sexta-feira, 22 de maio de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – informações históricas alimentando o mito do Preste João; também D. Henrique esperava firmar aliança com um reino que pudesse levar a cristandade à vitória sobre os “infiéis”; um pouco sobre o Nestorianismo; expansão do Nestorianismo pela Ásia a partir de registros de Tinhorão

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_21.html antes de ler esta postagem:

O Infante D. Henrique passou a crer na existência de um rei cristão em terras africanas. Animou-se com a ideia de avançar pela costa do continente admitindo que poderia contar com a aliança das tropas do Preste João.
Vimos que o Infante tomou conhecimento desse Preste João a partir das leituras do que podemos chamar de “livro de maravilhas do Oriente”, no qual se narravam as viagens de Marco Polo. Muitos europeus acreditavam na existência do reino exemplar... As narrativas eram muito antigas, e podemos imaginar que mesmo os mais simples camponeses alimentavam a crença em um rei distante, cristão, justo e capaz de derrotar os temidos “infiéis”.
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Tinhorão destaca algumas páginas de seu livro numa parte intitulada “A busca de um aliado cristão no Oriente” para tratar das origens do mito do Preste João. Suas explicações são precisas e embasadas em fontes muito interessantes. Evidentemente não podemos reproduzir com precisão suas informações. A nós interessa apresentar uma síntese que dê conta de suscitar a curiosidade pela leitura de “Rei do Congo”.
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Durante o século XV, os portugueses ficaram muito empolgados com a possibilidade de chegarem à localização do reino do Preste João. Se isso ocorresse, poderiam firmar uma aliança para derrotar os árabes pela sua retaguarda. Apesar de utópico, temos que considerar que episódios históricos (da Antiguidade e do Período Medieval) alimentaram as mentalidades em torno da fantasia.
Tinhorão lembra que o Cristianismo teve entre os seus primeiros seguidores a gente mais simples. Mas a partir do século II a doutrina atraiu um contingente mais culto... Os ensinamentos desde os Evangelhos passaram a embasar uma “doutrina ou sistema de deveres morais com caráter de religião”.
Não demorou para que novas interpretações surgissem. Elas fugiam da ortodoxia e apresentavam-se contraditórias em relação à doutrina inicialmente formulada pela Igreja que surgiu, logo foram classificadas como heresias, pois foram entendidas como “releituras discordantes dos textos sagrados”.
Uma das mais significativas foi o Nestorianismo. Sem entrar em detalhes sobre essa heresia, o autor prossegue relatando a respeito do expansionismo alcançado por ela e tece outras considerações, principalmente no que concerne às origens do reino cristão do Preste João.
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Em relação ao Nestorianismo, vale destacar que Nestório foi patriarca de Constantinopla durante o século V. A polêmica que causou se refere ao seu entendimento sobre as “naturezas de Cristo”. Ele entendia que Jesus possuía uma natureza divina e outra humana. Pelo menos no início, o ponto mais sensível de sua doutrina (que é o Nestorianismo) foi negar à Virgem Maria a condição de “Mãe de Deus”. Cirilo de Alexandria foi um de seus principais adversários. O Concílio de Éfeso (ano 431) tratou desses assuntos e condenou o Nestorianismo por heresia.
Nesse mesmo ano Nestório deixou o patriarcado de Constantinopla. Vinte anos depois ocorreu o Concílio de Calcedônia, que selou o cisma. De modo simplificado, podemos dizer que várias comunidades religiosas do Oriente permaneceram fiéis ao Nestorianismo e se desvincularam da Igreja Ortodoxa.

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A respeito da expansão do Nestorianismo pelo Oriente, os registros de Tinhorão nos dão uma ideia precisa. A doutrina se espalhou desde a Europa e atingiu longínquos territórios da Ásia, tendo passado pela Antioquia da Síria (na atual Turquia; dominada pelo Império Romano) que, durante o século III, contava meio milhão de habitantes.
Ainda de acordo com os registros de “Rei do Congo”, o Nestorianismo se expandiu em vasta região “de Antioquia da Síria a Bagdá” e mais além:

                   “às montanhas do Curdistão, a Armênia, ao Irã, a Herat (Afeganistão), ao Uzbequistão e Samaranda, na Rússia asiática, ao Baluquistão (quase fronteira da Índia), a Kashgar, no Turquistão chinês, e a Kambaluk (Pequim) e, finalmente, a Kaliana e Krangahore, na Índia”.

Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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