quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – a escola onde Ondina trabalhava ficava junto a um hospital que socorria feridos do movimento; de desencontros e agressividade da noiva; o Comissário se revela emocionalmente inseguro

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/02/mayombe-de-pepetela-fim-da-narrativa.html antes de ler esta postagem:

O Comissário seguia para a escola onde sua noiva Ondina trabalhava...
Estava muito irritado por não encontrar o André, que era o responsável político e principal contato dos guerrilheiros com os civis simpatizantes da causa. Sabia que tinha de providenciar os alimentos o quanto antes... Além disso tinha de tratar a respeito da decisão do Comando e do regime de prisão de Ingratidão do Tuga.
(...)
A escola se situava num local isolado, onde construíram também um hospital... Árvores escondia o complexo.
O Comissário cumprimentou os que viu e perguntou pelo André. Ninguém lhe dava notícia do tipo.
Como as crianças estavam em aula, decidiu aguardar o fim das atividades... Mas aconteceu que Ondina surgiu diante dele de repente, pois ficou sabendo que ele havia chegado.
Logo que se viram, a moça tratou de dizer que desde a véspera corria a notícia da chegada da comitiva da Base. O Comissário explicou que estava à procura do responsável André, mas até o momento não o encontrara. Disse isso enquanto tentava pegar as mãos da noiva.
Ela se esquivou... Ele estranhou a reação e quis saber se estava acontecendo algo, pois todos ali sabiam que estavam noivos. Ondina respondeu que era melhor não demonstrarem afeição e que retornaria à sua sala de aulas... Depois voltariam a se falar normalmente e sugeriu que podiam almoçar juntos.
O Comissário Político (mais adiante conheceremos o seu verdadeiro nome) gostaria mesmo de passar um tempo a sós com a mulher, mas lamentou por saber que o horário de almoço era o momento mais adequado para correr atrás do André.
Ondina quis saber se ele, então, voltaria para Dolisie. Sem esconder o desapontamento, o Comissário respondeu que o caso era urgente porque não tinham comida na Base.
(...)
Sabemos que era isso mesmo! O Comissário estava ali por causa do Ingratidão do Tuga, entregue à cadeia, e para socorrer os camaradas da Base.
Ondina apenas se virou e retornou para a sala de aulas. Seu noivo permaneceu estático enquanto a observava. Ele teve vontade de chamá-la... Em vez disso, percorreu as salas do hospital para visitar os feridos. Sentiu a tristeza crescer no peito porque pensou que era o único culpado pela frieza da mulher.
(...)
O sino tocou e a criançada deixou os afazeres escolares.
Ondina saiu e logo foi abordada pelo Comissário. Os dois se dirigiram para o quarto que ela dividia com uma das meninas mais crescidas, uma certa Ivone.
De súbito, e agressivamente, Ondina quis saber por que ele não se retirara imediatamente para Dolisie... Em resposta, o guerrilheiro disse que poderia procurar o André por volta de uma hora da tarde.
A moça estava visivelmente irritada e sequer convidou-o a se sentar... Ele tomou a iniciativa e passou a dizer que esperava que ela compreendesse que sua estadia ali se devia a assuntos urgentes. Como que a se desculpar, falou que no dia anterior, depois de desistir da busca pelo André, pensou em visitá-la, mas a noite já avançava e ela bem sabia o quanto as pessoas se metiam a falar.
Ondina disparou que certamente ele preferira ir ao bar... Ainda com a postura dos que carregam arrependimentos, o Comissário explicou que estivera no bar por apenas meia hora. Ia dizer que tinha sido convidado por um camarada e que os que se embrenham por muito tempo na mata sentem falta de uma cerveja gelada... Quis dizer também que nem prestou atenção ao que o outro lhe dizia, porque queria apenas ir ao seu encontro... Mas nada disso falou porque se sentiu acanhado pela rispidez da companheira.
Ondina emendou que ficara sabendo que ele estivera a beber... O rapaz justificou dizendo que a chance de encontrar o André em algum bar era maior do que em qualquer outro local.
Ela ainda soltou uma provocação... Como ele poderia procurar o André em bares se o mesmo não os frequentava? De sua parte, o Comissário protestou dizendo que a vida do outro se passava exatamente nos bares.
Ondina parecia disposta a defender o dirigente... Então perguntou ao noivo se ele tinha algo contra a sua liderança, pois, ao que sabia, André não perambularia pelos bares se estivesse em seu lugar.
Isso pareceu a “gota d’água” que faltava para um desentendimento mais sério entre os dois... Mas, apesar de a provocação não ter passado despercebida, o Comissário Político sentenciou apenas que, pelo visto, ela não queria compreender a situação.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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