terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

“Deus lhe pague”, peça de Joracy Camargo – o velho “esgotava a curiosidade” de Nancy e assim não via a menor necessidade de mantê-la sob vigilância; início da história em que se conhece Péricles, seu interesse por Nancy e suas opiniões contrárias ao velho; galante jovem de abastada família não compreende como sua “proposta” pode ser rejeitada; uma mulher que ama a si mesma e centra a vida na busca da própria felicidade

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo.html antes de ler esta postagem:

De fato, para o simplório Barata, a vida do estranho mendigo devia ser bem interessante... O velho respondeu que sua “outra vida” era agradável... O Barata ficou sem jeito, mas conseguiu perguntar se a mulher do companheiro lhe era fiel. Este respondeu que sim e concordou que para o amigo aquilo parecia ser bem pouco provável.
Ele passava o dia a vigiá-la? “De modo algum”, o velho respondeu acrescentando que procedia de modo a esgotar sua curiosidade. Para ele, toda mulher é vítima da própria curiosidade. De modo simplificado, esclareceu que o maior erro seria afastá-la dos demais homens. Essa atitude teria efeito contrário!
Na sequência deu início a outra narrativa... Começou dizendo que certa vez a fadiga acabou fazendo com que adormecesse em seu “escritório”... Contou que só despertou por volta das quatro da madrugada, então se vestiu às pressas e retornou para casa.
Barata quis saber se o velho não tinha ao menos uma cama no local. Este explicou-lhe que mantinha apenas uma esteira para não chamar a atenção da vizinhança... Disse que o “escritório” localizava-se num sórdido cortiço.
(...)
Neste momento o palco se escurece. O texto da peça sugere que um ator dublê tome o lugar do velho mendigo... Aos poucos outro ambiente do palco (um segundo tablado; como aconteceu quando a história da fraude do patrão na casa de Juca foi contada) torna-se iluminado.
O outro cenário apresenta uma sala luxuosa com diversos acessórios próprios das casas mais ricas. Surge um novo personagem. Ele é jovem, bem vestido, traz um rico relógio no pulso e vê-se pelos atos que pertence a distinta família. Logo atrás chega Nancy caminhando alegremente com seu “lindo quimono”.
(...)
O jovem personagem é Péricles... Ele consultou o relógio e revelou que já eram quatro da madrugada. Nancy tornou-se triste enquanto o cavalheiro beijava-lhe a mão e disse que os bons momentos da madrugada terminavam, pois ele sairia levando toda sua jovialidade e logo a “velhice” retornaria à casa.
Péricles dispensou toda sua atenção salientando que Nancy não devia julgá-lo impertinente por voltar a insistir com “sua proposta”. A plateia não tem conhecimento imediato do conteúdo da referida proposta e vê Nancy respondendo que também ela não devia ser julgada impertinente por recusá-la “mais uma vez”.
O rapaz lamentou e disse que ela só podia estar “sugestionada pelo velho”... Nancy discordou e ele a fez pensar nas seis horas que passaram juntos a conversar alegremente inclusive sobre a dita proposta. Como se explica que, apesar de ter se comportado respeitosamente, em nenhum momento ela lhe fosse favorável?
Nancy quis saber se o respeito dispensado pelo amigo havia sido “por cálculo” ou “galanteria”... Ele respondeu negando as duas hipóteses e emendou que havia sido respeitoso por gostar dela. E não apenas gostava, mas a amava e venerava, por isso sabia respeitá-la. Ela bem podia aceitar “sua proposta” antes que o velho chegasse.
Neste ponto, Nancy observou que Péricles estava sendo impertinente. O rapaz pediu perdão e ao mesmo tempo se justificou dizendo que não se conformava com o fato de ela gostar tanto de um velho que bem poderia ser seu avô. Isso o entristecia! Ela manifestou que não era exatamente do velho que gostava, mas sim de si mesma... Estava convencida disso graças ao velho mesmo.
Péricles protestou dizendo que o velho devia ser esperto e que aproveitou a ingenuidade de sua pretendida. Nancy discordou... Mostrou que estava convencida de que o velho era inteligente e que ele conseguira fazê-la superar a ingenuidade. Dessa forma podia entender que tipo de coisa podia torná-la feliz. O rapaz desprezou completamente aquelas considerações e perguntou em tom de desafio se daquele modo havia deixado de ser ingênua.
Nancy respondeu que por convicção adotara aqueles princípios. Em primeiro lugar pretendia ser feliz... As mulheres nutrem amor pelos outros, mas ela amava a si mesma. Dedicar-se a amar “outros” (apaixonar-se pelos homens) era algo que abalava a felicidade. Entendia que isso é perturbador e não podia suportar que as mulheres prosseguiam amando sem conseguir fugir desse sentimento. Qual mulher podia ser realmente feliz? Só mesmo “aquela que ama a si mesma”.
O jovem Péricles a ouviu com atenção e por fim disse que as ideias que acabara de escutar eram loucas, de “gente velha”. Nancy devolveu que o velho dizia que se tratava de uma “nova compreensão da vida”. E disse ainda que não tinha como não concordar com ele.
Leia: “Deus lhe pague”. Ediouro.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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