Peri entendeu que era momento de esclarecer d. Antônio sobre tudo o que havia ocorrido e se dirigiu até ele. Sabemos também que enquanto os aventureiros protestavam, inflamados por Loredano, sobre a sua condição na propriedade do Paquequer, o fidalgo apareceu entre eles...
(...)
D. Mariz ficou a par dos episódios graças aos esclarecimentos prestados
por Peri... Ele conseguiu alinhavar outras informações que lhe foram passadas
por Álvaro e também por Aires Gomes...
O escudeiro dormiu depois
da conversa regada a vinho com o mestre Nunes... Ele foi despertado pela
movimentação e gritaria dos aventureiros que se levantaram por causa da
inundação... Então constatou que a porta de seu aposento estava trancada por
fora. Despertou Nunes para saber se ele conhecia as razões daquilo. De repente
ouviram a voz de Loredano e entenderam que o bandido devia estar por trás da
trama... Foi com a ajuda de mestre Nunes que Aires Gomes conseguiu subir ao
telhado e, de lá, dirigir-se até d. Antônio para comunicar-lhe sobre a
insurgência.
O fidalgo relacionou as denúncias que ouviu de Peri
com as de seu escudeiro. Comunicou-lhes que iria ter com os aventureiros para
resolver pessoalmente, e sem perturbar o sossego da casa. Solicitou que o
aguardassem. Álvaro, que quis segui-lo, foi impedido com a argumentação de que
a presença dos três era necessária ali para garantir a proteção das mulheres.
(...)
D. Antônio quis saber dos aventureiros o que pretendiam dele e garantiu
que se fosse “de justiça” iria satisfazê-los, mas se estivessem em alguma
“falta” seriam punidos... Aconteceu que ninguém teve coragem de se
pronunciar... O patrão perguntou se não estavam tramando algo que escondiam
dele... Então Loredano se adiantou aos demais para se pronunciar em nome de todos...
Ele disse que ali eram tratados como cães, que estavam sendo sacrificados um a
um e que, por isso, reivindicavam “os seus foros de homens e cristãos”. Ao
dizer isso, recebeu o apoio dos demais, que disseram que não eram escravos e
que valiam mais do que um herege... O fidalgo ouviu pacientemente, mas quando a
gritaria aumentou, exigiu silêncio, chamou-os de vilões e, na sequência, de
traidores infames.
Obviamente os aventureiros se irritaram com as palavras
de d. Mariz... Loredano aproveitou o momento para gritar e invocá-los à ação...
Perguntou-lhes se aceitariam os insultos e o desprezo... Em resposta eles
também gritaram que “não”, empunharam os seus punhais, cercaram o fidalgo e o
ameaçaram... D. Antônio permaneceu altivo e, em vez de ameaçado, parecia “senhor
da situação”.
Assim ficaram por um bom tempo porque os aventureiros não ousaram investir
sobre d. Antônio... É certo que, se alguém desse início ao massacre, os demais
avançariam. Loredano notou que a situação permaneceria indefinida se ele mesmo
não partisse para cima de seu rival... Então, com a mão firme em seu punhal,
aprontou-se para o golpe. D. Antônio “com um gesto nobre” desvencilhou-se
enquanto dominava a cabeça do italiano com a mão fechada. O bandido ficou com
os dedos paralisados e recebeu um golpe na fronte... O fidalgo derrubou-o com a
ponta do pé.
Os demais aventureiros ficaram como que congelados e ouviram d. Antônio
exigir que baixassem as armas... Ele proclamou que sua vida honrada chegaria ao
fim apenas por “morte justa e gloriosa” reservada por Deus... Os tipos
retrocederam e recolheram os punhais... Enquanto isso o inclemente d. Mariz
anunciava que os castigaria rigorosamente... Quatro dentre eles seriam executados pelos
demais... Na sequência apontou para o Loredano estirado ao chão e explicou que
depois de uma hora ele seria executado à frente de todos. Ele morreria como o
cão “sentenciado pelo seu dono”... O italiano seria entregue ao “baraço (a
corda destinada aos que são condenados à forca) e ao cutelo”...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-misteriosa.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto