domingo, 10 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – considerações do Comissário sobre a condição de submissão das mulheres enquanto herança das sociedades burguesas; paragens do meio da mata conhecidas pelos guerrilheiros desde incidentes diversos com militantes civis; chegada a Dolisie

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-outras-licoes-de.html antes de ler esta postagem:

O Comissário Político tentou arranjar uma explicação para todas as críticas que Sem medo fez, principalmente às mulheres que se mantêm submissas...
Disse que a sociedade é machista, e que a mulher é acostumada a ser a “dona de casa” sempre a serviço do marido, “ser supremo” a quem cabe a subsistência da família. Emendou que, talvez por defesa, a mulher se coloque numa condição de submissão.
Sem Medo respondeu que até podia ser, mas lembrou que há mulheres que jamais se submetem... E que até quando não trabalham colocam-se em condição de igualdade com os homens. O Comissário lembrou que essas são exceções, pois era muito difícil reagir a séculos de dominação.
Sem Medo concordou, mas advertiu que a mulher europeia que havia citado anteriormente era de um país socialista. O Comissário comentou que aquela observação pouco importava porque tinham de admitir que também nos países socialistas a questão da submissão da mulher não estava resolvida e provavelmente seria uma das mais complexas de se alterar devido aos preconceitos solidificados pela sociedade burguesa.
(...)
A conversa à beira do rio chegou ao fim... Podemos pensar que o Comissário Político enfim se acalmara. E isso em parte é verdade...
Aconteceu que retornaram à Base e o certo é que sua noite foi de muita agitação, pois não conseguiu se desvencilhar da problematização que envolvia Ondina, André e a organização do movimento.
(...)
Partiram logo cedo para Dolisie. Três dos guerrilheiros os acompanharam.
Passaram por várias paragens de nomes curiosos. O texto revela que muitos acidentes geográficos tinham denominações originadas em situações marcadas por incidentes, sobretudo que envolviam militantes civis animados com as ações na selva.
Dessa maneira, havia a “montanha do Cala-a-Boca”, de difícil e demorada trilha, cujo nome remontava a certa ocasião em que um dos que integrava grupo de reabastecimento manifestou imenso desgosto diante das dificuldades e se pôs a chorar... Um dos guerrilheiros o advertiu exigindo que calasse a boca...
E assim era com uma série de outros locais escondidos no meio da mata. Certo tronco atravessado no caminho era conhecido como a “árvore do Nuno”, e tudo porque um tipo civil chamado Nuno levou uma queda espetacular durante outra expedição...
Havia a “descida da Helena”, que tinha esse nome por causa de escorregão que uma militante levou noutra ocasião... Mais à frente estava o “rio Ngandu”, onde, num trecho de fácil travessia, outro civil que tinha este nome de guerra perdeu o equilíbrio e foi para as águas.
Esses nomes e a história de cada um eram conhecidos apenas pelos guerrilheiros, que muitas vezes faziam graça sobre eles. De certa forma, essas denominações que só tinham sentido para eles ajudavam nas informações que trocavam.
(...)
Depois de passarem pela “montanha do Cala-a-Boca” avançaram por área dominada por um alto capinzal...
Caminharam um pouco mais e logo atravessaram a fronteira para o Congo... Angola e suas elevadas montanhas cobertas de matas e nuvens ficou para trás.
(...)
Chegaram a Dolisie por volta das duas da tarde...
O Comissário Político seguiu direto para a escola.
Sem Medo encaminhou-se para o escritório político.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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