quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – início da décima primeira parte; Henri e Nadine vivem provisoriamente em Saint-Martim com a pequena Maria; revelações sobre as ações de Sézenac; Henri e seus temores sobre o “falso juramento” em defesa de Mercier

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_7.html antes de ler esta postagem:

É tempo de voltarmos a este “Os Mandarins”...
Pelo visto a página do romance com Lewis tinha de ser virada de uma vez por todas.
Estamos neste ponto em que Anne retornou para a França depois do conturbado verão nos Estados Unidos...


(...)

Desde o princípio, Henri desconfiava que a gravidez de Nadine houvesse sido um arranjo para forçá-lo ao matrimônio.
Isso não seria necessário, pois ele estava disposto a se juntar a ela independentemente da maternidade. Mas Nadine era assim mesmo, “precisava sempre arrancar com violência aquilo que estavam dispostos a ceder-lhe de bom grado”.
Também temos de considerar que se ele lhe garantisse que em nenhum momento deixara de ser livre, que nunca fora tolo naquela história toda, Nadine entenderia que ele se decidira pela união por piedade... Isso a deixaria profundamente magoada.
(...)
Agora Henri vivia com Nadine e a pequena Maria, a belezinha de cabelos escuros e olhos azuis...
Instalaram-se na casa em Saint-Martin... Sabemos que isso era provisório, já que a mudança para a Itália era certa para o casal.
O começo do Capítulo XI nos apresenta Henri produzindo texto para um novo livro... Vemos que seu estado de espírito era dos melhores... A condição de marido e pai devotado trazia-lhe satisfação. O ambiente em Saint-Martin e os arranjos da jardinagem da casa também favoreciam.

(...)

Quinta-feira... Dia em que periódicos como L’Enclume e L’Espoir Magazine (este havia se fundido ao Les Beaux Jours) eram publicados.
Era quase meio-dia quando Nadine apareceu à janela e brincou com o marido e sua aplicação que lembrava a dos mais devotados acadêmicos (inclusive) em tempos de férias...
Um passeio à represa caía muito bem... Principalmente porque Henri queria se livrar de Méricaud e Charlier, os dois comunistas outrora ligados ao SRL, que certamente apareceriam para visitar Debruilh e criticá-lo por causa do semanário.
(...)
Nadine dirigia o automóvel, Henri paparicava Maria que viajava acomodada num cesto do tipo “Moisés”. No caminho compraram vários jornais.
Tinham o lago todo para si... Instalaram Maria num canto seguro e caíram na água.
Depois, enquanto comiam os lanches preparados por Nadine, Henri quis saber a respeito de uma história que ela lhe dissera na última noite.
Vincent havia contado a Nadine a respeito de uma série de ações suspeitas de Sézenac. Em síntese, ao tempo da ocupação ele dava o “golpe da passagem da linha” e, com isso, permitiu que os alemães capturassem vários judeus.
Henri queria saber os motivos... Ainda tinha em sua mente a ocasião em que Chancel o apresentara como “melhor companheiro”... Nadine respondeu que talvez ninguém soubesse, mas Sézenac já podia estar envolvido com drogas e fazia o serviço sujo em troca de dinheiro. O tipo trabalhava para a polícia. Vincent foi um dos que se revoltaram ao saberem...
(...)
Nadine dizia essas coisas enquanto Henri pensava que era melhor que não encontrassem Sézenac... Ele sabia perfeitamente que o rapaz podia trazer à tona o caso do depoimento mentiroso a respeito de Mercier (para livrar Josette e Lucie Belhomme das acusações de colaboracionistas com os nazistas – ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-para.html).
Henri lembrou que Robert havia lhe prometido, se isso fosse preciso, jurar que conhecia o Mercier das “ações secretas”... Mas em seu íntimo torcia para que nada daquilo fosse necessário. Seu objetivo era evitar que Josette cometesse suicídio... A moça não praticou nenhuma loucura e havia se tornado “uma estrelinha, de quem se falava muito”.
Jamais dissera nada a respeito dessa história a Nadine... Pelo visto não tinha certeza de sua fidelidade em relação àquele delicado segredo.
(...)
Ela quis saber em que ele estava pensando...
Ele respondeu que pensava em Sézenac...
Ela disse que o rapaz seria encontrado.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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