sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – insatisfações com as matérias dos jornais e a decisão de se afastar definitivamente dos embates políticos; Dubreuilh fala a respeito do encontro com Méricaud e Charlier, que insistiam num semanário para o movimento esquerdista

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Não falaram mais a respeito de Sézenac... Henri e Nadine abriram os jornais já que, pelo menos enquanto não partissem para a Itália, não podiam deixar de folhear.
As notícias e artigos davam conta do panorama político: investimentos norte-americanos na Europa; sucesso do RPF (partido fundado e dirigido por De Gaulle em 1947; “Reunião do Povo Francês”); o retorno em peso dos “colaboracionistas” à vida pública; críticas aos comunistas e à sua inabilidade; expectativas de guerra a partir da Alemanha...
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As matérias provocavam irritação em Henri... Seu único pensamento era o de não mais se importar com os jornais logo que se mudassem para Porto Venere...
Seu mau humor o levava a entender que o melhor que se tinha a fazer era aproveitar a vida despreocupadamente... Afinal de que adiantaria preocupar-se com eventos dos quais não temos nenhum poder de decisão? Obviamente este não era o ponto de vista de Dubreuilh, para quem a atuação política não deve terminar nunca.
Suas reflexões foram interrompidas pela observação de Nadine a respeito de um artigo que elogiava o livro de Volange... Henri comentou que o momento político era propício para os jornalistas “de direita”... Indignada com a matéria, Nadine sentenciou que “nem todos são idiotas” na direita.
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Afinal, o que se podia dizer a respeito da produção de Volange? Um livro medíocre... Os simpatizantes da situação só podiam aplaudir a sua iniciativa. O slogan “integrar o mal” sintetizava seu pensamento... Em poucas palavras, o mundo precisava de “redenção”... Isso seria proporcionado pela América e o Plano Marshall... Um “mundo mais justo” emergiria dos tempos sombrios.
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Nadine quis saber o que Henri esperava da ocasião em que o seu livro fosse lançado... Ele respondeu que não haveria surpresa... Artigos de Volange, Lenoir... Certamente o acusariam de não ter produzido uma obra à altura de “Guerra e Paz” ou de “Princesa de Clèves” (de Madame de La Fayette, segunda metade do século XVII; obra clássica da literatura francesa).
Também Mauvanes estava para publicar seu livro... Nadine quis saber para quando seria e Henri apostou que a encadernação seria lançada no fim de setembro... Ambos concordaram que por essa época já estariam de malas prontas para a Itália.
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A casa na Itália estivera ocupada por Pimienta, que decidira viver em Paris... Pelo visto os escritores que haviam se intrometido na política decidiam mudar de ares depois de se decepcionarem com ela... Henri lembrou que este era também o caso de Langstone (provavelmente James Langston Hughes, 1902-1967), que não tinha o menor desejo de retornar para os Estados Unidos.
Se dependesse da vontade de Henri, já estariam na Itália... Mas ele teve de concordar com Nadine... Aguardariam o retorno de Anne antes de partirem... Além do mais fariam companhia a Robert em Saint-Martin.
Ele pensava na situação quando Nadine proclamou que ela havia tido a feliz ideia de escolher a casa “à beira mar, entre rochedos e pinheiros”. Henri reconheceu e brincou que “às vezes ela tinha boas ideias”.
Nadine deu mamadeira à filha... Henri observou o quanto ela parecia se esforçar para realizar o papel de mãe. Parecia haver ternura em seus olhos. Todavia sua impressão cotidiana era a de que, até em relação à criança, ela permanecia “emparedada dentro de si mesma”.
Terminada a tarefa maternal, Nadine o convidou para entrarem mais uma vez na água.
(...)
De volta a casa, a preocupação era saber se Méricaud e Charlier ainda estavam presentes... Nadine conferiu que o pai estava sozinho no escritório... Anunciaram-se e ele pediu para que entrassem.
A pequena Maria estava dormindo... Enquanto Nadine a levou para o quarto, Henri permaneceu por um tempo conversando com o sogro.
Dubreuilh passou-lhe um papel que continha anotações e anunciou que certo Jean Patureau havia telefonado e solicitando que lhe retornasse a ligação com urgência... Este tipo era irmão de um advogado conhecido de Henri... Somos tentados a pensar em Truffaut, cujo cliente era Mercier (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de.html). Mas Dubreuilh acrescentou que o homem tinha informações transmitidas desde Madagascar... Sendo assim, só podia ser por causa dos artigos escritos por Henri no ano anterior.
Henri prometeu telefonar o quanto antes... Robert adiantou que provavelmente haveria material suficiente para ser publicado no próximo número de Vigilance... E emendou que Méricaud lhe adiantara outros detalhes a respeito dos julgamentos em Madagascar.
Henri quis saber como a visita transcorrera... Dubreuilh comentou algo sobre o envelhecimento que definhava Charlier, e acrescentou que o motivo do encontro era mesmo o semanário... Eles também lhe anunciaram que Manheim desejava negociar a respeito.
Manheim era filho de um banqueiro que morrera no exílio... Passara três anos em sanatório na Suíça e escreveu um livro “cheio de boas intenções”, mas fraco. O tipo estava decidido a organizar o periódico esquerdista e considerava que Robert era o homem certo para dirigi-lo.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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