O texto destaca que Peri, a partir da embarcação onde levava Cecilia, pôde divisar a figura de d. Mariz “de pé no meio do gabinete, elevando com a mão esquerda uma imagem do Cristo e com a direita abaixando a pistola para a cava escura onde dormia o vulcão”...
A respeito do caótico cenário há a seguinte complementação: “Sua mulher abraçava os seus joelhos calma e resignada; Aires Gomes e os poucos aventureiros que restavam, imóveis e ajoelhados a seus pés, formavam o baixo-relevo dessa estátua digna de um grande cinzel”.
Sobre os guerreiros aimoré presentes no confronto: são descritos como “figuras sinistras”; “selvagens semelhantes a espíritos diabólicos dançando nas chamas infernais”.
Alencar coloca Peri como única testemunha do ato final do fidalgo d. Mariz... Mesmo ao longe, ele soube do disparo contra a pólvora armazenada. Houve um tremendo estrondo que poderia ser ouvido por toda a mata... “A terra tremeu” e as águas do Paquequer se agitaram... Logo tudo se tornou escuridão e silêncio... Peri colocou força na remada para que a canoa deslizasse mais rapidamente...
(...)
O sol do novo dia iluminou uma paisagem catastrófica às margens do
rio... Ruínas e enormes lascas de rochas agora faziam parte do ambiente... Onde
havia o esplêndido casarão, restava “uma larga fenda semelhante à cratera de
algum vulcão subterrâneo”... Muitas árvores foram queimadas ou arrancadas
devido à energia liberada pela explosão... Uma ou outra índia que havia
permanecido na retaguarda das operações sobreviveu à tragédia e se dispunha a
se encaminhar, aos prantos, a alguma tribo para esclarecer o que se sucedera aos
parentes.
(...)
Durante toda a noite Peri remou... Sabia que d. Mariz
havia eliminado os inimigos aimoré, mas desejava se afastar o máximo que podia
do campo de guerra e chegar à região onde viviam os goitacá. Esperava, mais do
que encontrar os parentes, salvar sua senhora conforme havia prometido ao seu pai.
O sol se levantou e seus raios atingiram a face adormecida da menina.
Peri cuidou de encostar a canoa à beira do rio em busca de sombra... Cecília
ainda dormia o mesmo sono que experimentou após ingerir o cordial oferecido por
seu pai... Ela estava mais corada... Peri levantou a canoa e a acomodou sobre a
relva. O goitacá permaneceu ao lado em contemplação à sua senhora enquanto
imaginava sobre o sofrimento que a abateria ao despertar e reconhecer-se sem os
parentes... Nem mesmo a “mais extremosa” mãe velaria com o zelo que ele
dispensava à menina.
Então Cecília despertou... Demorou a acostumar-se com a claridade do dia
e estranhou o ambiente... Viu Peri e alegrou-se... Ao notar-se na canoa e
perceber que o rio que corria à sua frente era o Paraíba, começou a entender o
drama que estava vivendo. Lembrou-se do pai e soluçou...
Peri explicou-lhe que estavam todos mortos. Lamentou não ter condições
de salvá-los também... Cecília demonstrou revolta e disse que preferia ter
morrido com os pais... Perguntou ao índio se ela havia pedido que a salvasse...
No mesmo instante exigiu que ele a levasse de volta para o casarão, onde
estavam mortos os seus entes queridos. Depois desse desabafo, ela foi até a
margem, ajoelhou-se e fez uma oração...
Levantou-se mais calma... Refletiu sobre os
acontecimentos da véspera e lembrou-se que havia adormecido na sala dizendo a
Peri que preferia “morrer como Isabel” a se salvar sabendo que seus parentes
morreriam do ataque aimoré... Refletiu sobre os motivos de sua cólera e
reconheceu que estava sendo injusta com o amigo a quem devia pedir perdão...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-o-goitaca.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto