quinta-feira, 17 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Isabel delira no quarto carregado de espessa e estonteante fumaça; o primeiro e último beijo; juntos, deixam a existência atribulada; d. Mariz, esposa e filha também se despedem do belo entardecer como se estivessem finalizando sua estadia na morada do Paquequer

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri_16.html antes de ler esta postagem:

Peri havia deitado Álvaro sobre o leito de Isabel...
A moça queria permanecer algum tempo com o amado e esperava definhar aos poucos até chegar o momento de seu último suspiro para que pudesse se unir a ele no além...
Como vimos, o quarto da moça tornou-se cenário lúgubre, onde a queima de diversas essências provocava espessa, perfumada e entorpecedora fumaça. Ela desejava desesperadamente comunicar-se com ele. Então pegou-lhe as mãos e começou a pronunciar várias frases e sons que saíam do fundo de seu coração.
Em seu devaneio, imaginava ouvir de Álvaro confissões de amor e outros segredos... Isabel acariciava seus cabelos e rosto... Ela gostaria muito de ouvi-lo dizer mais uma vez que a amava. Fechava os olhos e respirava fundo, esperando uma manifestação ardente... Mas nada se sucedia... A atmosfera de pesados e estonteantes perfumes completava o quadro sombrio da alcova:

O aposento apresentava então um aspecto fantástico: no fundo escuro desenhava-se um círculo esclarecido, envolto por uma névoa espessa.
Nessa esfera luminosa como no meio de uma visão, surgiam Álvaro deitado no leito de Isabel reclinada sobre o seu rosto de seu amante, a quem continuava falar, como se ele a escutasse.

Algum tempo se passou e Isabel começou a passar mal. Respirava com dificuldade, mas não se dava conta disso... Agia como se estivesse em transe:

Louca, perdida, alucinada, ela ergueu-se, seu seio dilatou-se, e sua boca, entreabrindo-se, colou-se aos lábios frios e gelados de seu amante; era o seu primeiro e último beijo; o seu beijo de noiva.

Por incrível que pareça, Álvaro começou a suspirar... Isabel notou que ele vivia, e que apertava as suas mãos... O moço abriu os olhos e a chamou pelo nome... Ela despertou de sua paranoia ao perceber que a sua atitude o sufocava... Viu que precisava abrir a janela para salvá-lo... Mas ele mesmo a puxava para si...
Seus olhos e lábios se encontraram mais uma vez... Enfim, os dois desfaleceram... As “duas almas irmãs, confundindo-se numa só, voaram ao céu, e foram abrigar-se no seio do Criador”...
(...)
Só por volta das duas da tarde é que Peri e Cecília entraram no quarto de Isabel... Cecília havia procurado Peri para que ele a ajudasse a encontrar Isabel. O amigo não revelou tudo o que sabia (que transferira Álvaro para o quarto da outra)... Ao abrirem a porta, depararam-se com o cenário macabro ao mesmo tempo em que a espessa fumaça abandonava o aposento... Peri trancou o quarto novamente (e era como se um túmulo estivesse sendo selado) e pronunciou apenas que Isabel havia morrido feliz.
(...)
O entardecer daquele dia foi marcado pela reunião de d. Mariz com a esposa e Cecília no umbral da porta... Dali contemplaram o pôr do sol... Recebiam os seus últimos raios e despediam-se do dia como se fosse o último de suas existências.
Assim, “mandavam o adeus extremo à luz do dia, às montanhas que os cercavam, às árvores, aos campos, ao rio, a toda a natureza”.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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