segunda-feira, 18 de maio de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – sobre a preparação e investida contra Ceuta; tomada do centro comercial, cavaleiros investidos, avanços da burguesia e da marujada; impasses sobre os avanços pelo Mediterrâneo; notícias a respeito de ricos territórios africanos e o vasto litoral Atlântico; a missão de João Gonçalves Zarco

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/12/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_2.html antes de ler esta postagem:

No meio da alta e velha nobreza sempre havia quem se dispusesse a causar intrigas e ameaçar a autonomia do país articulando-se com os espanhóis. Todavia D. João I firmou a paz com o país vizinho em 1411.
Como vimos, vários avanços científicos e tecnológicos relacionados à navegação foram logrados pelos portugueses. Sem dúvida o interesse da burguesia marítima na realização de transações comerciais contribuiu significantemente para isso.
As “Grandes Navegações” da segunda metade do século XV contaram com o empreendedorismo do Estado lusitano em parceria com essa burguesia. A “empresa estatal mista” ficou sob a administração direta do Infante D. Henrique.


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A partir de 1412 os portugueses trataram de preparar o ataque à cidade de Ceuta, cidade controlada pelos mouros no norte africano. A iniciativa contou com táticas de espionagem, e durante o ano seguinte a localidade tornou-se escala rotineira disfarçando-se o mais que podiam o real interesse de ataque.
A tomada da cidade ocorreu em 1415 após a movimentação de uma frota muito bem equipada. O feito bélico permitiu que D. João I armasse “em campo de luta” os infantes D. Henrique, D. Pedro e D. Duarte... Além deles, filhos da burguesia que se associava à empresa expansionista também foram armados cavaleiros pelo rei. Dessa forma, os aliados da casa real passaram a ocupar também os altos postos no Exército.
Evidentemente os burgueses lusitanos trataram de assumir o controle do comércio da região... À marujada liberou-se o saque de mercadorias das instalações que outrora eram ocupadas pelos muçulmanos.
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Podemos imaginar que a partir de Ceuta os portugueses passassem a investir esforços na conquista de territórios banhados pelo Mediterrâneo. O próprio D. Henrique comandou uma expedição às Canárias em 1416, e planejou um ataque a Gibraltar em 1419. Todavia logo se percebeu que o domínio das águas ainda controladas pelos muçulmanos era tarefa impraticável.
Tinhorão explica que o projeto de expansão pelo Atlântico após a tomada de Ceuta passou a ser considerado como o mais viável. É bem verdade que a ocupação de Ceuta pelos portugueses não se processou de imediato e, além disso, pode-se dizer que ela não se efetivou totalmente até 1580, quando teve início a União Ibérica. Apesar disso, os lusitanos trataram de fortificá-la para garantir sua defesa em terras cercadas de inimigos.
Isolada, Ceuta deixou de ser o centro de efervescência comercial... No máximo podia ser considerada “plataforma estratégica para futuras investidas bélicas”... Como vimos, os avanços pelo Mediterrâneo resultariam em malsucedidos. D. Henrique tornou-se o responsável pela defesa da fortaleza e tratou de fomentar a discussão sobre projetos futuros que fossem potencialmente rentáveis.
O contato com caravanas árabes que chegavam desde o interior do vasto continente aguçou o interesse de D. Henrique, sobretudo porque as riquezas pareciam chegar de localidades diversas e por incontáveis caminhos. A citada investida contra a cidade de Granada em 1419 se explica pela iniciativa bélica dos granadenses contra Ceuta. Por conta desse ataque, o Infante permaneceu na cidade conquistada como seu protetor e graças a isso obteve informações sobre a vastidão do litoral africano com mouros locais. Chamaram-lhe a atenção os relatos sobre as expedições de mercadores a Tombuctu e Cantu (Gâmbia), além das regiões próximas, ricas em ouro.
O chamado “Atlas Médici” (de autoria desconhecida e datado de meados do século XIV, apresentava a Europa, o continente africano banhado pelos dois oceanos e terras da Ásia) dava conta da existência das Canárias e da Madeira... As informações obtidas junto aos mouros levaram o Infante a considerar mais seriamente a navegação pelo litoral africano para conferir o que de fato podia ser explorado.
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Em 1418 D. Henrique contava 24 anos.
Animou-se com a possibilidade de abrir novos horizontes a partir de Ceuta e levou em consideração as antigas informações das cartas náuticas de Guilhermo Soler (que datavam de 1380 a 1385). A João Gonçalves Zarco deu a missão de conferir alguns dos desenhos das ilhas que apareciam no referido Atlas. Zarco contou em sua expedição com a parceria de Tristão Vaz Teixeira.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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