sábado, 19 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Cecília está em sono profundo; Peri tenta convencer d. Mariz a fugir com sua senhora, pois ele havia providenciado tudo; o fidalgo explica o seu compromisso moral que o obriga a ficar; o goitacá decide permanecer para compartilhar da mesma morte; a gritaria aimoré é intensa; desesperado, d. Antônio diz que se Peri fosse um cristão poderia salvar Cecília

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-o-dia-que.html antes de ler esta postagem:

Uma saraivada de flechas incendiárias caiu sobre o casarão... D. Antônio manteve-se firme. O fidalgo sorriu e disse aos seus homens que o momento havia chegado... Teriam, talvez, mais uma hora de vida... Ele havia destruído o que restava da escada, então calculava que os inimigos demorariam esse tempo para chegar à casa... Restava-lhes “morrer como cristãos e portugueses”... Pediu que abrissem a porta para que pudessem contemplar o céu.
Quando a porta foi aberta, surgiu o vulto de Peri e, no mesmo instante, ele entrou... As flechas cravavam a casa, o incêndio crescia... A tomada da fortaleza pelos aimoré era mesmo iminente. O goitacá dirigiu-se a d. Mariz e foi incisivo ao dizer que estava ali para salvar sua senhora. Para o fidalgo, aquilo só podia ser um delírio de Peri.
O índio explicou que tinha preparado tudo para que o amigo branco se retirasse com a filha até o rio e, de lá, para a tribo goitacá, onde a mãe de Peri conseguiria que guerreiros da família o conduzissem à “grande taba dos brancos”.
D. Antônio explicou que a proposta de Peri não podia ser aceita por um fidalgo português... Disse que o seu dever, naquele momento de extrema delicadeza, era permanecer junto aos seus até o fim... Não poderia fugir dos inimigos ainda que fosse para salvar o que mais amava na vida.
Evidentemente o entendimento de Peri se chocava com essas convicções. Para ele, cujo motivo de viver era o “devotamento religioso” à menina, aquelas palavras só podiam significar que estava diante de um pai não amava a própria filha... É por isso que ele perguntou a d. Mariz se ele não queria salvá-la... Este respondeu que devia permanecer no casarão, pois isso era a sua obrigação moral. Explicou também que, naquelas circunstâncias, salvar Cecília não seria um sacrifício, mas sim uma traição.
D. Mariz poderia até se sentir ofendido... Talvez por isso tenha perdoado Peri pelas duras palavras... Depois perguntou a ele se teria coragem de abandonar mulher e companheiros para se livrar de inimigos... Enquanto o índio refletia sobre essas indagações, o fidalgo completou dizendo que (além de tudo) o plano proposto pelo amigo só poderia ser cumprido por alguém mais jovem... Dentre os que ele conhecia, lembrava-se de d. Diogo (bem distante dali) e de Álvaro (já morto).
Ainda inconformado, Peri explicou que havia feito de tudo para que d. Mariz conduzisse a filha à sobrevivência... Como o próprio pai se recusava a empreender fuga, sentenciou que permaneceria aos pés de sua senhora até a morte. D. Antônio chamou-lhe a atenção, e esclareceu que ele não precisava compartilhar da desgraça de sua família... Ele mesmo não consentiria que isso ocorresse. Lembrou-lhe que se tratava de um indivíduo livre. Em sua opinião, Peri devia partir o mais rápido possível.
Também essas palavras não foram aceitas por Peri, e às vésperas da morte, d. Antônio testemunhou mais essa confirmação do nobre caráter do goitacá, totalmente devotado à fidelidade a ele e à Cecília. O índio reafirmou que não abandonaria a sua senhora, e quis que d. Mariz entendesse que ele tinha o “direito” de morrer junto daqueles pelos quais arriscara a própria vida...
O fidalgo não prosseguiu a discussão e colocou ponto final ao dizer que se o desejo de Peri era o de permanecer, então, podia ficar.
(...)
Durante todo o tempo em que Peri e d. Mariz conversaram, Cecília permaneceu dormindo profundamente... Certamente o cordial que o pai lhe dera a manteria “anestesiada” até o instante final de suas vidas.
A gritaria dos inimigos aumentava...
D. Mariz lamentava silenciosamente a trágico fim de sua doce filha... A um gesto seu, os aventureiros se dirigiram para o gabinete.
Peri não arredava pé e permanecia firme junto a Cecília...
Os pensamentos de d. Mariz estavam agitados porque sabia que o amargo fim estava muito próximo...
Dirigiu-se até Peri e pegou-lhe a mão e disse que, se ele fosse cristão, lhe confiaria a salvação de Cecília com a convicção de que o amigo a levaria ao Rio de Janeiro, para junto de sua irmã, d. Isabel de Mariz.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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