Peri desapareceu pela mata... O índio percorreu um trecho e parou para esperar os criminosos... Enquanto verificava suas armas, notou a passagem da “pequena cavalgata” (d. Diogo e seus quatro acompanhantes). Não entendeu a situação, mas percebeu que teria de mudar seu plano. Resolveu que deveria se esclarecer com Álvaro.
Ele voltou à casa... Álvaro explicou-lhe que aproveitou para incluir Loredano no grupo que deveria acompanhar d. Diogo. Garantiu que isso era uma forma de expulsá-lo dali sem causar escândalo... O índio resolveu contar sobre o episódio da touça de cardos e tudo o que tinha escutado... Falou sobre o seu propósito de eliminar os três malfeitores e sobre a “carta” que havia solicitado a Cecília... Álvaro permaneceu cético em relação à narração de Peri e não acreditava que o que ouvia fosse uma revelação da verdade sobre o italiano.
Peri deu a sua opinião sabre a necessidade de expulsar também Bento Simões e Rui Soeiro... Mas Álvaro garantiu que não haveria essa necessidade, pois considerava que Loredano não mais se animaria a voltar... Pode ser que Álvaro levasse em consideração a necessidade de manter os homens na defesa do casarão contra os ataques dos aimoré... Em todo caso, para acalmar o amigo índio, disse que falaria com d. Mariz.
(...)
A d. Antônio restava organizar a defesa, e é por isso
que encarregava os aventureiros às tarefas como a construção de paliçadas ou a
instalação de uma colubrina (um canhão de boca comprida e fina; um canhão de
embarcação) que ele havia encomendado do Rio de Janeiro há algum tempo...
(...)
O casarão estava triste... D. Diogo havia partido e a incerteza sobre o
ataque aimoré também preocupava os moradores... Mas Isabel era um tipo à parte,
pois só tinha pensamento para o amor que devotava a Álvaro.
Ela se sentiu muito envergonhada depois que revelou
seus sentimentos... Recordar as palavras que dissera ao amado era-lhe um
tormento. Ela não entendia como se encorajara a se abrir perante o amado... Seu
acanhamento era tão grande que não via possibilidades de olhá-lo novamente.
Apesar disso, notava que seus sentimentos em relação ao rapaz só aumentavam...
Prova disso é que a lembrança das palavras proferidas por ele era insistente.
À tarde daquela segunda-feira, por acaso, os dois se encontraram por
breve momento na esplanada... Num primeiro instante nada falaram... A moça se
encorajou e disse que queria devolver o que não lhe pertencia, ou seja, o
bracelete... Ela explicou que tentou entregar à Cecília, mas a outra insistia
que o ornamento pertencia a ele. O moço respondeu que, se era assim, dava-o de
presente a Isabel... Ela manifestou-se com humildade, dizendo que não tinha
direito sobre a peça... Álvaro sentenciou que não concordava e insistiu que ela
recebesse o presente “de irmão para irmã”. Então ela aceitou e disse que não o
usaria como ornamento, mas sim como uma preciosa relíquia.
O rapaz se retirou para não prolongar a conversa... Sobre ele também
podemos dizer que não teve como não se comover pelo amor manifestado por
Isabel, uma bela moça. Mas sofria por isso, pois havia dado sua palavra a d.
Mariz sobre assumir a mão de Cecília... Se ela não o aceitava era outra
situação porque no seu entendimento devia dedicar-lhe a própria existência...
Só quando a própria Cecília o desaprovasse abertamente é que se sentiria
desobrigado de sua promessa.
(...)
Acontecimento significativo desse dia foi a
chegada de seis aventureiros da redondeza. Eles foram contatados por d. Diogo
tão logo este se afastara das cercanias do Casarão e resolveram juntar-se aos
homens de d. Mariz para o combate aos aimoré... Entre eles estava o mestre
Nunes, que no ano anterior havia oferecido pouso ao frei Ângelo di Luca.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-d-antonio.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto