Sem dúvida, saber que o personagem guerreiro e avassalador nos combates da Tartária era o temível Gêngis Khan e não o cristão Preste João, deixou os cristãos do Ocidente frustrados. Apesar disso, durante o século XIII, eles nunca deixaram de ter esperança de obter uma aliança com forças do Oriente para enfrentar o Islamismo. Como vimos, em relação à Ásia Central, essa possibilidade era alimentada pela presença dos nestorianos.

Gêngis Khan não lutou apenas contra os muçulmanos que já se espalhavam pela Pérsia, Afeganistão e Turquestão, fez guerra também aos budistas que viviam na China. O guerreiro mongol morreu e não conseguiu conquistar o grande país do Oriente.
Depois de decepcionados por saberem que Gêngis Khan nada tinha de parentesco com o Preste João (afinal não era o David tão falado em 1221), os cristãos europeus investiram sua esperança na pessoa de um de seus netos, Ugalu, que era casado com uma princesa cristã e que, por isso, se dispunha a lutar contra os “infiéis” e a marchar rumo à Terra Santa com o intento de libertar o Santo Sepulcro. Talvez (ainda) por conta das iniciativas dos nestorianos da Ásia, o papa continuava a receber mensagens que reforçavam a possibilidade de uma aliança com cristãos mais afastados da Europa.
(...)
Em 1245, o papa Inocêncio
IV resolveu enviar uma comitiva ao chefe tártaro Okkodai (também conhecido por
Ogadai)... Acontece que quatro anos antes, os mongóis haviam realizado uma
invasão à Alemanha que resultara em fracasso (foram derrotados na batalha de
Wahlstatt-Liegnitz em abril de 1241). Aparentemente, a missão dos
representantes da Igreja de Roma era manifestar protesto à iniciativa mongol
contra territórios cristãos... Mas tudo indica que o maior interesse do papa
era abrir um canal de negociação para a tão sonhada aliança de enfrentamento
aos “infiéis” muçulmanos.
Diz-se que então ocorreu a
“primeira missão oficial da Igreja Católica em terras mongóis”. Inocêncio IV
encarregou o frade Giovanni da Pian del Carpine, um experiente franciscano, da
chefia de sua comitiva. A ele se juntou o também franciscano Benedito da
Polônia (Benedictus Polonus), que atuaria como intérprete. Aliás este Polunus
era oriundo de Breslau (Vratislava), cidade polonesa que assim como a Liegnitz
alemã foi atacada pelos mongóis em 1241.
A viagem liderada por
Carpine exigiu muitos sacrifícios... A comitiva deixou Lion, onde Inocêncio IV
estava instalado, na Páscoa de 1245. No percurso planejado, percorreu longo
trajeto geográfico que incluía três rios (Dnieper, Don e Volga). Um ano e três
meses depois, os enviados pelo papa chegaram ao Sira Orda (Pavilhão Amarelo,
“residência oficial do khan supremo da Mongólia”) no dia 26 de julho de 1246.
Carpine e seus liderados estavam famintos e esgotados.
Logo de início, grande
decepção tomou conta dos recém-chegados... O khan Okkodai havia morrido. Por
isso tiveram de esperar que se resolvesse a eleição do filho mais velho do
soberano, Kuyrek Okkodai, que recebeu Carpine apenas em novembro. Por fim, o
franciscano teve de amargar a arrogância do novo khan que não só o desprezou
como desprezou a causa católica e o despediu com uma carta ao papa. A missiva
seguia com traduções para o árabe e para o latim.
(...)
A iniciativa de Inocêncio IV demonstrou o quanto foi “inocente” em suas
pretensões com os mongóis.
Tinhorão
destaca que pelo menos o retorno do frei Carpine à França (junho de 1247)
resultou em uma bela produção que antecipou “em meio século o famoso livro de
viagens de Marco Polo”. O religioso redigiu “um relatório que é quase um
tratado” que ficou “conhecido sob três diferentes títulos em versões manuscritas
em latim”: “Historia Mongolorum quos nos Tartaros appelamus”; “Liber
Tartarorum”; “Tartarorum”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_93.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto