sábado, 16 de fevereiro de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – o Comissário discute com o André e diz-lhe umas verdades; o dirigente passa por cima de sua autoridade e concede regalias ao guerrilheiro Verdade; um retorno apressado

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/02/mayombe-de-pepetela-do-interesse-das.html antes de ler esta postagem:

Estamos no ponto em que André deixou o Comissário Político ainda mais irritado... Ele se atrasou para o encontro, trouxe bem poucos mantimentos e disse que havia destacado três homens para fazer o transporte.
O Comissário esbravejou contra o cinismo do dirigente e pensou que o envio dos homens para reconhecerem a Base não tinha propósito, ainda mais porque o falastrão jamais visitara a clareira do Mayombe.
(...)
O tipo quis saber se o Comissário havia jantado... O guerrilheiro deixou clara a sua aversão à ideia de jantar com ele e disse que devia preparar o retorno para a Base...
André ia dizendo que no dia seguinte conseguiria comida para quinze dias, todavia o Comissário insistiu que precisavam tratar dos outros assuntos naquele momento mesmo, já que pretendia partir o mais rápido possível.
Nada mais o convencia, nem mesmo a promessa de mais alimentos. Desejava apenas retornar ao convívio dos companheiros da Base. A permanência em Dolisie só contribuía para o esfacelamento do seu moral.
Então deixou claro que não jantaria. Garantiu que a refeição do almoço lhe fora mais que suficiente. Deviam conversar imediatamente para encerrar de uma vez por todas a tarefa a que fora designado.
Suas palavras foram proferidas em tom agressivo, e isso fez o André compreender que não teria como segurá-lo por mais tempo em Dolisie.
(...)
A conversa durou uns dez minutos...
André aceitou praticamente todas as decisões que o comando já havia deliberado. O único senão foi a impossibilidade de providenciar um substituto para Pangu-A-Kitina, pois em Dolisie não havia outro enfermeiro, sendo assim o caso seria resolvido pelos dirigentes em Brazzaville.
Depois André insistiu mais uma vez que jantassem juntos. Novamente o Comissário deixou claro que seguiria para a Base, pois não parava de pensar que os camaradas nada tinham para comer além das “comunas”.
Antes de sair, ele agradeceu pelos 500 francos e assegurou que com aquele dinheiro compraria mais alguns mantimentos para levar aos companheiros.
Evidentemente toda essa situação serviu para que a relação dos dois se estremecesse ainda mais. O Comissário se retirou com a certeza de que tinha feito “mais um inimigo”.
(...)
No momento mesmo de partirem de volta para a Base, por volta das quatro da madrugada, o Comissário notou que o Verdade não se juntara ao grupo. Perguntou e ouviu que o rapaz não retornaria porque havia recebido autorização especial do “camarada André”.
Mais uma vez o Comissário se encheu de fúria... Ele havia decidido retornar imediatamente para dar o bom exemplo e mostrar que não deviam “abusar” dessas ocasiões enquanto os companheiros de armas passavam necessidades... Mas o outro abusava do seu prestígio e poder! Teve vontade de ir atrás do André e esbofeteá-lo.
Por fim ordenou a partida.
(...)
Os cinco homens percorreram de modo acelerado a mata escurecida. O Comissário queria se distanciar o mais que podia, e tanto acelerou nas passadas que o grupamento fez em cinco horas e meia o percurso que normalmente fariam em oito horas.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas