domingo, 17 de fevereiro de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – de volta à Base; a narrativa do Comissário rende gracejos e ironias; uma conversa sobre o relacionamento com Ondina; Sem Medo e suas reflexões sobre o casal

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/02/mayombe-de-pepetela-o-comissario.html antes de ler esta postagem:

Sem Medo achou graça e riu-se a valer do Comissário Político e do modo como este contou o que passara em Dolisie. O Chefe de Operações também sorriu do acanhamento expresso na fisionomia do companheiro.
O comandante o comparou aos que querem se mostrar mais “papistas” do que o próprio papa... Disse que ele tinha todo o direito de permanecer mais uns dias na cidade, ainda mais porque sequer haviam tarefa importante a cumprir na Base... Lembrou-lhe que, pelo visto, quisera se comportar a partir de uma “ideia superior” sobre si mesmo.
Quanto ao recebimento de novas provisões prometidas pelo André, Sem Medo deixou claro que não tinha ilusões. Se as quisessem teriam de buscá-las... Destacou que se não fossem as “comunas”, de fato, morreriam de fome.
O Chefe de Operações aproveitou a ocasião para tecer palavras que atingiam o moral do Comissário. Disse que tinha conseguido caçar uma cabra selvagem e graças a isso havia carne para mais alguns dias. Emendou que se o camarada tivesse trazido mais óleo e sal, se alimentariam melhor.
Sem Medo notou o tom provocativo do outro e ironizou ao dizer que podiam nomeá-lo “caçador oficial da Base”. Na sequência, voltou-se para o Comissário e quis saber como tinha ficado o caso do Ingratidão do Tuga.
Em resposta, o Comissário explicou que o André havia concordado com as decisões do comando e que iria “tomar precauções especiais” enquanto a pena fosse cumprida na cadeia de Dolisie.
(...)
O Comissário dirigiu-se para o rio, pois necessitava de banhar-se... Sem Medo o acompanhou e fez guarda. Depois o camarada acomodou-se num capim banhado por parca claridade do sol... O comandante o acompanhou e tratou de levar-lhe a camisa esquecida à margem.
A solicitude de Sem Medo fez o Comissário relevar o gracejo que ele fizera de sua narrativa cheia de pequenos desastres em Dolisie. Então, de repente, pôs-se a falar de sua relação com a Ondina. Disse que não estavam bem... Sem Medo começou a fumar e a ouvir com atenção o que o outro tinha a desabafar.
Percebemos que o Comissário não tinha ideia de como prosseguir a conversa... Sem Medo decidiu perguntar se era sexualmente que o casal não vinha se dando bem.
O Comissário estranhou a pergunta e fez questão de dizer que no começo tiveram problemas, mas tudo se normalizara com o tempo.
Sem Medo prestava atenção também a um par de macacos. Pensou que estavam em tempos de acasalamento e que a distância favorecia o tiro certeiro. Mas decidiu “não desfazer o casal”.
Voltando a falar a respeito da relação do Comissário com a noiva, disse que não conseguia vê-los formar uma unidade quando estavam juntos. O que faltava para a “simbiose”? Em sua opinião, os dois ainda não haviam se fundido como era comum ocorrer aos amantes... Além disso, pareciam estar em duelo permanente. E os dois, cada um à sua maneira, pareciam usar os que os cercavam como motivos de seus entreveros.
O comandante salientou que talvez a questão se resumisse ao amadurecimento de ambos... Era necessário um permitir-se ao outro. Admitiu que conhecia pouco a Ondina e por isso não podia avançar muito mais em sua análise.
Em seus pensamentos, Sem Medo calculou que a solução, neste caso, seria dormir com ela... Para ele, algumas mulheres não se permitiam conhecer no contato diário, e eram essas que só se revelam na proximidade mais íntima. Só assim se descobrem suas fragilidades, como se abrem e se defendem, em que situações sentem prazer e quais eram seus rancores...
Logicamente não disse nada disso ao camarada. O próprio Comissário lhe dissera uma vez que ela já tivera muitos relacionamentos desde que fora deflorada quando contava quinze anos.
Para Sem Medo, aos vinte e dois anos, Ondina possuía a maturidade das mulheres vividas... Perto dela, o Comissário que tinha vinte e cinco anos não passava de um adolescente.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/02/mayombe-de-pepetela-sem-medo-explica.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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