quarta-feira, 6 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – Sem Medo conta detalhes sobre a traição de Leli e o modo como ele mesmo pretendeu passar pelo “jogo da reconquista”

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-sem-medo-evita.html antes de ler esta postagem:

Estamos neste ponto em que Sem Medo conta o que seria o “grande segredo” de sua vida ao Comissário. Sentimos que sua intenção era a de tranquilizar o camarada antes de sua visita a Ondina. A narração revela aspectos de sua intimidade com Leli, que havia sido sua grande paixão nos tempos de mocidade.
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Certo dia, Leli abriu-se a respeito de sua intenção de se mudar para junto do outro homem... Sem Medo encheu-se de ciúme e raiva... Quis mesmo procurar os dois pelo vilarejo de barracos para matá-los.
Logo percebeu que estava errado... Entendeu que a decisão da amada tinha a ver com o esfriamento da relação e que o melhor que tinha a fazer era reconquistá-la.
No dia seguinte ela reapareceu dizendo que não tivera coragem de procurar o tipo e que decidira passar a noite na casa de uma amiga. Sem Medo entendeu que ela ainda se sentia bem presa a ele e que talvez seria interessante se passasse pela experiência de viver com o outro. Considerou que só assim poderia vivenciar o processo de reconquista.
Então decidiu rejeitá-la... E fez isso dizendo que não queria mais saber dela. Acrescentou que tinha a intenção de se aproximar de outras mulheres. Essa mudança fez com que Leli estremecesse... Por um momento ele mesmo pensou em recuar, mas por fim decidiu reforçar o discurso de que já não se interessava por ela. Evidentemente isso a deixou arrasada.
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O Comissário Político quis saber por que ele não interrompeu o “jogo” naquele instante mesmo e a reconquistou, como era a sua intenção. Sem Medo respondeu que precisava “consolidar a vitória”.
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O fato é que Leli terminou decidindo mudar-se para junto do tipo... Ele trabalhava nos correios, era “metido a intelectual e extremamente vaidoso”. Mas logo ela começou a perceber que ele não lhe acrescentava em nada.
Sem Medo passou a se encontrar com Leli... A relação dos dois passou a ser de amizade, e ela lhe confidenciava todas as suas desilusões.
Aconteceu que, aos poucos, Leli começou a ver em Sem Medo um tipo amadurecido e mais seguro, que a compreendia como ninguém. De sua parte, este procurou se aperfeiçoar cada vez mais em se apresentar como adulto ao qual ela podia se afeiçoar.
Para ainda mais sufocá-la, Sem Medo fazia questão de ser notado com outras moças... O ciúme a aterrorizava. Enquanto isso, sua relação com o outro só deteriorava. Ela o procurava diariamente e tornou-se comum jantarem juntos. Nessas ocasiões revelava-lhe as muitas angústias. Sem Medo aproveitava para destacar a vaidade e ideias ultrapassadas do tipo.
(...)
O Comissário ficou impressionado com os detalhes e com a “análise de classes” que Sem Medo conseguiu concluir ao deixar claro que os defeitos de Leli a colocavam muito mais na categoria de “grande-burguesa” do que na de “pequeno-burguesa”.
Sem Medo explicou que essa “análise” só se tornara possível tempos depois. Neste ponto da conversa, ele decidiu retirar os pés da água e prosseguiu dizendo que depois de dois meses a Leli se fartou definitivamente do “príncipe”. Então certa noite ela lhe confidenciou que arranjaria um amante. Tomou o cuidado de garantir que no tempo em que moraram juntos jamais o traíra devido ao respeito que sempre tivera por ele.
Sem Medo entendeu que esse era o momento certo para convidá-la a passar a noite em sua casa. O fato é que dançaram por várias horas até que ele percebeu a ocasião perfeita para puxá-la para a cama. A noite inteira foi da mais intensa paixão.
Na manhã seguinte, Leli dirigiu-se à casa do tipo para recolher suas tralhas.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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