É tempo de voltarmos a este “Os Mandarins”...
Pelo visto a página do romance com Lewis tinha de ser virada de uma vez por todas.
Estamos neste ponto em que Anne retornou para a França depois do conturbado verão nos Estados Unidos...
(...)
Desde o princípio, Henri desconfiava que a gravidez de
Nadine houvesse sido um arranjo para forçá-lo ao matrimônio.
Isso não seria necessário, pois ele estava disposto a se juntar a ela
independentemente da maternidade. Mas Nadine era assim mesmo, “precisava sempre
arrancar com violência aquilo que estavam dispostos a ceder-lhe de bom grado”.
Também temos de considerar que se ele lhe garantisse
que em nenhum momento deixara de ser livre, que nunca fora tolo naquela
história toda, Nadine entenderia que ele se decidira pela união por piedade...
Isso a deixaria profundamente magoada.
(...)
Agora Henri vivia com Nadine e a pequena Maria, a belezinha de cabelos
escuros e olhos azuis...
Instalaram-se na casa em Saint-Martin... Sabemos que isso era
provisório, já que a mudança para a Itália era certa para o casal.
O começo do Capítulo XI nos apresenta Henri produzindo texto para um
novo livro... Vemos que seu estado de espírito era dos melhores... A condição
de marido e pai devotado trazia-lhe satisfação. O ambiente em Saint-Martin e os
arranjos da jardinagem da casa também favoreciam.
(...)
Quinta-feira... Dia em que periódicos como L’Enclume e L’Espoir Magazine
(este havia se fundido ao Les Beaux Jours)
eram publicados.
Era quase meio-dia quando Nadine
apareceu à janela e brincou com o marido e sua aplicação que lembrava a dos
mais devotados acadêmicos (inclusive) em tempos de férias...
Um passeio à represa caía
muito bem... Principalmente porque Henri queria se livrar de Méricaud e
Charlier, os dois comunistas outrora ligados ao SRL, que certamente apareceriam para visitar Debruilh e criticá-lo por
causa do semanário.
(...)
Nadine dirigia o
automóvel, Henri paparicava Maria que viajava acomodada num cesto do tipo “Moisés”.
No caminho compraram vários jornais.
Depois, enquanto comiam os
lanches preparados por Nadine, Henri quis saber a respeito de uma história que
ela lhe dissera na última noite.
Vincent havia contado a Nadine a respeito de uma série
de ações suspeitas de Sézenac. Em síntese, ao tempo da ocupação ele dava o “golpe
da passagem da linha” e, com isso, permitiu que os alemães capturassem vários
judeus.
Henri queria saber os motivos... Ainda tinha em sua mente a ocasião em
que Chancel o apresentara como “melhor companheiro”... Nadine respondeu que
talvez ninguém soubesse, mas Sézenac já podia estar envolvido com drogas e
fazia o serviço sujo em troca de dinheiro. O tipo trabalhava para a polícia.
Vincent foi um dos que se revoltaram ao saberem...
(...)
Nadine dizia essas coisas enquanto Henri pensava que
era melhor que não encontrassem Sézenac... Ele sabia perfeitamente que o rapaz
podia trazer à tona o caso do depoimento mentiroso a respeito de Mercier (para
livrar Josette e Lucie Belhomme das acusações de colaboracionistas com os
nazistas – ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-para.html).
Henri lembrou que Robert havia lhe prometido, se isso fosse preciso,
jurar que conhecia o Mercier das “ações secretas”... Mas em seu íntimo torcia
para que nada daquilo fosse necessário. Seu objetivo era evitar que Josette
cometesse suicídio... A moça não praticou nenhuma loucura e havia se tornado “uma
estrelinha, de quem se falava muito”.
Jamais dissera nada a respeito dessa história a Nadine... Pelo visto não
tinha certeza de sua fidelidade em relação àquele delicado segredo.
(...)
Ela quis saber em que ele estava pensando...
Ele respondeu que pensava
em Sézenac...
Ela disse que o rapaz seria encontrado.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto