quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – depois da discussão entre Sem Medo e o Comissário Político, vários guerrilheiros se reuniram na cabana de Kiluanje; kimbundos e kikongos trocam ofensas enquanto o Teoria tenta apaziguar; Milagre e Pangu-A-Kitina eram os mais radicais; Ekuikui mostra-se avesso à intolerância

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/02/mayombe-de-pepetela-as-ultimas.html antes de ler esta postagem:

Teoria dirigiu-se à cabana do guerrilheiro Kiluanje, que era um chefe de grupo. O ambiente estava cheio de camaradas que participavam de uma ríspida conversa sobre o que tinham presenciado. Entre os presentes botavam-se Milagre, Pangu-A-Kitina, Ekuikui e o jovem Vewê, pivô da discussão entre Sem Medo e o Comissário Político.
O líder Kiluanje falava nervosamente contra a atitude de Sem Medo. Sua crítica era contra o tratamento dispensado ao Vewê que, antes de ser um seu parente, era guerrilheiro como qualquer outro.
Pangu-A-Kitina falou em defesa do comandante. Disse que exatamente por serem primos, o chefe tinha o poder de até mesmo bater no rapaz... Depois ainda reclamou de Kiluanje que, em sua opinião, não tinha o direito de criticar.
Milagre observou que o Comissário Político havia se zangado como raramente ocorria... Em sua opinião, isso só aconteceu porque Sem Medo estava errado. Todos ali sabiam que o Comissário jamais se zangava sem razão. No mesmo instante, Pangu quis saber se o Comissário nunca cometia erros. Milagre respondeu que a questão não era essa, então provocou o outro dizendo que só porque ele era kikongo se dispunha a defender as atitudes de Sem Medo.
Pangu-A-Kitina devolveu o ataque no mesmo tom e disse que os que o acusavam assim o faziam por serem kimbundos. Neste momento, Teoria percebeu que a discussão se tornara tribalista e estava ficando séria demais, então gritou que era preciso pararem. Aconteceu, porém, que nenhum dos camaradas deu-lhe a menor atenção.
Milagre passou a dizer que Sem Medo já teria morrido se estivesse nos Dembos (tribos do norte de angola). Pangu protestou dizendo que era assim mesmo que aquela gente procedia, e fez referência a episódios de 1961, marcados por conflitos que resultaram no massacre de umbundos e assimilados. Na sequência emendou que ainda haveria vingança.
Teoria estava preocupado com os ânimos acirrados e com a atmosfera de intolerância. Por isso colocou-se entre os mais agitados e gritou para colocarem fim às ofensas. Milagre proferiu ataques aos kikongos e disse que eles estavam dominando a UPA (União dos Povos de Angola) e que pretendiam se tornar majoritários no movimento guerrilheiro, mas não passavam de sabotadores a serviço dos imperialistas tugas. O chefe Kiluanje o apoiou, porém pediu para ele deixar de falar porque as desavenças se resolveriam de outra forma.
Pangu-A-Kitina percebeu a provocação e perguntou de que modo, então, tudo se resolveria... Os homens estavam exaltados e faltava pouco para se enroscarem numa luta aberta. Mais uma vez o Teoria interveio e dessa feita ameaçou chamar o Comissário Político. Milagre esbravejou que o camarada professor não havia sido convidado para a discussão e, assim sendo, o melhor que tinha a fazer era se calar. O chefe Kiluanje se pronunciou de acordo.
Teoria quis contemporizar... Perguntou se eles conheciam a dimensão da gravidade do que estavam dizendo. Ekuikui, que era seu companheiro de alojamento, o interrompeu garantindo que não só sabiam como sentiam sinceramente o que diziam... Uns manifestavam o ódio que nutriam pelas origens tribais dos outros. O rapaz disse ainda que não concordava nem com o chefe Kiluanje nem com Milagre ou Pangu-A-Kitina e exatamente por isso iria se retirar para dormir.
O professor implorou para que o camarada permanecesse... Depois de segurá-lo pelo braço, disse que tinham o dever de colocar fim à discussão. Ekuikui explicou que não tinham de se intrometer em discussões daquele tipo. Neste momento, Kiluanje falou mais alto perguntando quem entre eles estava a fazer “discussão tribal”.
Ekuikui deixou escapar um sorriso e em tom de ironia disse que devia ter entendido mal quando ouviu falar de kimbundos e kikongos... Se não haviam falado, então não tinha mesmo de se intrometer.
O chefe Kiluanje respondeu que não era porque falavam das tribos que a discussão era tribal. Teoria se espantou e disse ao Pangu que o melhor que tinha a fazer era se retirar em sua companhia. Mas este respondeu que não tinha motivos para se sair e que estava muito bem. Vewê resolveu dizer que a conversa não lhe interessava e que por isso mesmo se retiraria.
Foi isso mesmo que o jovem fez.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/02/mayombe-de-pepetela-o-problema-do.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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