As muitas notícias a respeito do avanço do Cristianismo pela Ásia, sobre a existência do reino do Preste João e a possibilidade de derrotar os muçulmanos animavam os europeus desde pelo menos a época das cruzadas... Em 1165 uma carta atribuída ao próprio “sacerdote e rei” teve estrondosa repercussão. Tempos depois descobriu-se que se tratava de uma missiva apócrifa, todavia não foram poucos os que se apoiaram no documento e alimentaram a esperança de selar definitivamente a aliança que reuniria soldados cristãos do ocidente aos de Preste João.
Tinhorão esclarece que perto de cem cópias manuscritas foram produzidas e que algumas delas podem ser encontradas ainda hoje em bibliotecas de Munique, Paris, Viena e Londres.
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O “Presbítero João, pelo poder e virtude de Deus e do Senhor Jesus
Cristo, Rei dos Reis” (era assim que o autor da carta se apresentava) endereçou
sua mensagem a Manuel I Commenus, imperador bizantino que mantinha boas
relações com o papa de Roma, Alexandre III.
Entre
os europeus, Commenus gozava de boa consideração já que havia aceitado, em 1147
que as tropas cruzadas de Conrado III (Alemanha) e de Luiz VII (França)
passassem por terras bizantinas e seguissem em direção à Terra Santa.
O autor da carta não
poupava adjetivos na descrição de seu reino repleto de “maravilhas”.
Apresentava-se como grande líder decidido a partir com seu grandioso exército
rumo à conquista do Santo Sepulcro em Jerusalém. Em tom grandiloquente, anunciava
que exercia poder sobre 72 outros monarcas que estavam espalhados por todas as
regiões das Índias. Isso significava basicamente que o Preste João declarava que
exercia poder sobre o “resto do mundo conhecido” pelos europeus. A uma ordem
sua mobilizavam-se cerca de “10 mil cavaleiros nobres e 100 mil combatentes a
pé”.
Certamente
os que tomassem conhecimento do conteúdo da carta só podiam se encantar com o
poderio do Preste João. Algo fabuloso e digno de ser reconhecido como soberano.
Os registros da mensagem dão conta de que “sete reis, sessenta duques e 365
condes serviam em seu palácio”... À sua direita acomodavam-se doze arcebispos,
e à esquerda dois bispos. À entrada de sua fortaleza havia grande espelho que
lhe permitia vigiar os domínios e saber com antecedência da aproximação de
inimigos.
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De início, o conteúdo
da carta do Preste João provocou muita desconfiança, pois a narrativa era mesmo
exagerada. Todavia os europeus estavam desesperados com o expansionismo
muçulmano que, além da Ásia e África, atingiu a Península Ibérica. Não demorou
e a Igreja Católica decidiu pronunciar-se oficialmente a respeito.
Documentos
manuscritos do século XII dão conta de que o papa Alexandre III, provavelmente
depois de ouvir relatos de certo nestoriano Felipe (que era seu médico
particular), decidiu escrever ao “carissimo in Christo filio Johanni, illustro
et magnifico indorum regis”...
Corria o ano de 1177 e o papa encaminhara a carta “ao magnífico rei das
Índias” pelo próprio Felipe. O pontífice esperava que a gente mais ilustre do
Preste João recebesse o seu médico particular. Acreditava que este era um
profundo conhecedor das áreas de além da Abissínia, território pelo qual
peregrinara e que estava polvilhado de cristãos nestorianos. Alexandre III tinha
razão para assim pensar, pois sabia das peregrinações de seu médico e a dos
cristãos da Abissínia rumo a Jerusalém, “onde possuíam capela e altar junto ao
Santo Sepulcro”.
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Como sabemos, essa crença no Preste João perdurou durante muitos anos. Conta-se
que em 1217, Jacques de Vitry, então bispo de São João de Acre (território na Palestina
dominado pelos cruzados), pregou uma Cruzada contra os muçulmanos que ocupavam
Jerusalém e asseverou aos cristãos europeus que:
“Os cristãos do Oriente, tão distantes quanto a terra de
Preste João, têm muitos reis, que, ao saberem que a Cruzada chegou, virão ao
seu auxílio”.
(...)
No ano de 1221
falava-se de um guerreiro cristão que, com seu poderoso exército, estava conseguindo
derrotar os “infiéis”. Dizia-se que ele atuava na Tartária, região da Ásia frequentada
por russos, mongóis e turcomanos... Muitos acreditavam que se tratava de um
neto do Preste João e que se chamava David.
Nada
disso. Aquele que supunham ser um herói da cristandade na verdade era “o terrível
fundador do império mongol dos bárbaros Termujim”. Sua fama correu o mundo antigo,
seu nome era Gêngis (Ginghiz ou Ienghis) Khan.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_28.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto