segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – para Henri, os escritos de Robert apenas mostram que a literatura “tem algum sentido”, e isso é muito pouco; seu desencanto literário relaciona-se à consideração de que suas “historiazinhas pessoais” pouco contribuem para a necessária alteração da realidade; Dubreuilh não concorda com o amigo; o exemplo “das pequenas luzes refletidas na água”; discussão em torno da “literatura propagandística de direita”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Perron quis saber das conclusões a que Dubreuilh havia chegado com o seu esforço ao escrever sobre cultura e a condição do intelectual... Foi com ironia que ele mesmo completou que os questionamentos do amigo serviam para indicar que “a literatura conserva um sentido”...
Robert percebeu o desprezo de Henri, mas não deixou de adverti-lo sobre a sua desistência literária e garantiu que não entendia por que ele havia abandonado o seu projeto... Sobre isso, Perron garantiu que o amigo tinha a sua parcela de culpa, pois ele havia feito a “apologia da ação”, e isso o levou a “perder o gosto da literatura”... Disse isso e pediu mais meia garrafa de cerveja ao garçom.
O assunto rendeu. Robert quis explicações... Henri disse que suas “historiazinhas” ou o seu pensamento pouco interessariam ao povo, que nada teria a ganhar com a publicação de um romance com esse tipo de registro... O moço garantiu que “a grande história não é assunto de romance”.
Robert ouviu as explicações de Perron e as rebateu, dizendo que todos possuem “historiazinhas” que não importam a ninguém... Mas argumentou que aqueles que “sabem contá-las” não devem abrir mão disso porque, escrevendo-as, contribuem para que os demais se enxerguem nelas... Assim, a literatura que Henri desprezava devia ser do interesse de todos.
Henri garantiu que pensava daquela maneira ao iniciar o seu livro. Mas desanimava-se com o fato de a experiência pessoal ser marcada (predominantemente) por “erros e miragens”. Disse isso enquanto bebericava e observava dois velhos que jogavam gamão na “paz que reinava no café”...
Como Robert insistia em entender a sua opinião, Henri deu o exemplo da sensação agradável que temos ao contemplar a beleza das pequenas luzes refletidas na água numa noite aprazível... A visão é bonita e nos contentamos com ela... Mas ao reconhecermos que aquelas são luzes que iluminam os bairros carentes, onde pessoas morrem de fome, a poesia se perde...
Henri levou em consideração que Robert poderia argumentar que isso não devia ser motivo para abandonar o livro, já que poderia escrever sobre os que morrem de fome... Então concluiu dizendo que essa temática ele dissertava em seus artigos para o jornal, ou discursava em um meeting.
Dubreuilh respondeu que as citadas luzes “brilham para todos”... Concordou que todos devem ter possibilidades de se alimentar... Mas acrescentou que a sobrevivência deve ter “enlevo”... Então não se pode simplesmente tirar das pessoas as “pequenas coisas” que a literatura tem condições de retratar.
Robert quis finalizar dizendo que se o procedimento a se adotar fosse com base nas conclusões pessimistas de Henri, sequer viajariam... Pois as paisagens seriam vistas (apenas) como ilusões que escondem as mais variadas injustiças... Henri disse que o momento que viviam demandava registros mais importantes...
Dubreuilh se irritou e desabafou dizendo que, daquela forma, a esquerda se condenaria a uma “literatura de propaganda”... O outro se defendeu dizendo que não se sentia afetado pela tendência aludida.
Para Robert Dubreuilh, Henri deveria demonstrar disposição para “outra coisa” (referia-se à produção literária)... Garantiu que o melhor para ele era “manter-se ocupado”. Referindo-se mais uma vez às “pequenas luzes” do exemplo utilizado por Henri, ele falou que é claro que não se pode chegar a elas apartando-se completamente de seus significados... Isso equivaleria a agir como os salafrários... Então sugeriu que Henri Perron encontrasse um modo de falar sobre as injustiças sem cair no “modelo” dos de direita... E advertiu que excluir as “experiências pessoais” das produções literárias equivaleria a “empobrecer o mundo”. E isso simplesmente não recolocava as coisas em seus devidos lugares.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_30.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

Páginas