicação àqueles que sequer conhecia...
Satisfeito em ter conhecido o índio, d. Mariz ofereceu-lhe ainda uma taça de vinho das Canárias para que brindassem o encontro. Peri admitiu, e disse que era em honra ao “pai da senhora” que salvou a sua mãe, e porque reconhecia no fidalgo um guerreiro, que celebrava e bebia.
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

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