sexta-feira, 27 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – momentos de prostração na casa; Álvaro e Isabel conversam sobre seus sentimentos; revelações, desalento, compromissos e esperança

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-tregua-nao.html antes de ler esta postagem:

Vimos que os agregados de d. Mariz suportavam aos ataques aimoré como podiam... Notamos também que, apesar da altivez que procuravam demonstrar, a esperança era minguada.
(...)
D. Antônio saiu para render Álvaro... Pouco depois o moço entrou, e via-se que o seu gibão havia sido rasgado por uma flecha que quase o atingiu. Como o forro de seu casaco era escarlate, a impressão que se tinha era que o rapaz estivesse sangrando... Imediatamente Isabel aproximou-se dele para prestar socorro. Ele explicou-lhe o que havia se passado enquanto era conduzido pela mão dela até o local onde estava instalada (próximo à janela) há um bom tempo.
É certo que ele tentava se desvencilhar sua mão das dela, mas era verdade que a precária condição em que estavam vivendo havia aproximado os seus corações... Olhares e palavras eram trocados entre eles mais do que nos tempos de paz. Álvaro percebia que os seus sentimentos em relação à moça estavam alterados. Ele a amava, mas a sua “ética fidalga” forçava-o a manter-se fiel à promessa que selara junto a d. Mariz... O moço vivia o conflito entre esse amor e a necessidade de anulá-lo. Intimamente não queria exigir que Isabel desistisse de seus sentimentos, pois ele também estava apaixonado...
Era uma luta em que ele sabia que estava sendo derrotado. Se o encontro que tiveram por ocasião do passeio se repetisse, certamente Álvaro cairia aos pés de Isabel... Doía-lhe notar que a moça não mais o perseguia, mantendo-se reservada e sem esperanças de ser correspondida.
Mas as circunstâncias permitiam a aproximação dos dois. Ele quis saber o que ela queria... Isabel, que era só encanto, respondeu que desejava apenas olhá-lo mais calmamente porque não tinha certeza se teria outra chance... Álvaro pediu-lhe que não alimentasse pensamentos tristes. Sobre isso, ela revelou que o observava pela fresta da janela e viu quando ele quase foi atingido... O rapaz espantou-se com a imprudência da menina, pois a fresta aberta, e já crivada de flechas, se tornava um alvo para os guerreiros aimoré...
Isabel ouviu as advertências do amado e respondeu que sua vida nada valia, pois nada a prendia além de poder acompanhá-lo “com os olhos e o pensamento”. Álvaro deixou escapar que a tristeza manifestada por Isabel partia-lhe a alma. Ela lamentou que até naquela situação o fizesse sofrer, pois via que ele procurava manter-se apartado dela para evitar que Cecília pensasse algo relacionado a algum sentimento que ele pudesse nutrir por ela... O rapaz respondeu que o seu medo era o de realmente amar Isabel.
Os dois se comoveram com as palavras que trocaram... Principalmente porque Álvaro deixou escapar o seu segredo de amor... Para evitar maiores complicações, o moço completou dizendo que ela não sabia que ele havia prometido a d. Mariz tornar-se marido de Cecília. Como que a se desculpar, falou que estava obrigado a cumprir o que havia prometido, a menos que a própria Cecília o rejeitasse... Enquanto isso não ocorresse se sentiria um “homem desleal” no caso de amar outra mulher.
Ao seu modo, Isabel compreendia a situação do amado... Ela se identificava como “aquela que ama sem ter esperança”, e mais, ao conhecer o “compromisso moral” de Álvaro, seu sentimento se tornava um martírio para o amado... Concluiu que só a morte poderia libertar o coração de um “primeiro e santo amor”. O rapaz pediu a ela que não pensasse daquela forma e disse que aquela loucura que acabara anunciar poderia ser justificada pela desonra...
Após breve reflexão, Isabel respondeu que a felicidade da pessoa amada também justificaria um ato extremo como a morte... Evidentemente Álvaro ficou sem entender o que ela quis dizer... A moça explicou que reconhecer-se como a razão do sofrimento da pessoa amada pode levar-nos à anulação da própria vida para permitir que o amado se realize... Disse isso e destacou que passava a ter medo de ser amada...
Álvaro tomou-lhe as mãos e suplicou-lhe que, se era fato que nutria afeição por ele, não desejava que ela o recusasse. Pediu-lhe com sinceridade que eliminasse aqueles pensamentos negativos de suas reflexões... Isabel se emocionou com as palavras do amado, e ponderou dizendo que a vida que ele pedia para conservar era a que ele mesmo desprezava... Arrematou essa consideração com uma ousada proposta: se ele aceitasse a sua vida como propriedade não haveria motivos para suplicar-lhe.
O cavalheiro retirou-se da sala, mas não sem dizer “sim”, aceitando a sugestão da amada.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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