quarta-feira, 2 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – ao sair do alpendre, Peri viu que os dois sentinelas das bandas opostas (João Feio e mestre Nunes) conversavam; entendendo como foi que João Feio ficou sabendo da vida pregressa de Loredano; uma visão dos guerreiros aimoré; Peri e sua consciência sobre o projeto que o tornaria herói; preparado para o combate

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri.html antes de ler esta postagem:

Só mais tarde entenderemos os objetivos de Peri ao se arriscar entrando nos domínios dos aventureiros rebeldes (ficando de frente com o italiano que lhe desferiu um golpe de punhal) e ao pretender lançar-se sozinho contra os aimoré... Agora interessa saber que, tão logo ele retirou-se do ambiente controlado pelos aventureiros, avistou dois vigias noturnos, cada um pertencente a um dos lados da contenda. Os dois conversavam.
Peri ficou admirado, pois o ânimo entre os da banda de Loredano e os fiéis a d. Mariz era dos mais acirrados... Sabemos que João Feio estava na guarda atendendo à solicitação do italiano. Pelo lado de d. Antônio quem fazia a vigilância era o mestre Nunes.
(...)
Mas por que os dois pareciam conversar amistosamente?
Aconteceu que João Feio se aproximou da escada e viu que o tipo que estava do outro lado devia estar exercendo a mesma função noturna que ele... Ele sempre foi dado a conversas regadas a pitadas e a bebericagens... Como não trazia nenhuma folha de fumo, decidiu puxar uma prosa com o desconhecido.
No início mestre Nunes não deu mostras de que estivesse disposto a trocar ideias com o oponente, mas João Feio era persistente e começou a falar sobre o dia que estava para raiar e outras coisas triviais... Mas não ouvia nenhuma resposta, então tratou de revelar a sua opinião sobre a situação... Disse que não era por que eram inimigos que deviam deixar de ser educados, e que um deveria responder cortesmente ao outro.
O mestre Nunes disse que antes da cortesia estava a religião e, sendo ele um cristão, não deveria falar com um herege. João Feio não entendeu o que o outro queria dizer com aquelas palavras, que considerou agressivas e próprias para os que desejam provocar raiva ao interlocutor... Como admitia ser tratado como rebelde, mas não como herege, exigiu esclarecimentos.
Então mestre Nunes perguntou a João Feio como deveriam ser tratados os comparsas de “um frade sacrílego, que abjurou os seus votos, e atirou seu hábito às urtigas”... É claro que João Feio continuou sem entender o que o outro dizia, mas conforme conversaram toda história do italiano foi se revelando...
Aí está a explicação para o fato de Loredano ter topado com seu sentinela noturno revoltado e exigindo que ele se entregasse ao fidalgo d. Mariz.
(...)
Peri ficou atento à conversa dos dois vigias... Mas os seus planos urgiam.
O dia se iniciava e do lado dos aimoré via-se a irritação dos selvagens por não conseguirem avançar contra a casa... Eram uns duzentos, e Peri viu que aqueles guerreiros eram gigantescos, de “aspecto horrível” e “ferozes como tigres”... Mesmo assim sentia-se confiante na certeza de que derrotaria a todos. Sentia-se satisfeito com a ação contra os aventureiros rebeldes e sabia que, sem dúvida, o ataque aos aimoré era a parte mais complicada de seus planos porque uma série de situações deviam se combinar.
O índio tinha a consciência de que sua tarefa era digna de um drama em que sua dedicação o transformava num herói... Mas o seu pensamento focava apenas na salvação de Cecília (e consequentemente na de d. Mariz e de seus entes queridos). Ele sozinho faria o que d. Mariz, Álvaro ou dezenas de homens não teriam condições... Partia para o suplício com a certeza de que sua senhora se livraria dos ataques de aventureiros bandidos e selvagens aimoré.
(...)
Peri “cobriu o peito e as costas com uma pele de cobra que ligou estreitamente ao corpo; vestiu por cima o seu saiote de algodão; experimentou os músculos dos braços e das pernas; e sentindo-se forte, ágil e flexível, saiu inerme”.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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