O Comissário Político tentou arranjar uma explicação para todas as críticas que Sem medo fez, principalmente às mulheres que se mantêm submissas...
Disse que a sociedade é machista, e que a mulher é acostumada a ser a “dona de casa” sempre a serviço do marido, “ser supremo” a quem cabe a subsistência da família. Emendou que, talvez por defesa, a mulher se coloque numa condição de submissão.
Sem Medo respondeu que até podia ser, mas lembrou que há mulheres que jamais se submetem... E que até quando não trabalham colocam-se em condição de igualdade com os homens. O Comissário lembrou que essas são exceções, pois era muito difícil reagir a séculos de dominação.
Sem Medo concordou, mas advertiu que a mulher europeia que havia citado anteriormente era de um país socialista. O Comissário comentou que aquela observação pouco importava porque tinham de admitir que também nos países socialistas a questão da submissão da mulher não estava resolvida e provavelmente seria uma das mais complexas de se alterar devido aos preconceitos solidificados pela sociedade burguesa.
(...)
A conversa à beira do rio chegou ao fim... Podemos
pensar que o Comissário Político enfim se acalmara. E isso em parte é
verdade...
Aconteceu
que retornaram à Base e o certo é que sua noite foi de muita agitação, pois não
conseguiu se desvencilhar da problematização que envolvia Ondina, André e a
organização do movimento.
(...)
Partiram logo cedo para Dolisie. Três dos
guerrilheiros os acompanharam.
Passaram
por várias paragens de nomes curiosos. O texto revela que muitos acidentes geográficos
tinham denominações originadas em situações marcadas por incidentes, sobretudo
que envolviam militantes civis animados com as ações na selva.
Dessa
maneira, havia a “montanha do Cala-a-Boca”, de difícil e demorada trilha, cujo
nome remontava a certa ocasião em que um dos que integrava grupo de
reabastecimento manifestou imenso desgosto diante das dificuldades e se pôs a
chorar... Um dos guerrilheiros o advertiu exigindo que calasse a boca...
E assim era com uma série de outros locais escondidos no
meio da mata. Certo tronco atravessado no caminho era conhecido como a “árvore
do Nuno”, e tudo porque um tipo civil chamado Nuno levou uma queda espetacular
durante outra expedição...
Havia a “descida da Helena”, que tinha esse nome por causa
de escorregão que uma militante levou noutra ocasião... Mais à frente estava o “rio
Ngandu”, onde, num trecho de fácil travessia, outro civil que tinha este nome
de guerra perdeu o equilíbrio e foi para as águas.
Esses nomes e a história de cada um eram conhecidos apenas
pelos guerrilheiros, que muitas vezes faziam graça sobre eles. De certa forma,
essas denominações que só tinham sentido para eles ajudavam nas informações que
trocavam.
(...)
Depois
de passarem pela “montanha do Cala-a-Boca” avançaram por área dominada por um
alto capinzal...
Caminharam um pouco mais e logo atravessaram a fronteira
para o Congo... Angola e suas elevadas montanhas cobertas de matas e nuvens
ficou para trás.
(...)
Chegaram a Dolisie por volta das duas da tarde...
O
Comissário Político seguiu direto para a escola.
Sem Medo encaminhou-se para o escritório político.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-o-velho-kandimba-e.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto