O Comissário Politico conversava com sua noiva a respeito do camarada André, o dirigente do movimento em Dolisie. Como informamos anteriormente, ele deu prosseguimento às suas críticas.
Disse que o tipo era apoiado pelas mulheres, que o tinham em boa consideração e o achavam atraente. O Comissário destacou que ele se passava por mais instruído do que de fato era, e que as que não possuíam consciência política o valorizavam porque viam acima de tudo o cargo de relevância que ocupava.
Ondina salientou que não eram apenas as despolitizadas, mas todas as mulheres cultivavam certa consideração pelo André. Na sequência, a moça colocou fim no assunto e quis saber do combate mais recente que os camaradas da Base tinham travado.
(...)
O Comissário falou-lhe da missão na área de exploração
da madeira. Contou a respeito do lamentável episódio do Ingratidão do Tuga e sobre
da discussão do comando. Ondina ouviu com atenção e comentou que Sem Medo
estava com a razão ao ter discordado com a indicação de fuzilamento do traidor
(que aliás havia sido defendida pelo Comissário Político)... Disse isso e
lembrou que ele tinha o Comissário em alta consideração.
Neste
ponto da conversa, o casal se pôs a pensar no comandante... O Comissário se
angustiou ao lembrar que devia anunciar a sua nova ida a Dolisie. Na parte da
manhã dissera à Ondina que ficaria por alguns dias...
Ondina interrompeu o silêncio ao perguntar-lhe o
motivo de tanta seriedade... Depois de certa relutância, o Comissário confessou
que teria novo encontro com o André... Ela iniciou um protesto, mas ele se
antecipou a confessar que não se tratava exatamente de uma exigência do
responsável pelo escritório político... O caso era que ele mesmo entendia que
não tinha mais nada a fazer longe da Base.
A
moça tornou-se desolada. O Comissário observou-a em toda a sua sensualidade.
Internamente dividia-se entre o desejo de permanecer ao seu lado e a
necessidade de resolver de uma vez por todas as demandas políticas que trazia
da Base.
(...)
Ele
se aproximou e a afagou...
Ela
quis saber quando teriam um tempo juntos. Tudo o que o Comissário pôde
responder foi que retornaria o quanto antes.
Tanto afago recebeu que, apesar da irritação, a moça se
excitou e se entregou ao companheiro mais uma vez. Este não conseguiu relaxar e
tampouco transmitiu o calor do desejo à parceira.
É que ele não deixou de pensar no adiantado da hora e no
compromisso que impusera a si mesmo, o de encontrar o André no início da noite.
Logo Ondina perdeu todo interesse na relação. O confuso
noivo a tomou abruptamente e sem perder tempo consumou o ato.
Enquanto
voltavam para a escola, Ondina sentiu o ventre dolorido, mas não disse nada
para não provocar nenhuma discussão. Ela entendia que um guerrilheiro que retorna
ao campo de conflito não merece uma despedida amarga.
(...)
De volta ao escritório político em Dolisie, o Comissário
ainda teve de esperar até às oito horas da noite.
O tipo trouxera alguns mantimentos no jipe: “dez
quilos de fubá e outros tantos de arroz e um pouco de peixe seco”. Ele foi
justificando que aquilo era tudo o que havia conseguido e que indicara três
homens para levar a carga à Base. O que podia fazer se não havia dinheiro?
Graças a um congolês pôde providenciar aquela provisão. Depois prometeu que no
dia seguinte sairia em busca de novas contribuições.
O Comissário não escondeu sua indignação e vociferou que para
o transporte daquela ínfima carga não precisava deslocar três homens. Além do
mais, destacou, aqueles poucos alimentos não sustentariam a Base nem por dois
dias.
André
quis contemporizar e insistiu que achava bom que os militantes visitassem o
palco de conflito armado...
Então o Comissário pensou nervosamente no fato de aquele
dirigente fujão e falastrão jamais ter pisado na clareira do Mayombe.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto