Isabel não conseguiu entender as palavras da prima, que insistia em demonstrar que não havia nenhum litígio entre ambas... Finalmente ela resolveu dizer que não tinha como ser feliz porque Álvaro, a quem amava apaixonadamente, era louco de amores unicamente por Cecília.
Como se estivesse protestando, Cecília respondeu que a afirmação da outra não era verdadeira... Garantiu que a conclusão da prima era enganosa... Disse isso e se encaminhou para a porta. Mas estava se esquecendo da caixinha de veludo que trazia consigo, então retornou e a abriu. Tirou o bracelete e o colocou no braço de Isabel.
Enquanto Cecília elogiava o caimento do adorno no moreno braço da prima, esta refletia sobre o bracelete, sua origem e real finalidade... Cecília mentiu, dizendo que o pai havia encomendado dois, sendo que cada uma delas receberia um. Pediu que Isabel não o retirasse do braço, pois ela também colocaria o seu e, assim, “ficariam irmãs”... Disse isso e saiu do quarto da prima mandando-lhe beijos.
(...)
D.
Antônio andava preocupado com o futuro de sua família... Embora demonstrasse a
energia que as importantes tarefas da administração do lugar exigiam,
considerava que era momento de definir um “testamento”.
No
mesmo momento em que Cecília se entendia com a sua prima a respeito do
bracelete e da amizade sincera que deveriam cultivar, o fidalgo chamou o filho
d. Diogo e Álvaro para uma conversa em seu gabinete d’armas...
(...)
O
local ficava ao lado do oratório e se tratava de um pequeno ambiente (uma
saleta). Ali havia uma portinha de acesso a outro local mais abaixo, uma cava
natural (“um sovacão profundo talhado na pedra”) que bem poderia servir de
adega... Mas em vez de bebidas, d. Mariz decidiu que o lugar dava um excelente
depósito de pólvora... É claro que o local poderia representar grave perigo à
casa e à família, mas é certo que apenas o fidalgo tinha acesso àquele ambiente.
Reunido
com os dois jovens, ele principiou dizendo que os ares da terra brasileira
deram-lhe vigor, mas entendia que alcançara a idade (60 anos) de tomar algumas
providências que garantissem a preservação de seu nome e a felicidade e
segurança dos familiares. Evidentemente os dois rapazes se espantaram ao
conhecerem as pretensões de d. Antônio com aquele encontro... Álvaro e Diogo
demonstraram que não concordavam com a dramaticidade de d. Mariz e quiseram
fazê-lo perceber que ainda era “forte e vigoroso”, mas o fidalgo solicitou que
não o interrompessem no anúncio de suas deliberações...
Ele
esclareceu que, em vez de tratar de testamento com um escriba, como era a
praxe, entendia que homens como eles (“fidalgos de almas nobres”) deviam seguir
os preceitos do entendimento a que se chega com o diálogo “olho no olho”,
carregado de palavras que atingem o coração (o verdadeiro e seguro depósito das
máximas que d. Mariz pretendia transmitir).
Iniciou dirigindo-se a d. Diogo, o natural
herdeiro de toda fortuna e chefia da família... Fez referências a d. Lauriana
que, no caso de sua morte, seria amparada pelo filho amoroso... A ambos d.
Mariz dedicava amor até o fim de suas vidas. Depois chamou a atenção para duas
preciosidades que experimentara durante a sua existência: a felicidade de
Cecília e a nobreza do nome Mariz, legado deixado por seu pai... Este seria
transmitido a d. Diogo, e o velho Mariz confiava que o filho se esforçaria para
elevá-lo, mantendo-se fiel e a serviço de causas justas e santas... Sobre
Álvaro, d. Mariz teceu elogios em referência aos dez anos de vivência junto à
família, então a ele foi destinado proteger e (cuidar de) manter a felicidade
de Cecília.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-detalhes.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto