quinta-feira, 28 de maio de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – Luís IX à frente das iniciativas para alcançar uma aliança com cristãos do Oriente; o convite de Elchigadai e a missão de André de Longjumeau; decepções do rei e retorno ao trono após a morte da mãe regente; notícias sobre a conversão de príncipe tártaro ao cristianismo e nova missão à Mongólia; a longa viagem do franciscano Willian de Rubruquis e o pífio resultado; novas notícias sobre a existência do Preste João entre os descendentes de Gêngis Khan

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_28.html antes de ler esta postagem:

De tal modo Luís IX envolveu-se nos assuntos da Igreja Católica e na defesa da Cristandade que organizou e chefiou cruzadas contra os muçulmanos entre 1248 e 1270, tanto no Egito quanto na Palestina. Podemos dizer que sua vida foi marcada basicamente pelos eventos bélicos contra os “infiéis”.
Após os fracassos das iniciativas do papa Inocêncio IV em sua busca de aliados no Oriente, Luís IX tomou a frente dos esforços para obter “uma ponte com os cristãos da Armênia e da Pérsia”.
Aconteceu que em 1248 o rei encontrava-se em Chipre quando foi surpreendido pela chegada de uma comitiva mongol que lhe trazia uma mensagem do chefe das tropas instaladas na Armênia e Pérsia. Elchigadai (Ilchikadai ou Ilchikdai) anunciava o desejo de estabelecer um acordo com Luís IX. Sem dúvida sua campanha vitoriosa até então contribuía para tal reconhecimento.
O rei francês aceitou a negociação e resolveu retribuir a visita da comitiva mongol enviando uma “missão diplomática” ao líder militar Elchigadai e ao todo poderoso Gran Khan. A cada um encaminhou uma carta pessoal, tendo encarregado o franciscano André de Longjumeau (ou Lonjumel) da comitiva.
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Em 1249 Luís IX movimentou suas tropas para o Egito com a intenção de marchar para a Palestina logo em seguida... Longjumeau tomou o rumo de sua missão e só chegou à corte do Gran Khan durante o inverno de 1249/50.
Infelizmente a situação já não era favorável à “missão diplomática” do rei francês porque o khan havia morrido e as decisões políticas estavam sendo tomadas por sua mãe. Talvez por saber dos fracassos de Luís IX em suas últimas campanhas, ela recebeu a comitiva católica com desdém.
Nenhum acerto diplomático foi firmado, e o frei teve de retornar ao rei com uma simples carta.
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André de Longjumeau reencontrou Luís IX na Palestina, na localidade de Cesarea, onde, entre março de 1252 e maio do ano seguinte. O tom da carta que trazia era de pura arrogância. E o rei tornou-se ainda mais decepcionado porque além dos revezes militares na região, tinha de retornar à França para retomar o trono, pois sua mãe e regente acabara de falecer.
A missão do frei Longjumeau foi dada por encerrada e o rei demonstrou profundo arrependimento por tê-la planejado.
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Mas a frustração passou e Luís IX voltou a se animar ao tomar conhecimento de que o príncipe dos tártaros, Sartuk (filho de Batu, chefe das tropas do Khan situadas no leste europeu), havia aceitado (e se batizado) o Cristianismo.
Em suas reflexões, Luís IX passou a crer que enfim chegara o momento de obter a aliança que expulsaria os “infiéis” do túmulo de Cristo. Assim, resolveu organizar nova missão para um contato diplomático com o chefe mongol na longínqua fronteira com a China (na localidade de Karakorum).
Dessa vez, o rei francês tomou o cuidado de obter “declaração de apoio e cartas de recomendação” junto a Balduíno de Courtenay (derradeiro imperador latino de Constantinopla).
Novamente foi escolhido um franciscano para chefiar a comitiva. E foi assim que Willian de Rubruquis deixou a Costa da Crimeia rumo ao sul da Rússia em 1253... Dois rios foram vencidos pelos homens por ele liderados (o Don e o Volga)... Foram retidos no Volga por Batu Khan (neto de Gêngis Kahn; na ocasião se preparava para avançar pela Europa a partir da Hungria e da Polônia).
Depois da negociação com Batu Kahn, Willian de Rubruquis conduziu sua comitiva ao acampamento do Grande Kahn, tendo chegado às proximidades de Karakorum no final de 1253. O encontro diplomático só se deu no início do ano seguinte e o frei franciscano estendeu a visitação até o começo do segundo semestre, todavia nada do que o rei Luís IX almejava foi alcançado.
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A “missão” retornou à Europa em 1255 tendo passado por Trípoli. Apesar de não trazer nenhum resultado prático do encontro em Karakorum, o frei Rubruquis chegou eloquente sobre a possibilidade de haver um Preste João em Naimans (Mongólia), certo Kuakuk, chefe militar e irmão de Ung Kahn, outrora aliado de Gêngis Kahn...
Também este Ung Kahn (Uang Kahn ou ainda Unc Kahn) viria a ser apontado mais tarde por Marco Polo como o Preste João.
O mito persistia... De qualquer modo, nota-se que os primeiros europeus a penetrarem as terras asiáticas em busca do Preste João formulavam hipóteses em torno da figura de certos chefes tribais e de descendentes de Gêngis Kahn, como foi o caso do Grã Khan batizado em 1253.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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