segunda-feira, 4 de maio de 2020

Im(de)pressão geral – deste nosso tempo – nº2

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/02/imdepressao-geral-deste-nosso-tempo-n1.html antes de ler esta postagem:

Os juízos a respeito das mudanças estruturais que se processam em nosso país desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff não escondem muitos retrocessos. Aos poucos as pessoas vão percebendo que em nome do liberalismo mais extremado, reduz-se drasticamente a participação do Estado e vários direitos sociais estão sendo retirados da população.
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Está difícil...

Em vez de melhora dos números da economia, assistimos à degradação da condição de vida dos assalariados e o crescimento do desemprego e do subemprego muitas vezes disfarçado de “atividade de livre iniciativa”. Mas não é isso o que se propaga pela grande mídia...
Além de privatizar empresas que fazem parte do patrimônio nacional, o atual governo faz tudo em prol da flexibilização da legislação para favorecer empresários e facilitar a criação de microempresas... Aos que se tornam desempregados é sugerida a possibilidade de se tornarem patrões, e é por isso que praticamente não há entraves para o cadastro de Pessoa Jurídica. Todavia os novos microempreendedores cedo constatam falta de suporte, carência de formação e que não há “mercado” para todos.
A muitos restou a condição de prestar serviços a grandes empresas que aproveitaram a possibilidade de flexibilizar contratos e passaram a terceirizar setores considerados onerosos para suas metas de produtividade, crescimento e lucro... Disso resultou que milhares de jovens se engajaram em atividades marcadas pela precariedade e ausência de qualquer vínculo com a contratante. Eles arriscam a vida em tarefas extenuantes e perigosas, pois são levados a crer que essa é a condição para fazer valer o seu “empreendimento”.
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Avanço fascista em terras dos tristes trópicos...

Os que assumiram o poder chegaram com uma conversa anacrônica a respeito de “ameaças que o país sofreu nos últimos anos de governos trabalhistas” mais consonantes com a social democracia... Os discursos carregados de ódio tecem ataques ao comunismo (!) e sugerem que havia uma ameaça à propriedade, aos bons costumes e à religião.
Há quem diga que se trata de um fenômeno mundial, e que depois de um ciclo marcado por governos mais populares as sociedades tendem a optar por lideranças políticas mais conservadoras... O fato é que, especificamente em nosso país, verificamos uma “desconstrução deliberada” dos projetos que visavam compensar injustiças históricas. Passou-se a atacar os programas de ampliação de oportunidades aos menos favorecidos (financiamento de habitações populares; reserva de cotas aos historicamente excluídos das universidades; concessão de remunerações aos inscritos no programa “Bolsa Família”)...
A cada semana tomamos conhecimento de agressões às instituições democráticas e ao bom-senso:

* O presidente não esconde sua admiração pelos Estados Unidos, se diz patriota e nacionalista, mas abusa de gestos de submissão à maior potência mundial;
* Ministros e secretários especiais de seu governo demonstram que atuam para destruir as pastas que deveriam defender;
* Nunca a Amazônia foi tão incendiada e desmatada por motosserras como nos últimos meses; as reservas indígenas vêm sofrendo constantes ameaças e ousadas agressões de garimpeiros, pecuaristas e madeireiros que se sentiram autorizados às iniciativas perversas contra a floresta e indígenas a partir de manifestações do presidente e do ministro do meio ambiente;
* Não são raras as declarações oficiais contrárias à Educação Pública. Além do corte de investimentos, os gestores atacam a criticidade e autonomia universitárias, sinalizam objeções ao acesso universal e negam as ciências (!); Paulo Freire e sua metodologia libertadora de alfabetização, referências em todo mundo desenvolvido, tem sido vilipendiado pelos especialistas da nova ordem;
* O governo incentiva o armamentismo e se coloca favorável à utilização de armas de fogo pelos proprietários sempre que estes se sentirem ameaçados por movimentos pela reforma agrária; os movimentos sociais de reivindicações estão sendo criminalizados, e a força policial se sente empoderada e autorizada a oprimi-los com violência extremada;
* Apoiadores da “nova ordem” pregam o terror contra adversários acusados de seguirem um “viés político” de esquerda. Por incrível que pareça não reconhecem que aparelham politicamente as instituições que agora ocupam. Não há tolerância e tampouco debate, pois seus mentores orientam o uso da agressividade verbal e física contra os inimigos; não são poucas as ocorrências policiais que registram a truculência e agressividade dos agentes; ativistas e autoridades internacionais têm feito denúncias de violação dos direitos humanos praticada por grupos paramilitares.
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Vejam se não há contradição no caso da Fundação Palmares... No ano passado o governo nomeou o jornalista S. N. de Camargo, que repudia o movimento negro e seus líderes históricos, ironiza e, além disso, nega que exista racismo em nossa sociedade marcada por incontáveis exemplos de exclusão. Como se não bastasse, disse que “a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda” e que “a escravidão foi benéfica para os descendentes”.
E o que dizer sobre os episódios de meados de janeiro deste ano, quando o ex-secretário especial da cultura R. Alvim apresentou o “Prêmio Nacional das Artes”? Na ocasião, para mostrar que a cultura no país seria alavancada a um patamar “heroico” de uma arte de caráter nacional, apresentou um vídeo em que proferiu trechos copiados de Goebbels (!) ao som de Richard Wagner (“Lohengrin”, uma das peças da predileção de Hitler e líderes nazistas).
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Muito mais poderia ser apontado aqui...
Os profissionais jornalistas, notadamente as mulheres, que pretendem realizar uma cobertura mais isenta dos procedimentos do presidente e de sua equipe de governo sofrem ofensas inenarráveis.
Isso não tem parada... Há sempre asseclas prontos para aplaudir os achaques.
Apesar de desde o ano passado percebermos uma sem precedentes fuga de capitais e desvalorização da moeda...

P.S: Nos dias em que redigíamos essas “im(de)pressões gerais” o avanço do Covid-19 era uma ameaça considerada distante... Nos rascunhos consta que imaginávamos que a nossa situação se agravaria conforme ele chegasse ao nosso povo. Por conta de mais essa atrocidade, esses dias têm sido de muita provação para todos nós.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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