sexta-feira, 15 de maio de 2020

Poema de Brecht, “Parada do velho novo” – considerações finais de Renato Borghi sobre “O que mantém um homem vivo?”

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/o-que-mantem-um-homem-vivo-peca-de.html antes de ler esta postagem:

Ainda em relação às considerações de Renato Borghi para o seu “O que mantém um homem vivo?”, vale destacar mais este fragmento final:

                   “(a peça) oferece o que há de mais potente na obra do dramaturgo alemão. Há um mundo organizado em bases desumanas. Bertold Brecht quer contribuir para sua mudança. Seu teatro é crítico, agudo, lúcido. Ele busca aclarar as contradições do indivíduo no relacionamento social. Brecht é carne, suor e sobrevivência e sua obra é inspirada no ser humano concreto em luta diária pelo pão.
                   Afinal, O que mantém o homem vivo?
                   Brecht responde: ‘Um homem é um homem e ele é muito difícil destruir’.”

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Já manifestamos por aqui o apreço à obra de Brecht, sempre questionadora e incentivadora da participação política. Por ocasião de sequências didáticas sugeridas neste blog, selecionei alguns de seus poemas e os registrei em postagens anteriores. Vale conferir no marcador “poesia”.
Segue nesta postagem “Parada do velho novo”, poema de Brecht destacado por Borghi no encarte de “O que mantém um homem vivo?”

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Parada do velho novo – Bertold Brecht

                   Eu estava sobre uma colina e vi o Velho se aproximando,
                   mas ele vinha como se fosse Novo.

                   Ele se arrastava em novas muletas, que ninguém antes
                   havia visto, e exalava novos odores de putrefação, que
                   ninguém antes havia cheirado.

                   A pedra passou rolando como a mais nova invenção, e os
                   gritos dos gorilas batendo no peito deveriam ser as novas
                   composições.

                   Em toda parte viam-se túmulos abertos vazios, enquanto
                   o Novo movia-se em direção à capital.

                   E em torno estavam aqueles que instilavam horror e
                   gritavam: Aí vem o Novo, tudo é novo, saúdem o Novo,
                   sejam novos como nós! E quem escutava, ouvia apenas
                   os seus gritos, mas quem olhava, via pessoas
                   que não gritavam.

                   Assim marchou o Velho, travestido de Novo, mas em
                   cortejo triunfal levava consigo o Novo e o exibia como velho.

                   O Novo ia preso em ferros e coberto de trapos; estes
                   permitiam ver o vigor de seus membros.

                   E o cortejo movia-se na noite, mas o que viram como a
                   luz da aurora era a luz de fogos no céu. E o grito: Aí vem
                   o Novo, tudo é novo, saúdem o Novo, sejam novos como
                   nós! Seria ainda audível, não tivesse o trovão das armas
                   sobrepujado tudo.

(...)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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