segunda-feira, 11 de março de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – o velho Kandimba e sua agressividade na recepção ao Sem Medo; o enviado de Brazzaville chegou ao escritório político com André; o prisioneiro revela-se assustado e com medo de ser assassinado

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/03/mayombe-de-pepetela-consideracoes-do_10.html antes de ler esta postagem:

No escritório político estava Kandimba, que contava certa idade e era um antigo quadro do movimento. Sem Medo solicitou algo para comer, mas ele disse que não havia nada para almoçar... Ele emendou que o André sequer dera as caras e que Brazzaville mandara um dirigente para apurar os últimos acontecimentos, mas no momento não estava presente.
Sem Medo estava com tanta fome que pediu ao velho que lhe arranjasse ao menos um pão. Kandimba trouxe-lhe meio pão e, quase como se estivesse a provocar, perguntou se era assim mesmo que a partir de então passavam a se intrometer “com as mulheres dos outros”.
O comandante questionou salientando que o velho parecia incluí-lo entre os que abusam do poder para se aproveitarem das mulheres “dos outros”. Kandimba confirmou que estava se referindo aos kikongos como um todo.
(...)
Sem Medo logo notou que o tribalismo era motivo de radicalizações também em Dolisie. Enquanto Kandimba lhe dava uma toalha de banho, fez questão de acrescentar que o André havia sido bem esperto ao fugir, pois certamente levaria um tiro se permanecesse no escritório político.
Sem Medo respondeu que o outro merecia isso mesmo... Kandimba pareceu surpreso e enquanto retomava a toalha abanou a cabeça. Conforme cuidava do pano molhado, o velho notou um maço de cigarros no bolso da camisa do comandante e foi pedindo um. Sem Medo o autorizou a pegar mais de um e perguntou se o André não repassava dinheiro ao pessoal em serviço. Kandimba deu a entender que aquilo nunca ocorria.
(...)
Logo o enviado de Brazzaville chegou, Sem Medo foi ter com ele. No gabinete estava também o André, que se mostrava bem decepcionado.
O dirigente cumprimentou o comandante, que apontou para o André e exclamou a respeito da demora em se chegar a ele.
Via-se um André envergonhado, mesmo assim ele quis mostrar certa altivez ao perguntar ao Sem Medo se não o cumprimentava também. Este respondeu-lhe que a única saudação que poderia lhe dispensar era um murro.
No momento em que Kandimba se retirou do gabinete, o dirigente explicava que o André foi encontrado numa casa e que dera muito trabalho para entregar-se. O tipo gritou que tinha certeza de que o matariam, e é por isso que não queria que o trouxessem novamente a Dolisie.
Sem Medo emendou que o Comissário Político viera com ele desde a Base. E foi então o André ainda mais se apavorou e pediu que o deixassem ir embora.
Mas não é que o André parecia ser um tipo mais corajoso quando se decidia a envolver-se com as mulheres dos outros? Sem Medo soltou essa provocação enquanto o dirigente enviado por Brazzaville dizia que ninguém ousaria a atacar o prisioneiro, que ficaria em segurança num quarto vigiado por militantes escolhidos para este fim.
(...)
O André devia se tranquilizar porque sua estadia em Dolisie ocorreria apenas enquanto o inquérito durasse. Depois cumpriria a punição em Brazzaville.
Essas palavras do dirigente não o deixaram mais calmo, pois ele logo manifestou que os mesmos que fariam a guarda à porta do quarto o matariam.
Sem Medo não estava suportando as lamentações e ordenou que o tipo “parasse de chorar como galinha”. E acrescentou que ninguém perderia nada caso fosse mesmo assassinado.
O dirigente chamou a atenção de Sem Medo para que parasse com aquele tipo de terrorismo.
Na sequência, André acompanhou os dois guerrilheiros bem armados que o conduziram ao quarto. O dirigente chamou Sem Medo para a conversa que mais interessava.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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