Ainda em relação às considerações de Renato Borghi para o seu “O que mantém um homem vivo?”, vale destacar mais este fragmento final:
“(a peça) oferece o que há de mais potente na obra do dramaturgo alemão. Há um mundo organizado em bases desumanas. Bertold Brecht quer contribuir para sua mudança. Seu teatro é crítico, agudo, lúcido. Ele busca aclarar as contradições do indivíduo no relacionamento social. Brecht é carne, suor e sobrevivência e sua obra é inspirada no ser humano concreto em luta diária pelo pão.
Afinal, O que mantém o homem vivo?
Brecht responde: ‘Um homem é um homem e ele é muito difícil destruir’.”
(...)
Já manifestamos por aqui o
apreço à obra de Brecht, sempre questionadora e incentivadora da participação
política. Por ocasião de sequências didáticas sugeridas neste blog, selecionei
alguns de seus poemas e os registrei em postagens anteriores. Vale conferir no
marcador “poesia”.
Segue nesta postagem “Parada
do velho novo”, poema de Brecht destacado por Borghi no encarte de “O que
mantém um homem vivo?”
(...)
Parada do velho novo –
Bertold Brecht
Eu estava sobre uma colina
e vi o Velho se aproximando,
mas ele vinha como se fosse Novo.
Ele
se arrastava em novas muletas, que ninguém antes
havia visto, e
exalava novos odores de putrefação, que
ninguém antes
havia cheirado.
A
pedra passou rolando como a mais nova invenção, e os
gritos dos
gorilas batendo no peito deveriam ser as novas
composições.
Em toda parte viam-se túmulos abertos vazios, enquanto
o
Novo movia-se em direção à capital.
E em torno estavam aqueles
que instilavam horror e
gritavam: Aí vem o Novo, tudo
é novo, saúdem o Novo,
sejam novos como nós! E quem
escutava, ouvia apenas
os seus gritos, mas quem
olhava, via pessoas
que não gritavam.
Assim
marchou o Velho, travestido de Novo, mas em
cortejo triunfal
levava consigo o Novo e o exibia como velho.
O Novo ia preso em ferros e
coberto de trapos; estes
permitiam ver o vigor de seus
membros.
E o cortejo movia-se na
noite, mas o que viram como a
luz da aurora era a luz de
fogos no céu. E o grito: Aí vem
o Novo, tudo é novo, saúdem o
Novo, sejam novos como
nós! Seria ainda audível, não
tivesse o trovão das armas
sobrepujado tudo.
(...)
Um abraço,
Prof.Gilberto