Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_24.html antes
de ler esta postagem:
Como
sabemos, os jagas, que eram um belicoso povo nômade, invadiram a capital do
Cango, São Salvador. Houve destruição e o então rei, D. Diogo, tornou-se
exilado com outros parentes na ilha dos Cavalos. Entre esses, estava Nimi
Lukeni lua Mbemba, que viria a se tornar rei em 1567 e ficou conhecido por seu
nome cristão, D. Álvaro I.
Então o início de seu reinado foi marcado pela luta contra os jagas...
Apenas em 1570 é que, graças ao auxílio militar enviado pelo monarca português
D. Sebastião, D. Álvaro pôde deixar o exílio. Isso resultou em uma obrigação
tributária devida pelos congoleses, o “preço da paz”, em pagamento a
Portugal...
Tinhorão diz que o rei do
Congo se tornou vassalo do monarca português... E como por ironia, D.
Sebastião, que morreu em 1578 na batalha de Alcácer Quibir, levaria os
portugueses a se tornarem vassalos dos reis espanhóis, a partir da formação da
União Ibérica (1580-1640; união de Portugal e Espanha; governada pelos reis Felipes
da Espanha).
(...)
Com a União Ibérica, o “reino cristão” do Congo também
sofreu conturbações políticas. Primeiro porque o rei africano foi praticamente ignorado
pelo “aliado europeu” que, com o domínio espanhol, havia se enfraquecido.
Segundo porque teve início uma forte pressão dos traficantes de escravos em
suas exigências por maior liberdade de ação... E mais... Desde Angola, o
donatário Paulo Dias de Novais adotava postura agressiva que em pouco tempo fez
da colônia mais ao sul uma adversária e significativa concorrente dos
congoleses. Novais levou em consideração, e a consequências extremadas, as
ações para destruir a importância do Congo.
Esse contexto de revezes levou D. Álvaro I do Congo a buscar apoio
diplomático... Ele enviou embaixadores à União Ibérica com a expectativa de
receber ajuda de Portugal, que estava, como sabemos, fragilizado e governado
pelos espanhóis. Também enviou embaixadores a Roma esperando uma intervenção
papal... Tais iniciativas deram em frustradas, já que seus delegados acabaram
assaltados e mortos por corsários.
O reinado de D. Álvaro terminou com a sua morte em
1587. Sua sucessão foi marcada pelas tradicionais desavenças familiares. Mpangu
a Nimi, filho do rei com uma escrava, tratou de derrotar um “irmão rival” e de
combater com rigor a trama urdida por uma de suas irmãs.
(...)
Este Mpangu a Nimi foi reconhecido rei e sucessor de D. Álvaro I, reinou
sobre o Congo com o nome cristão de D. Álvaro II e, basicamente, procurou
reforçar a “posição interna de independência”. Em relação a essa determinação,
sofreu ataques dos comerciantes portugueses e de Angola. No campo externo, D.
Álvaro II tomou a iniciativa de buscar um entendimento com Roma e sugeriu “tornar
o Congo um feudo” da Santa Sé “com a garantia para ele do título de majestade”.
Sobre a tentativa de estreitamento dos laços do Congo com a Santa Sé, o
livro destaca que D. Álvaro II determinou uma “embaixada diplomática ao papa”...
Segundo o próprio rei, a missão não podia ser entregue a qualquer cristão, por
isso decidiu que o “chefe religioso do Congo, Antonio Manuel ne Vunda” deveria
seguir para Roma. Também isso resultou em frustrado...
Aconteceu que a comitiva
enviada foi atacada por piratas no Mar Mediterrâneo... Além disso, por motivos
não esclarecidos, demorou-se demasiadamente na Península Ibérica... A chegada a
Roma deu-se apenas em 1608 e foi marcada pelo falecimento de Antonio Manuel ne
Vunda dias depois do desembarque e algumas horas após ter sido recebido pelo papa...
Registre-se que, apesar desse infortúnio, a missão apresentou-se ao papa Paulo
V e falou-lhe sobre as propostas e pedidos de D. Álvaro II.
A respeito da iniciativa do
rei do Congo em sua radical aproximação diplomática com o papa, podemos dizer
que ela foi pouco produtiva. De positivo para o Congo, a Santa Sé nomeou “o
cardeal de Santa Cecília como protetor” do país africano em 1613... Um ano
depois D. Álvaro II morreu.
(...)
O
fim do reinado de D. Álvaro II ocorreu numa época em que, como podemos depreender,
as iniciativas de tornar o Congo mais autônomo em relação ao aliado europeu e
independente dos agentes portugueses envolvidos no comércio e tráfico de
escravos fracassaram. Piratas franceses e holandeses atuavam na região e já não
havia esperança de que Portugal (submisso à Espanha) pudesse enviar qualquer
ofensiva...
Este quadro contribuiu para “a degradação social
e violência humana” já marcada pelo comércio de escravos.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_27.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto