Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_19.html antes
de ler esta postagem:
Em “Dios se lo pague” assistimos ao encontro do
velho com Péricles durante a madrugada. Ele chegou à mansão e flagrou Nancy e o
jovem acomodados na grande sala... Os registros que seguem nesta e nas próximas
postagens apresentam o essencial da conversa que tiveram conforme o enredo da
peça. Evidentemente a produção cinematográfica fez a adaptação destacando as
características principais de cada personagem sem se ater demasiadamente ao
texto para o teatro.
(...)
Péricles levantou-se e
permaneceu calado enquanto o velho caminhava com dignidade e a passos firmes ao
encontro de sua mulher. Ele a cumprimentou com um “boa noite”. Ela respondeu com
um “bom dia” em tom de gracejo. Ele perguntou se a companheira fazia mal juízo
a seu respeito pelo adiantado da hora. Nancy disse que não e perguntou-lhe o
mesmo.
O velho olhou para Péricles e respondeu que não fazia nenhuma mal juízo
a respeito dela... A mulher quis saber o que dera nele para lhe aprontar a
maldade de obrigá-la a sentir saudades. Nesse mesmo instante o jovem Péricles
não conseguiu esconder o ciúme.
Mas
então Nancy sentira saudades? O velho quis saber... Ela respondeu que não sabia
bem... Disse que pensou muito nele e, como nunca sabia onde ele estava, pensou
apenas nele porque não tinha como pensar sobre os lugares onde estivera. O
velho respondeu que quando não estava em casa só podia estar nas ruas em
contato com os que passavam por elas. Nancy mostrou-se espantada com a resposta
e ele confirmou garantindo que os transeuntes eram seus melhores amigos. Ela sorriu
achando que adivinhara uma piada, depois emendou que ele não era amigo de
ninguém.
Também essa conclusão
de Nancy mereceu nova observação enigmática do velho que disse que era amigo da
multidão e que “a multidão é tudo!”. Ela quis saber se apenas a multidão lhe
bastava por amizade... Ele respondeu que tinha muita consideração pela multidão
e que, para ele, no mundo só havia a “multidão e Nancy”.
Certamente
envaidecida, a mulher acrescentou que além da “multidão e dela mesma” havia o
seu companheiro velho. Ele emendou que, mais que isso, além dos dois, não havia
mais ninguém, e que, perto ou distante, ninguém mais interessava à existência
de ambos...
Essas palavras
incomodaram o Péricles e, talvez percebendo isso, o velho prosseguiu afirmando
que se ria da “gente chic” que por ele passava nas ruas... Será que não sabiam
que “já estavam mortas”?
Nancy olhou para o jovem
que a tudo ouvia com perplexidade e pediu-lhe que se sentasse. Péricles
agradeceu e sentou-se. O velho arregalou os olhos e perguntou-lhe se era “Péricles”
mesmo. O moço levantou-se novamente para confirmar, “sim! Péricles!”.
O dono da casa mostrou-se receptivo e fez questão de dizer-lhe que
estava encantado por conhecê-lo, pois “de nome” já lhe era muito familiar. Péricles
perguntou “de onde” já teria ouvido falar a seu respeito... O velho respondeu
que “da Grécia”.
(...)
Percebemos que a interação do velho é provocativa. Ele encurrala o jovem
com sua ironia. Faz referência ao Péricles da antiga Grécia e percebe que ele
não tem conteúdo a altura de um diálogo filosófico.
(...)
Péricles arriscou dizer que o velho só podia
estar enganado... Grécia? De modo algum!
Nancy interveio
dizendo ao velho que queria apresentar-lhe o rapaz, um amigo de infância (em “Dios
se lo pague” ela diz se tratar de um parente; posteriormente Péricles mentiu ao
velho dizendo que era irmão de Nancy)... Ele adotou uma postura de admiração: “Oh!”...
“É então um velho amigo de minha mulher! A infância já está tão longe...”.
Evidentemente o moço levou em consideração a improvisação de Nancy e principiou
um comentário referindo-se à “infância tão longe” salientando que aquela
observação cabia perfeitamente ao velho que a fizera... Aconteceu que este o
interrompeu dizendo que tinham “a mesma idade” e que se lembrava da própria infância
assim como certamente o seu interlocutor lembrava-se da sua. Nancy quis
entender e perguntou...
O
velho respondeu que ela já sabia... Acrescentou que em alguns casos “quanto
mais velho é o corpo, mais moço é o espírito. Neste ponto Péricles ousou
interromper com um “talvez”... O outro redarguiu ao afirmar com convicção que “ser
moço é ser forte” e que ele mesmo era mais forte do que o jovem ”amigo de
infância” de sua esposa”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo-o_21.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto