De tal modo Luís IX envolveu-se nos assuntos da Igreja Católica e na defesa da Cristandade que organizou e chefiou cruzadas contra os muçulmanos entre 1248 e 1270, tanto no Egito quanto na Palestina. Podemos dizer que sua vida foi marcada basicamente pelos eventos bélicos contra os “infiéis”.
Após os fracassos das iniciativas do papa Inocêncio IV em sua busca de aliados no Oriente, Luís IX tomou a frente dos esforços para obter “uma ponte com os cristãos da Armênia e da Pérsia”.
Aconteceu que em 1248 o rei encontrava-se em Chipre quando foi surpreendido pela chegada de uma comitiva mongol que lhe trazia uma mensagem do chefe das tropas instaladas na Armênia e Pérsia. Elchigadai (Ilchikadai ou Ilchikdai) anunciava o desejo de estabelecer um acordo com Luís IX. Sem dúvida sua campanha vitoriosa até então contribuía para tal reconhecimento.
O rei francês aceitou a negociação e resolveu retribuir a visita da comitiva mongol enviando uma “missão diplomática” ao líder militar Elchigadai e ao todo poderoso Gran Khan. A cada um encaminhou uma carta pessoal, tendo encarregado o franciscano André de Longjumeau (ou Lonjumel) da comitiva.
(...)
Em 1249 Luís IX movimentou
suas tropas para o Egito com a intenção de marchar para a Palestina logo em
seguida... Longjumeau tomou o rumo de sua missão e só chegou à corte do Gran Khan
durante o inverno de 1249/50.
Infelizmente a situação já não
era favorável à “missão diplomática” do rei francês porque o khan havia morrido
e as decisões políticas estavam sendo tomadas por sua mãe. Talvez por saber dos
fracassos de Luís IX em suas últimas campanhas, ela recebeu a comitiva católica
com desdém.
Nenhum acerto diplomático
foi firmado, e o frei teve de retornar ao rei com uma simples carta.
(...)
André de Longjumeau
reencontrou Luís IX na Palestina, na localidade de Cesarea, onde, entre março
de 1252 e maio do ano seguinte. O tom da carta que trazia era de pura
arrogância. E o rei tornou-se ainda mais decepcionado porque além dos revezes
militares na região, tinha de retornar à França para retomar o trono, pois sua
mãe e regente acabara de falecer.
A missão do frei Longjumeau foi dada por encerrada e o rei demonstrou
profundo arrependimento por tê-la planejado.
(...)
Mas a frustração passou e Luís IX voltou a se animar ao tomar
conhecimento de que o príncipe dos tártaros, Sartuk (filho de Batu, chefe das
tropas do Khan situadas no leste europeu), havia aceitado (e se batizado) o
Cristianismo.
Em suas reflexões, Luís IX passou a crer que
enfim chegara o momento de obter a aliança que expulsaria os “infiéis” do
túmulo de Cristo. Assim, resolveu organizar nova missão para um contato
diplomático com o chefe mongol na longínqua fronteira com a China (na localidade
de Karakorum).
Dessa vez, o rei francês
tomou o cuidado de obter “declaração de apoio e cartas de recomendação” junto a
Balduíno de Courtenay (derradeiro imperador latino de Constantinopla).
Novamente foi escolhido um franciscano para chefiar a comitiva. E foi
assim que Willian de Rubruquis deixou a Costa da Crimeia rumo ao sul da Rússia
em 1253... Dois rios foram vencidos pelos homens por ele liderados (o Don e o
Volga)... Foram retidos no Volga por Batu Khan (neto de Gêngis Kahn; na ocasião
se preparava para avançar pela Europa a partir da Hungria e da Polônia).
Depois da negociação com
Batu Kahn, Willian de Rubruquis conduziu sua comitiva ao acampamento do Grande
Kahn, tendo chegado às proximidades de Karakorum no final de 1253. O encontro
diplomático só se deu no início do ano seguinte e o frei franciscano estendeu a
visitação até o começo do segundo semestre, todavia nada do que o rei Luís IX
almejava foi alcançado.
(...)
A “missão” retornou à
Europa em 1255 tendo passado por Trípoli. Apesar de não trazer nenhum resultado
prático do encontro em Karakorum, o frei Rubruquis chegou eloquente sobre a
possibilidade de haver um Preste João em Naimans (Mongólia), certo Kuakuk,
chefe militar e irmão de Ung Kahn, outrora aliado de Gêngis Kahn...
Também este Ung Kahn (Uang
Kahn ou ainda Unc Kahn) viria a ser apontado mais tarde por Marco Polo como o
Preste João.
O
mito persistia... De qualquer modo, nota-se que os primeiros europeus a
penetrarem as terras asiáticas em busca do Preste João formulavam hipóteses em
torno da figura de certos chefes tribais e de descendentes de Gêngis Kahn, como
foi o caso do Grã Khan batizado em 1253.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_31.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto