sábado, 21 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – d. Antônio fez sua ronda noturna; mas os vigias eram os capangas de Loredano; o italiano chega, fica sabendo dos encaminhamentos e segue com Soeiro; a travessia do abismo até a janela de Cecília; suspense e artimanha na pinguela improvisada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-enquanto.html antes de ler esta postagem:

A noite chegou e, com ela, o silêncio... Os dois homens que faziam a vigilância notaram o vulto de d. Mariz ao longe... Ele estava finalizando a sua ronda... Logo ouviu-se o piar de uma coruja próximo à escada de pedra. Um dos que vigiavam abaixou-se e deixou que duas pequenas pedras caíssem de suas mãos... Depois disso, um vulto subiu a escada e chegou-se aos dois vigias perguntando-lhes se “tudo” estava pronto... Responderam que aguardavam por ele e depois rumaram para onde os demais repousavam... Ali notaram uma claridade que passava pela porta do aposento de Aires Gomes. Um dos três entrou no alpendre escuro, enquanto que os outros dois prosseguiram em direção ao fundo da casa.
(...)
O tipo que permaneceu entre os demais aventureiros era Bento Simões. Os que prosseguiram eram Loredano e Rui Soeiro. Esses travaram um rápido diálogo enquanto seguiam... Em síntese, Loredano (em breve saberemos como ele se livrou da expedição ao Rio de Janeiro) quis saber como os companheiros haviam encaminhado o plano que maquinaram pela manhã... E ficou sabendo que contavam com vinte homens e que “restavam dezenove”... Possuíam uma senha (prata) e tocariam fogo às instalações... Tudo estava arranjado para o momento exato... Loredano encerrou a conversa perguntando se podia contar com a dedicação de Soeiro... Um aperto de mãos selou o entendimento entre os dois... Então o italiano passou a falar sobre o seu amor por Cecília, e ele garantiu que seu sentimento era maior do que o seu interesse pelo tesouro que buscariam.
Obviamente Rui Soeiro ficou espantado com aquela revelação. E mais ainda ao saber que o chefe pretendia sequestrá-la (e até possui-la) ainda naquela noite... Loredano disse que se morresse enquanto buscasse concretizar esse intento exigia que o comparsa impedisse a qualquer outro obter o amor de Cecília... Soeiro deveria matá-la... Sua insanidade atingiu tal degradação que exigiu que uma mesma cova abrigasse os dois cadáveres.
O italiano exigiu que o capanga jurasse que cumpriria aquele combinado... Soeiro, que estava bem assustado, jurou que realizaria os desejos do chefe... Depois disso, Loredano providenciou uma estreita tábua e a colocou sobre o despenhadeiro, garantindo o seu acesso à janela de Cecília. Ele pediu ao comparsa que segurasse a tábua sobre a qual ele caminharia.
Rui manteve a tábua imóvel colocando-se sobre ela depois de acondiciona-la no rochedo... Loredano desfez-se de suas armas para se tornar mais ágil e seguiu com a faca nos dentes.
Abaixo dele estava o precipício com a mata úmida e habitada por serpentes; na extremidade oposta estava a sua amada; para trás deixou Soeiro. Antes combinou que o cúmplice deveria aguardá-lo do outro lado assim que alcançasse a janela... O bandido, conhecendo o caráter vil de seus cúmplices sabia que pela cabeça de Soeiro podia passar a tentação de se livrar do chefe. Bastava tirar o pé do apoio e a tábua se soltaria...
Mas era verdade que o italiano exercia uma influência muito forte sobre todos os seus aliados, e mesmo estando numa situação de total dependência, “impunha respeito ao aventureiro”. Também devemos considerar que Soeiro apostava no sucesso da empreitada até as minas de prata, e isso só poderia se concretizar com a liderança de Loredano. Se a tábua rolasse abismo abaixo, e isso chegou a passar pela sua cabeça, sua vida depravada prosseguiria sem maiores perspectivas.
A improvisada pinguela sofreu alguns abalos, mas Loredano chegou ao seu objetivo e, de lá, disse do modo mais abafado possível que o outro podia tirar a tábua... Esse feito aumentou ainda mais a consideração de Rui pelo chefe... O que ele não sabia é que o italiano havia se precavido em relação a possíveis acidentes ou a uma provável traição do assistente... O precavido Loredano providenciou antecipadamente uma corda passada por um caibro do alpendre (ela permaneceu pendida a “uma braça de distância da janela de Cecília”, mas a escuridão impedia vislumbrá-la)... Na verdade, após dar o primeiro passo, o bandido alcançou a ponta da corda e a amarrou à cintura... Mesmo que a tábua despencasse, ele não cairia no abismo... Mas nada disse ao Rui... Seu intento era testá-lo.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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