Ao ouvir de Ondina que ela já não nutria nenhum sentimento de afeição por ele, o Comissário ficou muito nervoso e vociferou que não acreditava em suas palavras.
Na sequência, completamente desequilibrado emocionalmente, ele a abraçou com violência, forçou o beijo e a acariciou sem que ela se mostrasse disposta a isso. Quando teve chance, disse que era melhor não prosseguirem, mas ele ainda mais a atacou despindo-a e a atirando sobre a cama.
Seu raciocínio era simplista... Conseguiria à força a relação que mostraria a ela que ainda havia paixão entre eles. Mas o resultado não poderia ter sido pior, pois Ondina manteve-se tensa durante a ação desesperada do Comissário... Este logo se levantou e atirou-se aos pés dela.
Ela afagou-lhe os cabelos. Enquanto chorava sobre os seios da amada, João convenceu-se de que havia acertado em sua iniciativa e que teria nova chance... Os dois se deitaram novamente e dessa vez sem a brutalidade anterior.
(...)
Tudo
o que ele queria era ouvir que permaneceriam juntos. Todavia, Ondina manteve
sua conduta, disse-lhe que até poderia lhe declarar amor, ele sossegaria, mas o
caso é que outros dias viriam em que ela lhe diria o contrário e o
relacionamento seria tomado por novas tormentas.
Podemos notar que Ondina não via futuro para a união dos
dois. Ela tinha certeza de que o trairia novamente. E como não queria magoá-lo
ainda mais, gostaria de selar o fim. Todavia ele se mostrava satisfeito com o
entrosamento do momento...
Voltaram
a se abraçar.
(...)
Sem
Medo fora à escola...
Esperava ver o Comissário, mas por motivos que bem
conhecemos isso não foi possível, então retornou a Dolisie.
Já estava deitado há algum tempo, quando o João entrou no
quarto.
O rapaz parecia bem animado e foi logo dizendo que tudo se
arranjara, pois a noiva voltaria para ele.
(...)
O
Comissário estava esperando uma opinião satisfatória de Sem Medo... Este
respondeu que ficou contente por saber que tinham resolvido a situação, mas não
podia dizer muito mais do que isso, afinal o casal é que tinha de se entender e
buscar o melhor para o relacionamento.
O Comissário garantiu que o que havia se passado entre
Ondina e o André não tinha a menor importância. Exclamou que já ficara para
trás. O impulso a havia levado à traição, e isso devia ser perdoado por ele.
Sem Medo perguntou ao camarada se, de fato, ele não
dava importância ao desliza da noiva... A fisionomia do Comissário se alterou e
depois de um tempo ele respondeu que faria o possível para se habituar à ideia.
(...)
Sem
Medo o observou com atenção ao mesmo tempo em que refletiu a respeito do que
tinha acabado de ouvir. Não acreditava que o camarada conseguisse admitir o o “novo
relacionamento” conhecendo tudo o que havia se passado. Lembrou-se de sua
experiência com a Leli... Entendeu que Ondina era mulher do tipo dominadora,
enquanto que a sua Leli havia se tornado submissa. O que podia fazer? A
comparação não era das mais fáceis... Mas nos dois casos tinha a certeza de que
não eram elas o problema.
O que João desejava era estar no controle da relação. O
tempo mostraria a (in)consistência do relacionamento. É mais ou menos o que
havia ocorrido com Leli, que tentou reconquistá-lo, mas nem se poderia afirmar
que essa fosse mesmo a sua decisão. Talvez, se tivesse tempo, pudesse encontrar
outro que a amasse de verdade.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-o-comandante-nao-da.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto