terça-feira, 19 de maio de 2020

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – definição de Declaração a partir de “Oxford English Dictionary”; das necessidades de produzir declarações ao tempo da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa; alterações históricas da significação de declaração; cartas e petições e seu caráter respeitoso e submisso; fragmento da Declaração de Independência de 1776 evidenciando a sua necessidade

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/12/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_20.html antes de ler esta postagem:

Lynn Hunt reservou uma parte inteira de seu livro para tratar da importância das históricas Declarações. Logo no início apresenta a definição que o “Oxford English Dictionary” em sua edição eletrônica traz para o vocábulo “Declaração”:

                   “A ação de afirmar, dizer, apresentar ou anunciar aberta, explícita ou formalmente; afirmação ou asserção positiva; uma asserção, anúncio ou proclamação em termos enfáticos, solenes ou legais. (...) Uma proclamação ou afirmação pública incorporada num documento, instrumento ou ato público”.

Na sequência a historiadora apresenta questionamentos a respeito dos motivos de os direitos terem sido apresentados em declarações. Por que países e suas sociedades constituídas colocam como imprescindível a formalidade das Declarações?
Do que até aqui foi tratado podemos extrair uma resposta... Os que se mobilizaram contra torturas e castigos cruéis buscaram a confirmação das mudanças de posturas que se esperava. As Declarações de 1776 e de 1789 não só assinalavam as mudanças “nas atitudes e expectativas gerais” como tornavam patente o fim de uma soberania para o empoderamento dos que outrora eram subjugados. No caso norte-americano, o rei Jorge III e o parlamento da Inglaterra deixaram de exercer poder e influência sobre a América, que se tornou uma República... No caso francês, a Monarquia que se pretendia suprema declinou perante a transferência de sua autoridade para o povo e seus representantes.
Nos dois casos, vemos que todo enfrentamento contra torturas e crueldade dos castigos judiciais se juntou a várias outras demandas relacionadas a direitos humanos. A formalização de declarações serviu para apontar a relevância de tais direitos.
(...)
O significado de “declaração” sofreu alterações no curso da História. Compreender essas alterações ajuda-nos a entender a ênfase sugerida pela autora.
Ao resgatar as significações de “declaração”, Lynn Hunt explica a relação com “soberania”, A “declaration” inglesa origina-se da palavra francesa de mesma grafia que, em suas origens, “se referia a um catálogo de terras a serem dadas em troca do juramento de vassalagem a um senhor feudal”.
No decorrer do século XVII, “declaration” relacionou-se “às afirmações públicas do rei”, e isso quer dizer que “declarar” passou a ser prerrogativa dos soberanos. De outro modo podemos dizer que os senhores feudais perderam o poder para o rei e que, assim, o poder de fazer declarações “mudou de mãos”.
Entre os ingleses, a partir do momento em que os governados (súditos) passaram a exigir que os monarcas reafirmassem seus direitos, adotaram a prática de redigir seus termos. Assim se deu em 1215 por ocasião da do juramento da Magna Carta, quando os barões do país obtiveram o reconhecimento do rei em relação aos seus direitos. A “Petição dos Direitos” de 1628, que ratificou “os diversos Direitos e Liberdades dos Súditos”, e a Bill of Rights de 1689 (que sacramentou “os verdadeiros, antigos e indubitáveis direitos e liberdades do povo deste reino”) são indicativos da prática.
Ao tempo da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa, os instrumentos das cartas e petições não davam conta da garantia que se esperava obter do Estado Constituído em relação aos direitos... Petição e “Bill” diziam respeito a solicitações, pedidos e apelos aos poderosos (Bill em sua origem se tratava de uma “petição ao soberano”), enquanto que Carta era associada a um documento ou escritura antiga...
Declaração tornou-se o termo adequado para os dois episódios históricos citados... E o mesmo prevaleceu em 1948. Além de não se relacionar a algo ultrapassado, Declaração não denota “submissão” e “podia significar a intenção de se apoderar da soberania”.
Neste ponto, Lynn Hunt destaca um fragmento da Declaração da Independência dos Estados Unidos para evidenciar a explicação de Jefferson sobre a necessidade do documento (a Declaração):

                   “Quando, no Curso dos acontecimentos humanos, torna-se necessário que um povo dissolva os laços políticos que o ligam a outro e assuma entre as potências da terra a posição separada e igual a que lhe dão direito as Leis da Natureza e do Deus da Natureza, um respeito decente pelas opiniões da humanidade requer que ele declare (a autora dá ênfase à palavra) as causas que o impelem à separação”.

Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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