De repente, o cavalheiro afastou a “arma de guerra” e disse que Loredano era um miserável, “indigno de morrer à mão de um homem”... Arrematou dizendo que o destino de tipos como ele deviam ser o “pelourinho e o carrasco”.
O bandido não se importou com o que ouviu... Abriu os olhos acreditando que teria uma nova e inesperada chance... Ouviu Álvaro falar que ele devia jurar que deixaria a casa de d. Mariz e nunca mais voltar a ela... Mas era apenas isso? Loredano jurou imediatamente! O rapaz tirou seu colar do qual pendia “a cruz vermelha de Cristo” para que o juramento fosse sacramentado... Depois Álvaro exigiu que o bandido se retirasse dali... É claro que ele não pestanejou...
Álvaro desarmou a sua clavina e pediu que Peri o acompanhasse.
(...)
Precisamos saber que no momento em que Peri estivera a
ouvir os macabros planos dos três malfeitores, convenceu-se de que deveria
matá-los... Mas sabia que não haveria possibilidade de sair vivo de tão
desigual luta... Assim, receou pelo destino de sua senhora, pois ela se
tornaria indefesa... Desejou possuir mais vidas para prosseguir indefinidamente
ao seu lado...
Depois que despertou a atenção dos criminosos com o seu “traidores!”,
Peri afastou-se da cerca de cardos e lavou sua túnica de algodão no rio porque
não queria demonstrar que estava ferido (da flechada no ombro).
Ele havia decidido que não trataria sobre o que sabia
acerca de Loredano e seus comparsas com ninguém, nem mesmo com d. Mariz. Em
primeiro lugar porque não teria como sustentar através de provas uma acusação
daquele tipo, além disso, sua palavra de índio seria confrontada com a dos
aventureiros brancos... Por isso receou... Mas também considerou que ele
sozinho, em segredo, poderia eliminar os três trastes. Um problema que se
avolumava em suas preocupações era o da necessidade de matar os três homens num
momento único, pois havia o perigo de, caso de algum deles sobrevivesse à sua
ação, os planos de traição engendrados serem antecipados...
O índio devia seguir para avisar d. Mariz a respeito dos ataques dos
aimoré, mas a direção que tomava foi completamente alterada depois de notar a
movimentação de Simões e Soeiro e, mais adiante, a de Loredano apontando a arma
contra Álvaro... Peri viu que o amigo estava de costas para o criminoso... Então
sua ação foi muito rápida, já que num instante brevíssimo correu em direção à
cena, desviou a pontaria de Loredano e o
subjugou.
Naquele momento considerou que poderia eliminar o italiano e aguardar Soeiro
e Simões, que também poderiam ser mortos a facadas... Depois seguiria ao
casarão para comunicar d. Mariz a respeito da traição daqueles tipos e o
justiçamento que lhes impusera.
(...)
Nada do que se passava pela cabeça de Peri podia ser calculado por
Álvaro... Para este, a intervenção de Peri se dera simplesmente para impedir
que o italiano o assassinasse covardemente... Ele considerou que o juramento do
bandido bastasse para que tudo se resolvesse a contento... O moço agia de
acordo com os mesmos princípios cavalheirescos de d. Mariz, herdados de
antepassados barões portugueses que lutaram ao lado do Mestre de Avis nos
tempos da Batalha de Aljubarrota (de 1385, quando os portugueses conseguiram
livrar-se do domínio castelhano e se iniciou a Dinastia de Avis).
De certa forma, a palavra de Álvaro não podia
ser contrariada... Peri não entendia essa lógica, mas percebeu que sua intenção
de matar o bandido Loredano esbarrava na decisão do cavalheiro em liberá-lo
para que desaparecesse da região... Além disso, contrariar Álvaro, de acordo
com o raciocínio de Peri, poderia tornar a sua senhora entristecida. É por isso
que Peri não questionou a decisão do rapaz, recolheu a sua lâmina e o
acompanhou no caminho do casarão.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-alvaro.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto