domingo, 6 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Peri se torna prisioneiro do cacique; as aimoré enterram os seus mortos; os guerreiros deliberam; a jovem filha do cacique tenta proporcionar bem estar àquele que devia ser sacrificado; d. Mariz e familiares observam o suplício de Peri desde a esplanada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-enquanto.html antes de ler esta postagem:

Peri estava lutou sozinho contra cerca de duzentos guerreiros aimoré... Uma atitude suicida... Mas ele agia de acordo com os seus planos.
Depois de ter decepado a mão do cacique, Peri fincou a lâmina do montante no chão e a quebrou... Na sequência lançou as partes da arma ao rio... Aquele gesto tinha o significado de anunciar aos inimigos que não pretendia continuar o combate. Ele se entregava... Os aimoré entenderam que, enfim o haviam derrotado, ele se fazia prisioneiro e suplicava por sua vida.
Mas é claro que isso era impossível para Peri. Tinha a convicção de que era a de um “guerreiro invencível”, “senhor das florestas” e “chefe da mais valente nação dos guarani”... Por tudo isso não conseguia se ajoelhar perante os “vencedores”... Só depois de pensar em Cecília é que se lembrou de que sua missão era maior que a importância da própria identidade... Lembrou-se de que deveria se tornar prisioneiro porque isso era parte de seu plano... Então se prostrou.
Peri já não atacava ou se defendia... No entanto os aimoré foram para cima dele para se vingar... Foi o próprio cacique que, com um movimento do braço que havia sido ferido, impediu qualquer ataque contra aquele que tomava como seu prisioneiro. Todos obedeceram e respeitaram o “direito de guerra” próprio dos costumes daquele povo...
Peri esperava exatamente por isso... Os aimoré iniciaram as cerimônias costumeiras àquelas ocasiões. O prisioneiro seria sacrificado em meio às festividades.
O valente goitacá foi amarrado nos punhos e levado até a sombra de uma árvore... Uma corda de algodão (chamada de muçurana pelos guarani) o prendia... Enquanto isso, as mulheres enterravam os seus mortos, e os guerreiros ouviam o que o cacique tinha a dizer...
(...)
Peri foi servido pela bela filha do velho cacique... A índia entregava-lhe frutos saborosos e bebidas que preparava... Ele se manteve alheio a tudo isso, pois seus olhos e pensamento focavam apenas o casarão que podia ser visto no alto da esplanada... Conseguiu notar d. Mariz e toda família. Identificou Cecília e percebeu que ela acenava-lhe ao longe. Em seu íntimo sabia que aquelas pessoas queridas deviam estar tristes por vê-lo prisioneiro, por imaginarem os mais terríveis horrores e não terem condições de salvá-lo... Isso à parte, estava feliz porque tudo se encaminhava conforme havia idealizado e, por isso mesmo, sua senhora voltaria a se alegrar.
Peri só deu conta de toda atenção que recebia depois de perceber que d. Mariz, familiares e agregados desapareceram da esplanada... Seu pensamento ainda retinha a imagem de Cecília.
A jovem aimoré o servia com satisfação e passou a admirá-lo e a considerá-lo superior aos seus... Ela se entristeceu porque o prisioneiro não dava importância aos regalos (“um lindo fruto, um alimento, um vinho saboroso”) que lhe oferecia.
A filha do cacique não conseguia agradar Peri... Ele entendeu qual era a tarefa dela e sabia que tudo aquilo fazia parte do cerimonial... Na verdade, ela permanecia ali ao seu lado para “embelezar os últimos momentos da vida” dele, que seria sacrificado...
(...)
Em nota, extraída de Notícia do Brasil, capítulo 71, de Gabriel Soares de Sousa, esclarece-se que (os selvagens) ”dão a cada prisioneiro por mulher a mais formosa moça que há na casa; a qual moça tem o cuidado de o servir e dar-lhe o necessário para comer e beber”.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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