sexta-feira, 22 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – revelador diálogo entre Ondina e o noivo João; o Comissário percebe que não conhecia totalmente sua companheira; dificuldade para admitir que tudo está acabado

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-ultima-troca-de.html antes de ler esta postagem:

Por causa da insistência do Comissário, Ondina acabou contando que havia pegado uma carona com o André... Disse que ele parou o jipe num bar, onde tomaram cerveja... E que no caminho de volta para a escola parou o veículo novamente, dessa vez, perto do capinzal, para onde os dois seguiram e tudo o mais aconteceu.
(...)
Ondina perguntou o que mais o noivo queria saber... Ele disse que a conhecia bem e que sabia que ela não se sujeitaria à vontade do outro.
Será mesmo que a conhecia? Ondina o fez refletir sobre isso e explicou que o André a beijou no jipe e depois a convidou para o capim... Foi assim que aconteceu, e ela simplesmente aceitou.
O Comissário perguntou por que ela permitiu que o outro a beijasse. A resposta ainda mais o decepcionou. Ondina disse que não sabia o motivo, admitiu que talvez ela também sentisse o desejo de ser beijada. É claro que João insistiu que aquilo não devia ter acontecido de súbito, mas ela devolveu que tudo dependia das circunstâncias e também do homem que a abordasse. Salientou que se sentia só e que achava o André um tipo bonito.
João (como sabemos, era pelo nome que Ondina chamava o noivo) quis saber se Ondina já não sentia amor por ele... Ela respondeu que há várias formas de amor e que não tinham de se importar com isso, pois se afastaria definitivamente, iria para outra região, e ele estava livre para se unir a outra mulher.
Essas palavras trouxeram mais amargura ao Comissário, que insistia que não teria interesse por nenhuma outra mulher. Então Ondina chamou-lhe a atenção e disse que estava se portando como um infantil... Disse que ele devia pensar, por exemplo, no que teria ocorrido se o encontro não houvesse sido flagrado... Ele devia saber que andaram espionando o André para pegá-lo em situações embaraçosas exatamente para denunciá-lo à Direção. O jipe estacionado junto ao matagal despertou a curiosidade das pessoas que só tiveram o trabalho de esperar que o casal retornasse para o carro.
Mas e se não os tivessem flagrado? Ondina garantiu que o caso viria à tona e o Comissário ficaria sabendo de tudo. Ela explicou que, de qualquer modo, lhe escreveria. Tanto é que redigiu a carta sem saber que o caso já havia se tornado público. De sua parte, jamais esconderia a verdade do noivo.
(...)
Quando mais Ondina falava, mais o Comissário se sentia confuso. Simplesmente não conseguia entender como é que ela (que nunca se interessara pelo outro) se envolvera daquela maneira.
Ela disse que não haveria qualquer relacionamento futuro com o André... Então ele tomou-lhe as mãos e disse que o noivado não estava de nenhum modo acabado, pois não se importava com o ocorrido.
Ondina queria que ele entendesse que não estava mais interessada e que tudo estava acabado. Em vez de aceitar essas palavras ou se irritar, o Comissário preferiu manifestar a sua culpa no episódio ao dizer que da última vez que se encontraram tinha sido muito ríspido com ela e que podiam retomar o noivado sem maiores discussões.
Ondina quis que João entendesse que nada seria como antes, pois certamente ele se queixaria mais tarde porque não conseguiria esquecer de uma vez por todas a ofensa que sofrera. Ele garantiu que não se importava com o que havia ocorrido e que não mais falaria a respeito.
Ela parecia segura de suas afirmações e insistia que João viveria, sim, na expectativa de receber outras cartas dela com conteúdo semelhante.
Ele se mostrou ainda mais triste e quase sem energia para continuar a falar, então sussurrou que a amava. Ondina lamentou e afirmou que esse sentimento ainda mais complicava a situação... Não fosse isso e poderiam ser amigos.
(...)
O discurso do Comissário não dava margens para outro tipo de relacionamento... Ou prosseguiam o noivado, ou se tornavam inimigos. Disse isso e a abraçou.
Ela permitiu-se aos afagos nos cabelos, mas virou-se quando ele tentou beijá-la. Nesse mesmo instante sentenciou que já não o amava.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-desastrosa.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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