sexta-feira, 15 de maio de 2020

Im(de)pressão geral – deste nosso tempo – nº3 – com considerações sobre a atualidade de “O que mantém um homem vivo?”, de Renato Borghi

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/imdepressao-geral-deste-nosso-tempo-n2.html e https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/02/imdepressao-geral-deste-nosso-tempo-n1.html antes de ler esta postagem:

Muita gente decidiu se mudar do país...
Há os que saíram declarando sua insatisfação com o panorama incerto que passou a tomar conta do cotidiano político, artístico e cultural. Não foram poucos os que admitiram que passaram a se sentir desambientados e que sofreram perseguições. Para proteger a própria vida e a de seus familiares se autoexilaram.
Quem imaginou que algum dia faríamos este tipo de consideração?
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Por aqui vemos uma maioria que se acomodou e se resignou porque na verdade não tem outra opção senão a de labutar pelo pão de cada dia de acordo com as condições impostas... É bem verdade que entre esses há os que mostram não se importarem com a retirada dos direitos ou com os ataques à democracia.
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Há também quem acredite nas premissas ultraliberais da atual equipe de governantes. Os asseclas declarados criticam mais abertamente o modelo de políticas compensatórias que havia anteriormente e entendem que a meritocracia marcada pela desleal concorrência deve prevalecer.
Os mais empolgados aceitam o período 1964-1985 como modelo a ser seguido. Como se sabe, este tempo foi marcado pelos governos militares e censura aos meios de comunicação, pelo ataque aos direitos políticos e liberdades, pela intensificação do conflito armado, perseguições, torturas, assassinatos e “desaparecimentos” de jovens militantes engajados em grupos extremistas. Eles insistem que o ideal seria a intervenção das forças armadas para radicalizar reformas.

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Como não podia deixar de ser, este tempo de crise tem sido também de muita crítica. A atmosfera deixou de ser a dos debates porque os defensores do regime fazem ouvidos moucos às advertências e são intolerantes a qualquer análise de seu percurso fascista.
Entre os que assumiram uma “cruzada” em defesa dos valores democráticos e dos direitos humanos, há aqueles que se preocuparam em advertir sobre a desinformação dos que almejam um país mergulhado num regime autoritário. Estes têm procurado esclarecer que a ditadura não é uma aventura, e que tal retrocesso é de difícil e árdua superação.

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Sem dúvida, o ator e diretor do teatro alternativo Renato Borghi está entre os que demonstraram preocupação com o atual cenário. Ao tempo do início do regime militar, o jovem Borghi já se destacava como uma das principais lideranças de nosso teatro.
No período logo após a imposição do AI-5 (dezembro de 1968), quando a censura, prisões arbitrárias e torturas nos porões da ditadura mais aumentaram, Renato Borghi concebeu e dirigiu a peça “O que mantém um homem vivo?”... No palco, um trio de atores, entre os quais ele mesmo, vivem diversos personagens envoltos nos dramas que marcaram a sociedade ocidental no decorrer do tempo. Poemas e canções de Brecht compõem o enredo que nos leva a pensar sobre históricas ameaças à liberdade e à integridade da pessoa.
A primeira montagem de “O que mantém um homem vivo?” data de 1973... Nove anos depois, quando os primeiros sinais de que a redemocratização se efetivava entre nós (em 1982 os governadores dos estados voltaram a ser eleitos diretamente pelo voto do povo), Borghi colocou-a novamente em cartaz...
Como se sabe, os anos seguintes foram de debates em torno da discussão, elaboração e promulgação de uma nova Constituição para sacramentar as liberdades e os direitos de cidadania... Não sem traumas políticos e lutas sociais em torno de reparos por justiça, temos vivenciado o Estado Democrático. Todavia, como já se afirmou anteriormente, a história recente tem sido marcada pelos ataques aos direitos e pelo avanço da retórica autoritária.
No ano passado Borghi fez nova montagem de “O que mantém um homem vivo?”... Nem é preciso salientar a pertinência de sua inciativa no atual contexto nacional. Para a próxima postagem destacaremos considerações do próprio autor para a sua peça apresentada entre 16 de novembro e 15 de dezembro.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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