quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – retorno à tradição de disputas tribais e lutas das principais famílias para a escolha do manicongo; Mpudi a Nzinga e Nkumbi Mpudi a Nzinga disputaram com Nkanga a Mbemba a sucessão de D. Afonso I; violência, perseguição e mortes; D. Diego e sua administração de centralização do comércio e implicâncias contra os missionários cristãos; intrigas dos agentes portugueses e guerra contra os jagas; listagem de Alfredo de Sarmento; conturbado e sangrento ano de 1567


Após a morte de D. Afonso I em 1541, o modelo político idealizado pelos portugueses inspirado nas monarquias europeias definhou e deu lugar à antiga tradição e, como afirmamos anteriormente, “o território africano não experimentou outro reinado como o que havia sido planejado ‘à europeia’. Em vez de reinados duradouros, quase cinquenta reis se sucederam no Congo num período que não chegou a totalizar cento e cinquenta anos”.
Por “antiga tradição” devemos entender “o equilíbrio político instável, obtido através do consenso provisório entre as famílias eleitoras ante a necessidade de preenchimento do cargo de chefe dos grupos locais”... Em outras palavras, podemos dizer que os congoleses não admitiram a transmissão automática do trono ao filho do primeiro rei cristão e o velho costume foi retomado.
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Nkanga a Mbemba era o preferido de D. Afonso I... O jovem tinha o nome cristão de D. Pedro.
Mas aconteceu que dois outros parentes, Mpudi a Nzinga e Nkumbi Mpudi a Nzinga (o primeiro era D. Francisco por nome de batismo e o segundo era D. Diogo) pleitearam o trono... Ainda em 1541 iniciou-se a luta interna e os grupos familiares impuseram derrota a D. Pedro, que teve de buscar refúgio numa igreja para livrar-se de ser morto.
Este primeiro embate terminou penas em 1545, com a vitória de D. Francisco... Mas seu reinado foi de curtíssima duração já que em poucos meses D. Diogo, que era neto de D. Afonso I, o destituiu e permaneceu no poder durante quinze anos (de 1546 até a sua morte em 1561). A respeito da administração de D. Diogo, o livro destaca que ele procurou fortalecer o poder local e estabelecer um controle mais rígido do comércio a partir do porto de Pinda... O rei planejou uma aproximação diplomática em relação à Santa Sé ao mesmo tempo em que fez oposição à atuação dos missionários franciscanos, que trabalhavam na catequização, inclusive tendo elaborado uma cartilha de evangelização em kikongo, língua local; e jesuítas. Esses últimos acabaram expulsos do Congo.
As medidas de D. Diogo desagradaram comerciantes portugueses, e estes se articularam numa conspiração que resultou em sua morte... Os insurgentes trataram de assassinar também o seu “sucessor natural”. Dessa forma um “segundo irmão”, D. André, que também pretendia assumir o poder foi elevado ao trono.
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Por aquela época, Angola e Congo vinham sofrendo ataques de um povo nômade e agressivo, os “guerreiros jagas”, que provocaram a destruição de São Salvador, a capital cristã do Congo, ainda em 1558 (ocasião em que D. Diogo se exilou na ilha dos Cavalos)...
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As pressões dos portugueses que atuavam no Congo eram contra a permissão concedida pelo rei aos produtores rurais, que passaram a poder importar até “120 escravos locais” por ano... D. André teve de ceder o poder a Mpemba a Nzinga, que era apoiado pelos portugueses e tinha o nome cristão de D. Afonso II.
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Em nota, Tinhorão esclarece que o nome “André I, como sucessor de D. Diogo, é citado apenas por Alfredo de Sarmento, que o inclui na relação nominal de 48 reis do Congo” que ele consultou na época de sua viagem à capital daquele país a partir de julho de 1856, quando D. Henrique II era o “rei do Congo”. O mesmo Sarmento, em “Os sertões d’África: impressões de viagem”, destaca outro André (II) que sequer chegou a ser coroado.
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A parceria de Mpemba a Nzinga não era aceita pelos nativos. Esses se revoltaram e o mataram em 1567. Seu sucessor foi Nzinga Mbemba, que adotou o nome cristão de Bernardo I e foi escolhido pelos chefes tribais.
Este Bernardo I tentou estabelecer acordos com os portugueses e com os jagas, mas este belicoso povo nômade o matou no mesmo ano de 1567... Sorte idêntica teve o seu sucessor, Mpudi a Mbemba (D. Henrique), também em 1567.
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Depois de várias mortes violentas de manicongos, Mpangu a Nimi Lukeni lua Mbemba, sob o nome cristão de D. Álvaro I, foi escolhido como “chefe maior do Congo”.
Conheceremos um pouco a respeito de seu reinado na próxima postagem... Adiantamos que o início em 1567 foi conturbado, mas enfim ocorreu um período mais estável e este rei permaneceu no poder até 1587.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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