quarta-feira, 23 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Cecília contempla a beleza de Peri, magnífico em seu habitat; a condição de escravo, admitida por Peri, é rejeitada por “sua senhora”; ela o considera irmão; amanhecer e lembranças da segurança familiar de outrora; oração da manhã; a menina quer participar das investidas na mata; ele se retira para coletar alimentos, “deixa sua alma numa flor” e protege a redondeza com fogueiras aromáticas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-o-goitaca.html antes de ler esta postagem:

Cecília pôs-se a contemplar o fiel amigo e pela primeira vez admirou-o por sua beleza... Os traços de Peri, “busto selvagem moldado pela natureza”, um tipo forte e inteligente, chamaram-lhe a atenção... A menina questionou-se sobre os motivos de nunca ter dedicado esse olhar diferenciado a ele... Concluiu que, antes, os seus olhos não focavam os detalhes físicos de Peri...
O momento que vivenciavam era de subtração dos laços de família. Outrora conferia ao goitacá a estima e o respeito... No deserto, ambiente do qual ele era parte, Cecília via que Peri era digno de “admiração estética”.
O texto procura enfatizar a percepção de Cecília relacionando-a ao que ocorre com a apreciação dos quadros de grandes pintores: “precisam de luz, de um fundo brilhante, e de uma moldura simples, para mostrarem a perfeição de seu colorido e a pureza de suas linhas”... Da mesma forma, “o selvagem precisa do deserto para revelar-se em todo o esplendor de sua beleza primitiva”...
Entre os familiares de d. Mariz, o amigo de Cecília era apenas um “índio ignorante”, um “bárbaro” que, entre os “civilizados”, tinha o seu lugar de cativo... Nem a consideração que d. Mariz e a filha nutriam por Peri conferia-lhe algo mais do que a condição e “amigo escravo”.
(...)
Em meio à mata Peri era visto por Cecília como “senhor das florestas”, um rei...
As horas passaram e a menina viu surgir a estrela d’alva... Isso a fez se lembrar do amanhecer de outrora, quando não havia preocupações, ocasião de agradecer a Deus pelo bem estar que a família gozava. A recordação a fez despejar uma lágrima, que caiu sobre a face do amigo adormecido.
Foi com certo acanhamento que Peri disse que já se sentia restaurado pelo sono... Explicou que o dia estava para nascer e que ele deveria estar pronto para protegê-la... Cecília respondeu que ela também poderia velar sobre o descanso do amigo e que ele bem poderia permitir esse seu gesto de gratidão... O índio deu alguns exemplos em que a natureza ensina que o mais forte defende o parceiro mais fraco (citou o caso dos casais de rolinhas, cujos machos protegem e procuram alimentos para as delicadas fêmeas)... A comparação simplória de Peri fez Cecília corar. Então ela quis saber como é que ele se via naquela condição. Peri respondeu que era um escravo de sua senhora... A menina disse que o considerava um irmão...
(...)
O dia tornou-se claro e Cecília ajoelhou-se para a prece do “Salve Rainha”... Pediu para o amigo repetir suas palavras... E, assumindo a sua condição de convertido, Peri pronunciou uma a uma as palavras da oração.
Depois da oração da manhã, ele procurou um lugar calmo e protegido do sol, onde Cecília pudesse passar algum tempo... Logo que chegaram a um local tranquilo, o goitacá anunciou que procuraria alimentos... Cecília quis ir junto, mas Peri a fez ver que ela sofreria muito numa caminhada pela mata cheia de espinhos... Os pés da menina calçavam um frágil e delicado borzeguim (botina) de seda!
Para que ela não se sentisse tão só, Peri deixou-lhe uma flor (e explicou que deixava sua alma nela; contou que entre os seus parentes falava-se que a alma das pessoas se esconde nas flores, e é por isso que o guanumbi – o colibri – persegue as flores e as beija)... Tranquilizou-a também ao dizer que não se afastaria, assim, bastaria que ela o chamasse para tê-lo de volta.
O goitacá protegeu a área onde sua senhora estava instalada com uma série de “pequenas fogueiras feitas de louro, de canela, urataí e outras árvores aromáticas”... Dessa forma, nenhum animal (principalmente insetos e cobras) a incomodaria.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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