sexta-feira, 24 de agosto de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Final do pesado dia de Henri; conversa e bebe (ainda mais) com Julien; sentindo-se perdido, colocar L’Espoir a serviço de Dubreuilh seria uma saída?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_18.html antes de ler esta postagem:

Ao final do encontro com Nadine, Henri ficou bem chateado... A conversa que tiveram não foi amigável e nada de interessante ocorreu. A moça foi embora e ele esvaziou o seu copo. Mais uma vez via-se refletindo sobre suas opções desde a libertação... Tudo o que imaginou (militância no SRL; dirigir L’Espoir; permanecer escrevendo com prazer...) não se concretizava de modo harmônico... Por quê? Era o que queria saber.
Agora que estava só poderia pedir papéis ao garçom e escrever, mas não se sentia em condições. Pensou no que Nadine havia dito, “esquisita ocupação”... Talvez tivesse razão. Tanta coisa ocorrendo, e como escrever sobre histórias irreais? Quando a guerra estava para estourar no final da década anterior era assim que procediam... Por que não proceder da mesma forma? Os russos saqueavam Berlim...
Saiu do café e já não sentia a cidade como antes... Seu estado de espírito tornava tudo inexpressivo... Paris não era mais a “cidade luz”. Estava com o texto de Peulevey... Tão moço e tanto a escrever... Ele mesmo não conseguia “desenroscar” o seu livro... Que gosto tinha a sua vida? Nenhum, sua vida era insossa... Sua ideia de escrever sobre as “doçuras da paz”, que lhe ocorreu na noite de Natal estava mais longe do que imaginava... Agora sentia que a primavera nada lhe oferecia... Nem mesmo o corpo de Nadine.
Talvez pudesse “seguir a linha de seu partido”, assim se engajaria em tarefas com algum sentido de ser. Passando pelo Bar Rouge, viu Julien bebendo solitariamente... Entrou para conversar. O amigo disse-lhe que houve pancadaria no ambiente depois que um tipo chamou Pétain de “o marechal”... Sem entrar em maiores detalhes, ofereceu scoth do legítimo... Henri aceitou sem pestanejar... Bebeu grande quantidade e seguiu desabafando que, depois de um dia cheio, um “restaurador” caía bem... Julien quis saber do caderno que Henri carregava. Ao saber que era um romance de um jovem rapaz, opinou que o melhor que o moço poderia fazer era deixar as folhas para que alguma criança se divertisse... Talvez tornar-se bibliotecário, como ele próprio... Desabafou que os colaboracionistas (que venderam manteiga ou canhões aos alemães) eram perdoados, mas os que escreveram podiam ser fuzilados...
Julien ergueu o copo... Fez um brinde ao massacre que os soviéticos realizavam em Berlim... Henri descartou a conversa, pois àquela altura estava farto de temas políticos... Julien disse que também os bêbados só falam em reerguer a França, e que por ali as moças também só se envolviam em agitações, nada de prazer... Então convidou-o a seguir para Montparnasse, onde havia moças encantadoras... Henri não topou, estava cansado, e ouviu um “você também não é engraçado”... Julien retirou-se do bar para seguir o seu caminho.
Mais uma vez Henri ficou só e pensou que além de não ser engraçado também se tornara azedo... O pós-guerra deveria ser engraçado? “Paris destruída”... “Todos morreram”... Henri também “não estaria morto”? Desanimava-se ainda mais... Isso “não atrapalha quando se renuncia a fingir de vivo”... Sem escrever não se vive...
Então a saída era agir, e isso em equipe... Servir, “obedecer Dubreuilh, sorrir a Samazelle... Telefonaria: “O jornal é de vocês”... Decidiu tomar mais um  conhaque.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/09/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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