domingo, 31 de maio de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – viagens e relatos de Marco Polo contribuíram para o crescimento do mito do Preste João; um pouco a respeito de sua longa e duradoura viagem pelo Oriente e referências ao Preste João; relato no cárcere a respeito dos nômades da Tartária e seu virtuoso chefe militar; as “Índias” e a confusão sobre a localização do lendário império; o continente africano começa a surgir nos debates

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_93.html antes de ler esta postagem:

Por um bom tempo os europeus mantiveram acesa a esperança de encontrarem o Preste João em terras orientais. A cada ano que passava, a fama de seu poder e maravilhas de seu reino aumentavam... Mas bem aos poucos a ideia que tinham de alcançá-lo na Ásia foi alterada para o continente africano.
As viagens de Marco Polo durante o século XIII contribuíram para ainda mais fomentar o mito.
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O veneziano Marco Polo foi integrado ao grupo de familiares que empreendeu longa viagem de comércio ao Oriente. Seu avô Andrea Polo, o pai Nicola e o tio Maffeo eram experientes mercadores e já haviam alcançado Cathay (China) em outras ocasiões.
Partiram de Acre (Palestina) em 1271, quando Marco Polo contava 17 ou 18 anos de idade. Seguiram na direção de Ormuz (Golfo Pérsico) e logo após se encaminharam para o planalto de Pamir (Pérsia)... Avançaram para o Turquestão e o deserto de Gobi rumo a Tangut, extremo norte chinês, onde chegaram quatro anos após o início da viagem.
A boa recepção do Gran Khan chinês valeu a Marco Polo uma colocação a serviço do governo local. Foi assim que ele pôde conhecer muitas outras paragens: Shansi, Shensi e Szechuen “até os limites do Tibete, além de Yunan, já na fronteira com Burma, hoje Birmânia”.
No início de sua jornada, Marco Polo conheceu a “região do lago Baikal e de Karakorum”, os turcos mongóis locais e seu virtuoso chefe militar... Os registros das memórias de Polo nos dão conta de que o rapaz julgou que aquele se tratava do Preste João, “conhecido em todo o mundo”.
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Em 1295, Marco Polo estava de volta a Veneza... Após ter participado de um confronto naval com os genoveses, acabou preso três anos depois. Em fins de 1298 ditou ao seu companheiro de cela da prisão, Rusticiano de Rustichelo, suas aventuras e desventuras... Em breve trecho sobre “os confins da Tartária e seus habitantes nômades”, relatou:

                   “Não tinham chefes, mas prestavam vassalagem a um grande senhor que na sua linguagem designavam por Uang-Khan, a que nó chamamos Preste João, falado em todo o mundo”.

A respeito dos relatos do cárcere de Marco Polo que fazem referência ao Preste João, vale destacar nota do livro na qual conferimos que as citações sobre “um chefe cristão para os lados da Ásia” em sua “Descrição do Mundo” embasavam-se em suas observações de viajante, em narrativas coletadas pelos locais onde esteve, e ainda em papéis que recebeu do pai enquanto esteve na prisão. A verdade é que Marco Polo conferiu caráter de “história” a muitas “lendas” que ouviu em suas andanças...
As referências ao Preste João, “Johannes Presbyter, Armenio et indorum imperador”, situavam o domínio de seu império em toda região conhecida genericamente por “Índias”. Todavia a questão de sua localização persistia porque por “Índias” entendia-se não apenas a Tartária ou Tibete, mas também a Malásia, a própria Índia e a África Oriental (Etiópia até Sofala).
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Sem dúvida a constante referência a um reino do Preste João situado no Oriente se explicava pelo fato de, até o final do século XIII, os mongóis terem sinalizado intenções de firmar aliança com os cristãos europeus para o combate aos árabes nas terras sagradas do Cristianismo. Evidências dessa movimentação foram o batismo de mongóis encaminhados a Hugalu, soberano da Pérsia (1274), e quando Arghum, chefe persa, enviou “um religioso nestoriano a Roma para saudar o recém-eleito papa Nicolau IV”.
Mas não há como negar que o conhecimento histórico que se acumulava, bem como a evolução percebida nas técnicas cartográficas, deslocavam o Preste João e seu mítico reino para as terras africanas.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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