Muita gente decidiu se mudar do país...
Há os que saíram declarando sua insatisfação com o panorama incerto que passou a tomar conta do cotidiano político, artístico e cultural. Não foram poucos os que admitiram que passaram a se sentir desambientados e que sofreram perseguições. Para proteger a própria vida e a de seus familiares se autoexilaram.
Quem imaginou que algum dia faríamos este tipo de consideração?
(...)
Por aqui vemos uma maioria que se acomodou e se resignou porque na
verdade não tem outra opção senão a de labutar pelo pão de cada dia de acordo
com as condições impostas... É bem verdade que entre esses há os que mostram
não se importarem com a retirada dos direitos ou com os ataques à democracia.
(...)
Há também
quem acredite nas premissas ultraliberais da atual equipe de governantes. Os
asseclas declarados criticam mais abertamente o modelo de políticas
compensatórias que havia anteriormente e entendem que a meritocracia marcada
pela desleal concorrência deve prevalecer.
Os mais empolgados aceitam
o período 1964-1985 como modelo a ser seguido. Como se sabe, este tempo foi marcado
pelos governos militares e censura aos meios de comunicação, pelo ataque aos
direitos políticos e liberdades, pela intensificação do conflito armado,
perseguições, torturas, assassinatos e “desaparecimentos” de jovens militantes
engajados em grupos extremistas. Eles insistem que o ideal seria a intervenção
das forças armadas para radicalizar reformas.
(...)
Como
não podia deixar de ser, este tempo de crise tem sido também de muita crítica.
A atmosfera deixou de ser a dos debates porque os defensores do regime fazem
ouvidos moucos às advertências e são intolerantes a qualquer análise de seu
percurso fascista.
Entre os que
assumiram uma “cruzada” em defesa dos valores democráticos e dos direitos
humanos, há aqueles que se preocuparam em advertir sobre a desinformação dos
que almejam um país mergulhado num regime autoritário. Estes têm procurado
esclarecer que a ditadura não é uma aventura, e que tal retrocesso é de difícil
e árdua superação.
(...)
Sem dúvida, o ator e
diretor do teatro alternativo Renato Borghi está entre os que demonstraram
preocupação com o atual cenário. Ao tempo do início do regime militar, o jovem
Borghi já se destacava como uma das principais lideranças de nosso teatro.
No período logo após a imposição do AI-5 (dezembro de 1968), quando a
censura, prisões arbitrárias e torturas nos porões da ditadura mais aumentaram,
Renato Borghi concebeu e dirigiu a peça “O que mantém um homem vivo?”... No
palco, um trio de atores, entre os quais ele mesmo, vivem diversos personagens
envoltos nos dramas que marcaram a sociedade ocidental no decorrer do tempo. Poemas
e canções de Brecht compõem o enredo que nos leva a pensar sobre históricas
ameaças à liberdade e à integridade da pessoa.
A primeira montagem de “O que mantém um homem vivo?” data de 1973...
Nove anos depois, quando os primeiros sinais de que a redemocratização se
efetivava entre nós (em 1982 os governadores dos estados voltaram a ser eleitos
diretamente pelo voto do povo), Borghi colocou-a novamente em cartaz...
Como se sabe, os anos seguintes foram de debates
em torno da discussão, elaboração e promulgação de uma nova Constituição para
sacramentar as liberdades e os direitos de cidadania... Não sem traumas políticos
e lutas sociais em torno de reparos por justiça, temos vivenciado o Estado
Democrático. Todavia, como já se afirmou anteriormente, a história recente tem
sido marcada pelos ataques aos direitos e pelo avanço da retórica autoritária.
No
ano passado Borghi fez nova montagem de “O que mantém um homem vivo?”... Nem é
preciso salientar a pertinência de sua inciativa no atual contexto nacional.
Para a próxima postagem destacaremos considerações do próprio autor para a sua
peça apresentada entre 16 de novembro e 15 de dezembro.
Um abraço,
Prof.Gilberto