quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – Pipelet e as incoerências dos homens contrários aos direitos das mulheres; sobre as limitações da filosofia revolucionária e da ação da militante; educação enquanto espaço de ação da mulher; o longo período entre as revoluções americana e francesa e a Declaração de 1948; Giuseppe Mazzili e a importância do país enquanto lugar seguro para os direitos individuais de seus cidadãos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma.html antes de ler esta postagem:

Para Pipelet, os homens não se importavam que as mulheres não tivessem direitos... Segundo ela, muitos até defendiam que a limitação e até a ausência dos direitos a elas possibilitaria o aumento do poder masculino na sociedade... Embora a autora citasse Wollstonecraft, não advogava às mulheres o direito a voto ou ao exercício de cargos públicos.
Constance Pipelet analisou criticamente a “lógica revolucionária dos direitos” e as incoerentes “restrições continuadas dos costumes”:

                   “É especialmente durante a revolução (...) que as mulheres, seguindo o exemplo dos homens, raciocinam muito sobre a sua verdadeira essência e tomam atitudes em consequência desse seu pensar”.

Poderíamos questionar, então, por que prevaleceram as barreiras contrárias aos direitos das
mulheres... Pelo menos em relação ao movimento inspirado pelo Iluminismo, a poetiza esclarecia que tal filosofia “não havia progredido o suficiente” e isso travava a educação das pessoas comuns e das mulheres. Assim que elas tivessem acesso à educação se destacariam e seus talentos viriam à tona numa clara demonstração de que “mérito não tem sexo”.
Pipelet apoiava a ideia de que as mulheres deviam exercer a ofício de mestres-escolas além de “ter permissão para defender os seus ‘direitos naturais e inalienáveis’ nos tribunais”.
Não se pode dizer que a poetiza e dramaturga fosse defensora ardente dos “direitos políticos plenos”, mas também não é correto dizer que ela não os desejasse a todas as mulheres... O fato é que ela se engajou à crítica possível (“imaginável; argumentável”) em sua época. Havia uma sólida filosofia dos direitos que propiciou uma série de embasamentos revolucionários... Embora os teóricos não pensassem em estender os direitos à “outra metade da humanidade”, o “espaço imprevisível para discussão, conflito e mudança” se abriu... A negação dos direitos às mulheres podia ser persistente, mas a promessa que eles (os direitos) anunciavam não morreria jamais.

(...)

Há um longo período separando a época da formulação dos direitos, ao tempo das revoluções na América e na França, e a Declaração Universal das Nações Unidas (1948)... Não foram poucos os que, durante este longo período, refletiram como Jeremy Bentham (1748-1832; filósofo e jurista inglês) que considerava os direitos humanos “um absurdo retórico, um absurdo bombástico”.
Lynn Hunt nos lembra que obviamente os direitos não desapareceram... Houve contínua discussão sobre eles e inúmeros movimentos sociais espalhados pelo mundo foram marcados pela reivindicação deles. Ressalta-se que os debates e a definição de leis e decretos ocorreram principalmente “dentro de estruturas nacionais específicas”.
Os países se organizaram a partir de Constituições e os grupos sociais (trabalhadores, minorias religiosas, mulheres...) entenderam a importância de verem seus direitos incluídos na lei maior ou em legislação específica.
Os séculos XIX e XX foram marcados por essas iniciativas, mas temos que entender que as conquistas se circunscreviam aos territórios nacionais. Dessa forma, podemos dizer que “os trabalhadores, por exemplo, ganharam direitos como trabalhadores britânicos, franceses, alemães ou americanos”... Em relação à ideia de nação atrelada aos direitos de seus cidadãos, a autora cita a questão levantada por Giuseppe Mazzili, nacionalista italiano do século XIX: “O que é um país (...) senão o lugar em que os nossos direitos individuais estão mais seguros?”
A autora lembra as duas grandes guerras mundiais para destacar que elas estilhaçaram a citada confiança na nação.
Trataremos a respeito dessa reflexão nas próximas postagens.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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