sexta-feira, 8 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – as “lições” que Sem Medo tirou da história com a Leli; a presença marcante da mulher nos momentos que antecedem o combate; de congestão e superstições do Comissário; mais do comandante a respeito da vida a dois

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-leli-foi.html antes de ler esta postagem:

Sem Medo disse que tirara alguns ensinamentos de toda aquela amarga experiência...
Um deles é o de que o “homem verdadeiro” jamais se deixa dominar emocionalmente. Ele sublima as paixões para permanecer firme em seus propósitos mais elevados. Outro é a respeito da relação dominador/dominado... O que domina e exerce exploração é também (em parte) dominado... Toda relação humana apresenta suas contradições e não existem as que sejam perfeitas... E disse mais: é claro que só os que tomam a iniciativa de agir é que podem lograr êxito, e a este respeito acrescentou que todos os atos, inclusive os de coragem, deveriam se relacionar a objetivos. Quer dizer, o sujeito deve ter claro a meta que traz consigo mesmo que não a manifeste costumeiramente...
Por fim definiu que não devemos nos intrometer nos atos de outras pessoas ainda que os consideremos errados. Em sua opinião, cada um deve experimentar os fracassos a partir das próprias iniciativas e, depois disso, talvez aceite melhor os conselhos. Todo plano só pode ser taxado como mau a partir do momento em que se conclui que ele definitivamente não tem como atingir os objetivos a que se propõe.
(...)
O Comissário Político ouviu aquelas sentenças todas e admirado observou que Sem Medo tinha aproveitado as experiências de sua vida para tirar delas algo relacionado às estratégias militares... E isso desde a sua estadia no seminário católico, passando pelos relacionamentos amorosos... Uma vida “modelada para a guerra”.
Seria o caso de saber se ele ainda pensava na Leli. Sem Medo respondeu que isso sempre ocorria antes das ações de confronto e podia mesmo dizer que as situações sempre lhe davam força para o combate (a respeito de Leli e o efeito de sua recordação nas ações de combate de Sem Medo seria interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/06/mayombe-de-pepetela-o-comandante.html e https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/06/mayombe-de-pepetela-emboscada-ofensiva.html).
O Comissário quis saber se essa era a principal razão que o levava a lutar... A resposta foi negativa, até porque antes de conhecer a Leli já lutava. Todavia há muitos motivos para lutar e não seria correto dizer que aqueles episódios e a tragédia que a vitimou não fossem motivações relevantes.
(...)
Sem Medo decidiu mergulhar... Afundou até quase perder o fôlego. Depois sugeriu ao camarada que fizesse o mesmo. O Comissário perguntou sobre quem faria a guarda caso ele topasse... O comandante sugeriu o revezamento e voltou a dar umas braçadas.
Aproximou-se novamente da margem e deu a entender que o Comissário podia aproveitar do frescor das águas do Mayombe. Ele rejeitou a ideia alegando que tinha acabado de se alimentar... Sem Medo respondeu que aquelas ideias não passavam de crendices. A congestão só ataca aos que se intimidam com a possibilidade de contraí-la.
O Comissário Politico insistiu que seria uma “estupidez morrer de congestão”. Para Sem Medo, há estupidez na morte por si mesma. Sendo assim, o camarada podia experimentar o mergulho que nada de mal lhe ocorreria!
No final das contas o Comissário não mergulhou. Perguntou por que será que a Leli, mesmo sabendo que amava ao jovem Sem Medo, chegou à conclusão de que estava apaixonada pelo outro tipo.
Para Sem Medo, todo amor tende a tornar-se desapaixonado na medida em que a mesmice passa a dominar a vida do casal. Nesse caso, é preciso “reavivar a paixão constantemente”... Isso não ocorreu entre ele e Leli porque, em sua opinião, era ainda muito imaturo... E olha que por um tempo a garota havia se interessado pelos estudos do marxismo que faziam juntos! Mas Sem Medo se acomodou e deixou que a rotina dominasse o cotidiano. Então, quando o outro apareceu metendo-se a poeta, Leli derreteu-se em sentimento e se imaginou sua “musa inspiradora”.
Sem Medo conheceu parte dos poemas que lhes foram apresentados pela própria Leli. Garantiu que eram sofríveis... Mas o que podia fazer se ela não possuía senso crítico mais apurado?
Ainda era preciso considerar que antes mesmo de ir para junto do poeta, Leli conhecia muitos dos defeitos de Sem Medo. Depois que reataram, ela lhe falou a respeito do tipo e de seu modo de ser, e foi dessa forma que ele conheceu os defeitos do adversário.
Assim se tornou fácil retomá-la e até por isso não achou necessário aplicar qualquer “corretivo” ao outro.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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