O belo dia que se iniciava trazia novas esperanças aos corações... Nem todos, porém, alimentavam grandes expectativas...
Isabel saiu de casa para contemplar a luz do dia. A moça deitou a cabeça no ombro de Cecília para esconder suas preocupações... Trazia em seu íntimo um amargo sentimento devido aos maus pressentimentos que alimentou durante toda a noite.
(...)
D. Mariz concluiu que, de
fato, os aimoré haviam retraído suas posições. Aires Gomes e mestre Nunes
percorreram os locais onde eles realizaram o cerimonial canibal da véspera e
não constataram a sua presença... Os selvagens cuidaram de enterrar os seus
mortos e partiram... Mesmo recebendo o relato positivo de seu escudeiro, d.
Mariz não se mostrou animado e nem transmitiu qualquer esperança aos seus.
De fato, logo todos perceberam que havia muito com o
que se preocupar e que a tragédia teimava em se fazer presente entre eles.
(...)
Peri retornou ao casarão na manhã daquele mesmo dia ensolarado e
tranquilo para a gente de d. Mariz... O seu grito foi escutado quando ele
chegava à escada de pedra. Cecília, tomada de intensa alegria, quis dirigir-se
até ele... Mas viu que mestre Nunes baixava uma prancha para que o índio
chegasse até a porta da sala.
Peri trazia Álvaro desfalecido em seus ombros... A
chocante visão emudeceu d. Mariz, d. Lauriana e Cecília... Isabel desmaiou.
Peri chorava enquanto caminhava até o sofá para deitar o cavalheiro... Respeitosamente,
os aventureiros também se mantinham em silêncio. D. Antônio quis saber o que
havia ocorrido. Então Peri contou-lhe tudo, desde o momento em que deixara a
casa para se livrar do envenenamento conforme prometera à sua senhora.
(...)
O texto esclarece que Peri conhecia, graças aos ensinamentos de sua mãe,
os antídotos que a própria natureza oferece... E foi assim que conseguiu se
restaurar.
É claro que enfrentou dificuldades logo que se dispôs a restabelecer-se,
pois seu organismo estava muito debilitado pelo veneno. Mas ele conseguiu novo
vigor conforme ingeriu os frutos e raízes que serviam de antídoto... Passou a
noite na floresta.
Pela manhã, quando caminhava depois que algumas horas do novo dia já
tinham se passado, ouviu o estrondo de armas de fogo... Resolveu dirigir-se na
direção dos tiros e chegou ao local em que Álvaro e os nove aventureiros (com
os quais saíra em busca de víveres) estavam em confronto com mais de cem
aimoré.
O goitacá explicou
que a situação era das mais complicadas para Álvaro e seus companheiros... Eles
estavam organizados em duas colunas, uma de costas para a outra, para se
defenderem com suas espadas e arcabuzes... Depois de uma hora de resistência, a
luta se tornara praticamente corpo a corpo.
Na verdade Peri chegou ao cenário no momento em que o aventureiro que
estava de costas para Álvaro resolveu se adiantar um pouco. Infelizmente isso
deixou a coluna vulnerável e o cavalheiro completamente indefeso... É verdade
que, mesmo assim, ele conseguiu eliminar vários selvagens com sua lâmina... Mas
acabou violentamente atingido na cabeça por uma pesada tangapema.
Mesmo ao cair, Álvaro
conseguiu abater o seu agressor... Depois disso, vários guerreiros inimigos o
cercaram. Peri jogou-se em cima deles e, tendo conseguido agarrar uma
espingarda que estava no chão, atacou-os fazendo a arma girar como se fosse uma
clava... Os aimoré se afastaram, e Peri conseguiu resgatar o amigo.
Alguns ousaram persegui-lo. Mas Peri foi hábil...
Deitava Álvaro, carregava a espingarda e disparava contra o que estava mais
próximo... Os demais batiam em retirada só de reconhecê-lo do dia anterior.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri_16.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto