terça-feira, 22 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – o goitacá foi paciente e ouviu as queixas de sua senhora; explicações sobre os detalhes da fuga do casarão e sobre o juramento a d. Mariz; Cecília ficou contente ao saber que Peri havia se batizado, mas silenciou a respeito de se instalar junto à d. Isabel no Rio de Janeiro; a menina recordou os tempos de segurança ao lado do pai e refletiu sobre as mudanças bruscas em sua vida; em meio à floresta, um “outro olhar” sobre Peri

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-ao-longe.html antes de ler esta postagem:

Peri estava exausto... Mesmo assim ouviu pacientemente a sua senhora... Manifestando toda a sua humildade e devoção a ela, antecipou-se... Foi ele quem primeiro solicitou ser perdoado... Cecília, mais comedida, respondeu que ela deveria pedir perdão.
O goitacá esclareceu que o socorro que havia prestado a ela era em cumprimento ao juramento que fizera a d. Mariz. E explicou tudo o que havia ocorrido desde o momento em que ela havia adormecido até a explosão que o fidalgo impusera à casa.
Peri deixou claro que tudo o que havia preparado se destinava a d. Mariz e a ela, mas a moral fidalga do pai de Cecília o impediu de fugir com ela... A menina chorou e entendeu que não podia esperar outra postura de seu “nobre pai”... O goitacá concluiu sua narrativa tratando do episódio em que havia se submetido ao batismo ministrado por d. Mariz. Cecília ficou contente com a conversão do amigo que tudo fez unicamente para salvá-la.
(...)
Depois dessa conversa reanimadora, Peri colheu alguns frutos para a amiga. Ao entardecer, aproveitou que o sol perdia a sua força e voltou a remar... Ele perguntou se a menina gostaria que a levasse à “taba dos brancos”, para junto de dona Isabel de Mariz, como era desejo de seu pai... Ele estava mesmo disposto a cumprir mais esse juramento... Ela apenas silenciou.
Cecília, que tinha sido acomodado no fundo da canoa pelo amigo, sentiu pela primeira vez a sua proximidade de modo diferenciado... Essa sensação foi se tornando mais intensa conforme ela notava as manifestações da natureza (os pássaros e seus cantos; os aromas silvestres...)... “Peri remava sentado na proa”... A menina seguia mergulhada em seus pensamentos enquanto experimentava os perfumes das plantas, “a frescura do ar e das águas”.
A noite caiu e a viagem prosseguiu silenciosa.
As reflexões de Cecília a faziam recordar da dourada existência que tivera e que fora tão brutalmente alterada... Ela pensava também sobre o último ano de sua vida marcada pelo aparecimento de Peri, sua amizade e proteção que ele lhe devotava... Admirou-se ao repassar sua vida e ao constatar as mudanças profundas que haviam se processado. Certamente a sua forma de encarar a realidade mudava a partir daquele instante. Em seu íntimo já levava em consideração as mudanças na forma de enxergar o mundo... A inocência dava lugar à maturidade.
(...)
O esgotamento de Peri era intenso... Ele passara por várias dificuldades até então (lutara contra o curare que ingeriu para derrotar aos aimoré; lidara com a morte de Álvaro; se empenhara na preparação dos recursos para a fuga de d. Mariz com a filha; ouviu a amargura de sua senhora inconformada com a morte do pai; e ainda sofreu com as acusações contra o seu empenho em salvá-la...).
Ele prosseguia remando e entendia que Cecília dormia. Então procurou conduzir a canoa na mais extrema delicadeza... Mas ele também precisava descansar, pois se mantinha em ação por muitas horas (estava sem dormir a praticamente três dias)...
Peri escolheu um local bem calmo e livre de galhos de árvores para amarrar a canoa... Assim sua senhora poderia dormir tranquilamente. Ele também deitou a cabeça na borda da embarcação. Quando cerrava as pálpebras notou a aproximação de Cecília, que ficou apavorada ao perceber que ficaria solitária.
A menina viu que ele estava bem cansado... Por isso se angustiou por ter se comportado de modo tão egoísta, sequer possibilitando o merecido repouso ao amigo.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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