domingo, 29 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Peri elaborou um plano para enfrentar os inimigos da casa; à Cecília disse que não haveria o que temer; ao destruir suas armas, entendemos que o seu projeto era “ser vencido”; Loredano e suas reflexões sobre as chances de realização que teve e os riscos de morte que correu

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-momentos.html antes de ler esta postagem:

Mergulhado em seus pensamentos, Peri continuou sua vigília junto a sua senhora. Algo o preocupava... Depois de um bom tempo levantou-se com ares de tristeza e encaminhou-se à porta da sala... A menina despertou e o advertiu sobre a sua promessa de não se afastar... Ele respondeu que desejava salvá-la fazendo algo que tinha em seu pensamento...
É claro que Cecília não entendeu como é que ele poderia trazer alguma solução para o seu padecimento, e mais ainda de que forma ele executaria algum plano sem correr nenhum perigo. Então ela sentenciou que rejeitaria qualquer salvamento que implicasse o sacrifício do amigo. Peri entendeu que as palavras de sua senhora eram uma ameaça... Ele quis sossegá-la dizendo que não temia aos aimoré e que sabia como derrotá-los... A menina não conseguia pensar da mesma maneira porque a primeira coisa que lhe vinha à mente era a grande quantidade de inimigos a serem derrotados... No entanto Peri garantia que derrotaria a todos, aimoré e brancos, ainda que somassem mil agressores.
Neste ponto temos a oposição entre a limitada e temerosa mentalidade de Cecília e a confiança de Peri em seu pensamento (sem dúvida, uma de suas principais armas dadas por Deus)... Sua força física, destreza e inteligência no combate aos inimigos não eram desprezíveis. Mas ele mesmo sabia que elas seriam insuficientes em sua empreitada.
Cecília insistiu que a convicção de Peri era apenas uma ilusão, e que seu sacrifício resultaria em inútil... Mas a cada advertência dela, ele manifestava maior confiança. Ela quis saber de onde vinha a força necessária ao combate que travaria... Ele respondeu que apenas a sua senhora bastava-lhe para encher-lhe de energia... Destacou que ela seria a sua fonte de inspiração...
Cecília se encheu de emoção ao ouvir essas palavras... Disse que ele poderia seguir em seus planos, mas alertou-o (se morresse) que o seu sacrifício seria rejeitado por ela. A palavra final de Peri era de animação... De sua parte, sentenciou que o sol que se levantaria no dia seguinte seria o último para todos os inimigos de Ceci, que poderia sorrir como dantes, e ficar alegre e contente.
Ele disse isso e se retirou... Na esplanada observou o céu e viu que as estrelas já estavam desaparecendo... Neste ponto do texto não temos a menor ideia sobre qual era o projeto do personagem... Percebemos apenas que ele demonstrava muita confiança... Depois de passar pelo jardim, entrou no abandona do quarto de Cecília. Ali pegou cada uma de suas armas e as beijou. Colocou-as no chão e retirou as penas de suas flechas. Na sequência depositou a pluma de seu cocar por cima delas. Quebrou o seu arco e juntou ao monte que se formou... Despediu-se de suas armas selvagens e pronunciou algo referente à eficiência que elas lhe proporcionavam no combate aos inimigos...
Mas a sua ideia era “ser vencido”... O “guerreiro goitacá, nunca vencido” iria sucumbir na guerra... Sua arma (o arco de Ararê) não deveria vê-lo “pedir a vida ao inimigo”.
Peri abraçou suas armas, despedindo-se delas... Depois quebrou a axorca (uma espécie de pulseira) feita de pequenos cocos que levava na perna... Ele pegou dois coquinhos e os partiu “sem separar as cascas”... Fechou-os na mão, levantou o braço e saiu do quarto.
(...)
Enquanto Peri definia seus rituais de entrega ao conflito aberto contra uma quantidade colossal de inimigos, Loredano estava do outro lado da esplanada a caminhar e a refletir sobre os seus últimos dias... Por diversos dias estivera prestes a morrer... E por outras imaginou que a sorte, poder e felicidade estivessem ao seu alcance... Mas pelo visto, enquanto a morte o respeitava, a realização material se desfizera como um sonho que se vai ao despertarmos...
O bandido pensava no ataque iniciado a d. Mariz (que certamente resultaria na destruição de seus inimigos) frustrado pelo ataque aimoré. Decididamente, não fosse aquilo, a situação de momento seria bem diferente e favorável a ele.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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