O fidalgo João Gonçalves Zarco, que exercia a tarefa de “guardar” a Costa do Algarve, recebeu do Infante D. Henrique a missão de realizar a expedição que deveria reconhecer os pontos indicados pelas antigas cartas náuticas. Como vimos, corria o ano de 1418.
(...)
Zarco e o parceiro Tristão
Vaz Teixeira localizaram uma ilha a qual deram o nome de Porto Santo. Em 1419
providenciou-se sua colonização, e para tal empresa contaram com os serviços de
Bartolomeu Perestrelo...
À volta de Porto Santo descobriram muitas outras ilhas, uma delas,
carregada de densa vegetação, recebeu o nome de Madeira. A localização mais
isolada dessa ilha, em águas abaixo da posição geográfica de Portugal, “na
altura da Costa de Marrocos”, acima do arquipélago das Canárias e a sudeste dos
Açores, tornou-se estratégica para as navegações lusitanas que se sucederam.
Sobre
o arquipélago dos Açores, Tinhorão destaca que suas ilhas já eram destacadas
por mapas elaborados em meados do século anterior. Apesar disso, o Infante D.
Henrique só ordenou uma expedição à localidade em 1445.
Essas conquistas do
campo náutico foram devidamente amparadas por uma série de iniciativas
políticas, administrativas e diplomáticas. Isso foi articulado ainda nos anos
1420/1421 e já foi anteriormente salientado, mas vale lembrar que de suma
importância foi a garantia obtida pelo governo português junto ao papa em
relação à Ordem de Cristo, cuja administração passou inteiramente às mãos de D.
Henrique. Como vimos, ele passou a ter “direito ao uso de suas rendas no que
tocasse à expansão da fé”... Não menos importante foi o fato de o governo ter conseguido
os serviços de Jacome de Maiorca, experiente cosmógrafo e “mestre em cartas de
marear e cartografia”.
(...)
Esbanjando
confiança, D. Henrique ordenou as primeiras expedições à costa africana mais
abaixo do Cabo do Não em 1421. Ainda em relação a essa localidade, o autor cita
informações extraídas de “Histária das descobertas e conquistas dos portugueses
em África, Ásia e América”, do padre Lafitau. Segundo o documento, “o Cabo Não,
ou Cabo do Não, ficava cerca de 30 léguas acima do Cabo do Bojador na Costa
Ocidental africana”.
É o cronista oficial da
Coroa, Gomes Eanes de Zurara (ou Azurara) quem crava que o início das manobras
de “navios em busca daquela terra”, a costa africana, data de 1421. Em sua “crônica
de Guiné”, volume II, Zurara registrou a navegação de Gil Eanes ao Bojador
(1433) e aponta que no ano seguinte o referido cabo seria ultrapassado pelos
portugueses:
“E finalmente, depois de
doze anos, fez o Infante uma barca, da qual deu a capitânea a um Gil Eanes, seu
escudeiro, que depois fez cavaleiro”.
(...)
Depois de passado o Cabo do Bojador, o avanço pela costa africana se
tornou objetivo claro. Principalmente porque D. Henrique tinha a necessidade de
conferir as inúmeras informações obtidas junto aos mouros em Ceuta desde a
incursão bélica de Granada a Ceuta (1419). Além disso, muito se especulava a
respeito de um possível reino cristão governado por certo Preste João. Este era
noticiado pelo “livro de maravilhas do Oriente”, que muitos atribuíam a Marco Polo, e que chegou ao
conhecimento de D. Henrique em 1428 como presente de seu irmão, o Infante D. Pedro.
Obviamente o feito de Gil Eanes em 1434, ao ultrapassar o Cabo do
Bojador, proporcionou uma série de novas informações que ainda mais animavam ao
D. Henrique. O próprio Eanes relatara que para além de 50 léguas do lendário
Cabo avistara casas e rastros de caravanas. Em contato com mouros que conheciam
algo da vida humana naquelas paragens pôde concluir que a região era promissora
e que novas incursões pela costa não deviam ser descartadas... Futuramente
poderiam obter vantagens comerciais.
D.
Henrique orientou-se pelo prognóstico... Em 1437 realizou-se uma incursão
guerreira ao Tanger que resultou em fracasso e na prisão do príncipe D.
Fernando, tornado refém. No ano seguinte, instalou-se na Vila do Infante (Algarve),
onde passou a elaborar os planos de avanço pelo litoral africano. A década
seguinte foi marcada pelos empreendimentos de ação que incluíam a busca do
reino cristão anunciado por Marco Polo e uma potencial aliança para o
enfrentamento de infiéis muçulmanos.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_22.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto