De certa forma, Álvaro se favoreceu do engajamento dos selvagens aimoré em sua festa que antecedia a execução do prisioneiro... O rapaz avistou Peri e o velho cacique pronto para descer a tangapema sobre a cabeça da vítima... Então “levou a clavina ao rosto” e disparou a bala que atravessou o crânio do algoz.
A ação dos aventureiros estava resultando em perfeita... Mas faltava a colaboração de Peri. Álvaro notou que ele permanecia imóvel, então lhe disse que devia segui-los. O outro respondeu que não iria... Enquanto os demais se debatiam contra os agressivos aimoré, Álvaro seguia tentando convencer o goitacá... O rapaz apelou para a sensibilidade de Peri e falou-lhe que era Cecília quem o chamava. Mas o índio insistiu em permanecer e respondeu que sua senhora devia saber que a missão dele era morrer para salvá-la... E completou advertindo que Álvaro precisava se retirar imediatamente.
É claro que o rapaz não entendia a determinação de Peri, que se mantinha inabalável e tranquilo... Peri explicou que não obedecia a mais ninguém... Nesse momento um dos guerreiros inimigos disparou uma flecha certeira contra ele... Seria o seu fim se a filha do cacique não se intrometesse colocando-se à frente do projétil... A pobre menina, numa última prova de amor por Peri, caiu trespassada pela seta... Ele apiedou-se ao ante o sacrifício daquela que tanto havia desprezado.
Álvaro se desesperou porque, além de não conseguir convencer Peri, via seus homens no limite da resistência contra os inimigos. Então exigiu uma decisão explicando que havia “jurado a Cecília que o levaria a salvo e que, se isso não fosse possível, todos morreriam nas mãos dos selvagens”.
Ainda assim o goitacá se mostrou irredutível... Ele respondeu que o rapaz devia fazer o que bem entendesse. Então, num último recurso, Álvaro disparou que os que estavam com ele em combate ali eram os últimos defensores de d. Mariz e de Cecília... Se eles fossem mortos, o sacrifício de Peri de nada adiantaria... Essa última afirmação esclarecia que o fracasso da missão de Álvaro resultaria no fim de sua senhora e, por isso, Peri estremeceu...
(...)
No casarão todos ouviam os disparos dos arcabuzes e
esperavam ansiosamente o desfecho do embate... Algum tempo se passou... Então
ouviram a voz de Peri que chegava... Ao ficar frente a frente com Cecília, ele
desabou de joelhos aos seus pés pedindo perdão. Ao mesmo tempo, d. Mariz o advertia
sobre o perigo desnecessário a que ele expusera os que o amavam.
Peri explicou que sua intenção não era outra a não ser salvar a todos...
Mas isso não era compreendido por ninguém... O fidalgo exigiu explicações.
(...)
No momento em que Peri iniciou sua narrativa, Álvaro entrou na sala com
alguns ferimentos. Ele foi recebido por Cecília que estava muito agradecida por
sua dedicação e desprendimento no salvamento de seu querido amigo... Isabel o
olhou apaixonadamente, ela estava aliviada por seu retorno...
(...)
Todos se agruparam ao redor de Peri... Ao seu modo ele explicou que
quando Ararê (seu pai) estava para morrer disse-lhe que sua carne e sangue eram
também as do grande chefe goitacá. Sendo assim, o corpo de Peri não deveria “servir
ao banquete do inimigo”. Ararê deu-lhe as contas de frutos cheios de veneno, e
elas deviam acompanhá-lo durante toda a sua existência. A orientação que
recebera do pai era, no caso de tornar-se prisioneiro, quebrar um dos frutos,
pois isso faria o inimigo desprezar a sua carne...
Peri seguiu explicando que “a herança de Ararê
podia salvar a todos”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-o-curare-e.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto