quinta-feira, 26 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – trégua não negociada; mudanças nos humores da casa após o início dos ataques; dedicação de d. Mariz; devotamento de Peri; recolhimento de Cecília; orações de d. Lauriana; vigilância de Aires Gomes; riscos assumidos por Isabel

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-misteriosa.html antes de ler esta postagem:

Os aimoré chegaram e seus ataques foram incessantes... Nuvens de flechas passavam desde a sua posição (do lado de onde estava a escadaria) até o casarão. Os aventureiros se retiraram ao ambiente ao qual estavam acostumados a se acomodarem. Pode-se dizer que entre eles e d. Mariz, e os de sua parte, houve uma espécie de trégua não negociada, pois todos passaram a combater o feroz inimigo comum.
(...)
Dois dias se passaram e no casarão se instalou toda a família... Na sequência vamos observar um pouco dos procedimentos de cada um durante as horas de desespero.
(...)
O ambiente havia se transformado completamente. A vivacidade deu lugar à tensão e à tristeza... Cecília, por exemplo, teve de abandonar o seu quarto aconchegante (o aposento tornou-se lugar dos “recursos bélicos” de Peri). As janelas da casa permaneciam fechadas...
D. Mariz se esmerava na defesa daqueles que mais amava na vida. Esperava garantir que nada de muito pior do que já vinha ocorrendo acontecesse aos seus... Contava mesmo ser o último a morrer para assegurar o respeito aos entes queridos.
À noite via-se o fidalgo exausto por ter passado horas combatendo aos aimoré. Sentado na cadeira de espaldar não conseguia dormir, pois sua atenção voltava-se constantemente à melancólica sala... Refletia sobre o futuro sem esperança de reverter a situação. Observava Cecília acomodada no sofá e a menina lhe parecia completamente modificada, como que desfalecida. Dos descorados lábios da donzela notava o murmúrio de preces... De joelhos, próximo a ela, estava Peri sempre a zelar por sua segurança.
O índio não a deixava de modo algum. E durante aqueles dois dias de lutas ele enfrentou as mais complexas situações que colocaram em risco a sua vida... Assim havia sido quando se lançou contra um selvagem que, aos gritos, trazia pânico à sua senhora... Também quando a menina mostrou-se amuada e recusando alimentação, Peri retirou-se da casa, enfrentou as flechas lançadas pelos inimigos e penetrou a floresta unicamente para conseguir algum “fruto delicado, um favo de mel envolto em flores”... A tanta extravagância ele se dispunha para amenizar o sofrimento de Cecília, que ela se viu obrigada a proibi-lo de sair de perto...
Apesar de muito debilitada, ela percebia que o amigo corria riscos demais. Certamente não suportaria perdê-lo... Além disso, entendia que se houvesse alguma chance contra os invasores, ela só poderia se concretizar com as inteligentes iniciativas de Peri... Tudo isso à parte, garantir que ele sobrevivesse era apenas uma forma de retribuir toda bondade que ele sempre dedicou a ela.
Isabel permanecia próxima à janela... Ela abriu uma pequena fresta e por ali observava as manobras de defesa do casarão. É claro que só tinha olhos para Álvaro e era com ele que se preocupava. A moça corria um sério risco ao permanecer junto à fresta, que se tornava alvo das flechas aimoré, mas sua aflição em relação aos perigos que o amado corria era muito maior... Apavorava-se ao notar as setas que passavam próximas ao rapaz. O seu desejo era ampará-lo, morrer em seu lugar, ou com ele...
D. Lauriana passava boa parte das horas a rezar. Por aqueles dias revelou toda a sua nobreza e coragem... Com muita calma, e animada por sua fé, contribuía encorajando as meninas, providenciando socorro aos feridos e dirigindo a casa.
Aires Gomes mantinha-se à porta do gabinete. Ali se posicionou desde que tivera a conversa à parte com d. Mariz. O escudeiro dormia em pé, mas o menor movimento no ambiente o despertava. Ele mantinha a mão sobre o fecho da porta e a arma em punho pronta para a ação... Só se retirava quando o fidalgo se sentava na cadeira junto à porta...
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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