Por causa da insistência do Comissário, Ondina acabou contando que havia pegado uma carona com o André... Disse que ele parou o jipe num bar, onde tomaram cerveja... E que no caminho de volta para a escola parou o veículo novamente, dessa vez, perto do capinzal, para onde os dois seguiram e tudo o mais aconteceu.
(...)
Ondina
perguntou o que mais o noivo queria saber... Ele disse que a conhecia bem e que
sabia que ela não se sujeitaria à vontade do outro.
Será mesmo que a conhecia? Ondina o fez refletir sobre
isso e explicou que o André a beijou no jipe e depois a convidou para o capim...
Foi assim que aconteceu, e ela simplesmente aceitou.
O Comissário perguntou por que ela permitiu que o
outro a beijasse. A resposta ainda mais o decepcionou. Ondina disse que não
sabia o motivo, admitiu que talvez ela também sentisse o desejo de ser beijada.
É claro que João insistiu que aquilo não devia ter acontecido de súbito, mas
ela devolveu que tudo dependia das circunstâncias e também do homem que a
abordasse. Salientou que se sentia só e que achava o André um tipo bonito.
João
(como sabemos, era pelo nome que Ondina chamava o noivo) quis saber se Ondina já
não sentia amor por ele... Ela respondeu que há várias formas de amor e que não
tinham de se importar com isso, pois se afastaria definitivamente, iria para
outra região, e ele estava livre para se unir a outra mulher.
Essas palavras trouxeram mais amargura ao Comissário,
que insistia que não teria interesse por nenhuma outra mulher. Então Ondina
chamou-lhe a atenção e disse que estava se portando como um infantil... Disse
que ele devia pensar, por exemplo, no que teria ocorrido se o encontro não
houvesse sido flagrado... Ele devia saber que andaram espionando o André para
pegá-lo em situações embaraçosas exatamente para denunciá-lo à Direção. O jipe
estacionado junto ao matagal despertou a curiosidade das pessoas que só tiveram
o trabalho de esperar que o casal retornasse para o carro.
Mas
e se não os tivessem flagrado? Ondina garantiu que o caso viria à tona e o
Comissário ficaria sabendo de tudo. Ela explicou que, de qualquer modo, lhe
escreveria. Tanto é que redigiu a carta sem saber que o caso já havia se tornado
público. De sua parte, jamais esconderia a verdade do noivo.
(...)
Quando
mais Ondina falava, mais o Comissário se sentia confuso. Simplesmente não
conseguia entender como é que ela (que nunca se interessara pelo outro) se
envolvera daquela maneira.
Ela disse que não haveria qualquer relacionamento futuro
com o André... Então ele tomou-lhe as mãos e disse que o noivado não estava de
nenhum modo acabado, pois não se importava com o ocorrido.
Ondina queria que ele entendesse que não estava mais
interessada e que tudo estava acabado. Em vez de aceitar essas palavras ou se
irritar, o Comissário preferiu manifestar a sua culpa no episódio ao dizer que
da última vez que se encontraram tinha sido muito ríspido com ela e que podiam
retomar o noivado sem maiores discussões.
Ondina quis que João entendesse que nada seria como antes,
pois certamente ele se queixaria mais tarde porque não conseguiria esquecer de
uma vez por todas a ofensa que sofrera. Ele garantiu que não se importava com o
que havia ocorrido e que não mais falaria a respeito.
Ela
parecia segura de suas afirmações e insistia que João viveria, sim, na
expectativa de receber outras cartas dela com conteúdo semelhante.
Ele se mostrou ainda mais triste e quase sem energia para
continuar a falar, então sussurrou que a amava. Ondina lamentou e afirmou que
esse sentimento ainda mais complicava a situação... Não fosse isso e poderiam
ser amigos.
(...)
O
discurso do Comissário não dava margens para outro tipo de relacionamento... Ou
prosseguiam o noivado, ou se tornavam inimigos. Disse isso e a abraçou.
Ela permitiu-se aos afagos nos cabelos, mas virou-se
quando ele tentou beijá-la. Nesse mesmo instante sentenciou que já não o amava.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto