quinta-feira, 28 de maio de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – a respeito de Gêngis Khan e seus embates no Oriente; a conversão de Ugalu e o firme propósito dos cristãos europeus de firmarem aliança com os orientais na luta contra os muçulmanos; iniciativa do papa Inocêncio IV no envio de comitiva ao chefe tártaro Okkodai; a expedição do frei Giovanni da Pian del Carpine à residência do khan na Mongólia; missão desprezada e retorno à França; valioso relatório do frei Carpine

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_27.html antes de ler esta postagem:

Sem dúvida, saber que o personagem guerreiro e avassalador nos combates da Tartária era o temível Gêngis Khan e não o cristão Preste João, deixou os cristãos do Ocidente frustrados. Apesar disso, durante o século XIII, eles nunca deixaram de ter esperança de obter uma aliança com forças do Oriente para enfrentar o Islamismo. Como vimos, em relação à Ásia Central, essa possibilidade era alimentada pela presença dos nestorianos.
Não se pode dizer que Gêngis Khan fosse totalmente desprezível para os ocidentais porque também ele, em sua luta pela unidade dos mongóis, vinha travando combates com os muçulmanos há muito em expansão desde a Arábia às regiões mais ao norte na direção da Ásia. A luta contra o inimigo em comum levou os europeus cristãos a planos de aproximação com os sucessores do líder dos mongóis.
Gêngis Khan não lutou apenas contra os muçulmanos que já se espalhavam pela Pérsia, Afeganistão e Turquestão, fez guerra também aos budistas que viviam na China. O guerreiro mongol morreu e não conseguiu conquistar o grande país do Oriente.
Depois de decepcionados por saberem que Gêngis Khan nada tinha de parentesco com o Preste João (afinal não era o David tão falado em 1221), os cristãos europeus investiram sua esperança na pessoa de um de seus netos, Ugalu, que era casado com uma princesa cristã e que, por isso, se dispunha a lutar contra os “infiéis” e a marchar rumo à Terra Santa com o intento de libertar o Santo Sepulcro. Talvez (ainda) por conta das iniciativas dos nestorianos da Ásia, o papa continuava a receber mensagens que reforçavam a possibilidade de uma aliança com cristãos mais afastados da Europa.
(...)
Em 1245, o papa Inocêncio IV resolveu enviar uma comitiva ao chefe tártaro Okkodai (também conhecido por Ogadai)... Acontece que quatro anos antes, os mongóis haviam realizado uma invasão à Alemanha que resultara em fracasso (foram derrotados na batalha de Wahlstatt-Liegnitz em abril de 1241). Aparentemente, a missão dos representantes da Igreja de Roma era manifestar protesto à iniciativa mongol contra territórios cristãos... Mas tudo indica que o maior interesse do papa era abrir um canal de negociação para a tão sonhada aliança de enfrentamento aos “infiéis” muçulmanos.
Diz-se que então ocorreu a “primeira missão oficial da Igreja Católica em terras mongóis”. Inocêncio IV encarregou o frade Giovanni da Pian del Carpine, um experiente franciscano, da chefia de sua comitiva. A ele se juntou o também franciscano Benedito da Polônia (Benedictus Polonus), que atuaria como intérprete. Aliás este Polunus era oriundo de Breslau (Vratislava), cidade polonesa que assim como a Liegnitz alemã foi atacada pelos mongóis em 1241.
A viagem liderada por Carpine exigiu muitos sacrifícios... A comitiva deixou Lion, onde Inocêncio IV estava instalado, na Páscoa de 1245. No percurso planejado, percorreu longo trajeto geográfico que incluía três rios (Dnieper, Don e Volga). Um ano e três meses depois, os enviados pelo papa chegaram ao Sira Orda (Pavilhão Amarelo, “residência oficial do khan supremo da Mongólia”) no dia 26 de julho de 1246. Carpine e seus liderados estavam famintos e esgotados.
Logo de início, grande decepção tomou conta dos recém-chegados... O khan Okkodai havia morrido. Por isso tiveram de esperar que se resolvesse a eleição do filho mais velho do soberano, Kuyrek Okkodai, que recebeu Carpine apenas em novembro. Por fim, o franciscano teve de amargar a arrogância do novo khan que não só o desprezou como desprezou a causa católica e o despediu com uma carta ao papa. A missiva seguia com traduções para o árabe e para o latim.
(...)
A iniciativa de Inocêncio IV demonstrou o quanto foi “inocente” em suas pretensões com os mongóis.
Tinhorão destaca que pelo menos o retorno do frei Carpine à França (junho de 1247) resultou em uma bela produção que antecipou “em meio século o famoso livro de viagens de Marco Polo”. O religioso redigiu “um relatório que é quase um tratado” que ficou “conhecido sob três diferentes títulos em versões manuscritas em latim”: “Historia Mongolorum quos nos Tartaros appelamus”; “Liber Tartarorum”; “Tartarorum”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas